quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Blog interrompido

Estou na casa de praia, sem computador. Ficarei sem postar por um tempo. Volto no final de janeiro. Beijos e bom ano.

domingo, 15 de novembro de 2009

Meu primeiro editorial

Escrevi meu primeiro editorial há 15 dias. Deixo aqui para vocês. O editorial é a parte do jornal que mostra a opinião do jornal. Neste texto, eu comento os pedidos dos moradores para os vereadores numa sessão especial da câmara, realizada na Lagoa da Conceição, onde moro desde que nasci. Para terça, tenho que escrever um editorial sobre segurança... lá vem bomba!

EDITORIAL

A sessão especial da Câmara na comunidade deixou evidente que, sim, a Lagoa quer concreto. Mas não o concreto que destroi as áreas verdes, que espreme as pessoas entre paredes e estradas, não o concreto que demarca os condomínios e divide o meu e o teu espaço. O concreto que a Lagoa precisa é o concreto das calçadas, que devolve a dignidade e o prazer de andar na rua, e o das áreas de lazer, para que as crianças possam se divertir em paz. O concreto que a Lagoa quer é esse que faz o esgoto correr para o lugar certo e salva os peixes da poluição. O pescador pede uma rampa para puxar embarcações; a professora, uma sala de aula.

Tanto quanto ciclovias e quadras de esporte, a Lagoa merece soluções concretas. Obras executadas dentro do prazo e do orçamento previsto, sem nenhum tipo de remendo. É intolerável ter que admitir a falta de planejamento que desrespeita a maioria e privilegia os mesmos. É urgente repensar o crescimento. Isso não significa ser contra o turismo, ou contra o comércio. Justo por depender tanto dessas atividades é que a Lagoa precisa de atenção extra no que se refere à mobilidade, à preservação e à segurança.

Através de seus representantes, várias entidades mostraram-se engajadas em defender a Mata Atlântica, o camarão e a asa Delta como patrimônios inafiançáveis. O que antes era questionado em manifestações isoladas, hoje se encontra num só documento. São 58 reivindicações que aguardam o empenho das autoridades, sem o qual nos restará apenas a traiçoeira desordem do progresso.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sem tempo

Faz muitos dias que não escrevo.

O motivo é o mesmo de sempre, a falta de tempo.

O esquisito é que continuo com tempo para perder tempo.

Para, só por curiosidade, pintar minhas unhas de azul

e descobrir que fica feio, para ler a notícia da moça expulsa

da faculdade por usar vestido curto, para ligar para

 o namorado e comentar que estou sem assunto.

Também entrei no orkut de gente morta,

refleti sobre a eternidade virtual e

procurei uma bichon frisé para cruzar com o meu cachorro.
 
Dizem que tempo é dinheiro, mas isso é desvalorizar o tempo.

Tempo é medida de vida, não tem como recuperar, só vai.

Eu posso gastar e ganhar dinheiro, mas ainda não inventaram

 quem me devolva as horas de hoje...

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Português do Brasil

Quantos idiomas existem dentro do Brasil? Quem já viajou para longe sabe que esta é uma pergunta difícil de responder. No país, todos falamos Português, mas isso não garante que seremos entendidos em todo o território nacional. Cada região possuiu uma enorme gama de expressões, sotaques e gírias que enriquecem a nossa cultura e tornam a nossa língua tão interessante.
O Brasil é marcado pela miscigenação e essa mistura influenciou nosso modo de falar. A vinda da família real para o Rio de Janeiro deixou como legado para os cariocas o R aberto e um S bem peculiar. No Rio Grande do Sul, a predominância espanhola fez com que o L mantivesse seu som característico, não sendo substituído pelo som de U, como acontece em Santa Catarina. O sotaque paranaense, por sua vez, conserva o som das vogais no final das palavras.
Já os regionalismos são as expressões são muito comuns em determinados lugares, mas que soam muito esquisito em outros. O tanso de Florianópolis é o abestalhado de Salvador. O moleque do Rio de Janeiro é o piá do Paraná e o guri do Rio Grande do Sul. O mó do paulista é o tri do gaúcho e assim por diante.
Do mesmo modo como a língua se altera conforme o espaço, o tempo também influencia nas transformações do idioma. O “cri-cri” de ontem é o mala de hoje. Supimpa era legal “à beça” nos anos 60. O “massa” da década de 90 foi substituído por “da hora” mas ninguém sabe ao certo até quando essas expressões vão se manter que “crista da onda”. Só me resta uma certeza: meus filhos vão achar cafona.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Recomendações úteis



Quando eu morrer, não me velem por uma noite inteira. Não deixem que a minha vida seja substituída por uma lembrança tão gelada. Apaguem a luz para afastar os insetos atraídos pela claridade. Não quero que eles pousem nas minhas bochechas imóveis e reforcem a certeza de que eu parti.

Peço que lavem e sequem meus cabelos. Nada me incomoda como um cabelo oleoso. Quero parecer limpa na última vez que me virem. Quero voltar para a terra de banho tomado.

Digam para as crianças que estiverem presentes que elas não precisam ter medo. Eu jamais voltaria para assustar alguém. Se elas acharem meu rosto diferente, respondam que o corpo fica assim meio pesado quando não tem mais ninguém dentro.

Comprem o caixão mais barato que tiver. Faço questão de que seja o menos resistente e impermeável possível. Não vejo propósito em guardar meus ossos. Se quiserem recordações, fiquem com as fotos.

De maneira nenhuma mexam nos meus arquivos e leiam as coisas que eu escrevi. Não abram meu e-mail, muito menos minhas gavetas. Seria deselegante aproveitar que eu não estou olhando para vasculhar meus segredos. Só peço, por favor, que deletem meu perfil. Não quero que os curiosos entrem nos meus álbuns para decidir se a moça morta era bonita ou feia.

Caso a minha morte seja noticiada, procurem uma foto decente. Sem condições de usar a da carteira de motorista. Já pareço uma assombração.

Se quiserem fazer uma missa, permitam que o padre fale bem pouquinho. O sotaque dos padres não tem muito a ver comigo. Leiam a oração de São Francisco. É o texto mais bonito que eu conheço.

Quando forem me enterrar, esqueçam as coroas de flores. Prefiro plantas com raízes. Considero fantástico o trabalho da natureza, do osso que vira cálcio, do corpo que volta para a terra e faz tudo voltar a crescer. Quero ser reciclada o mais rápido possível.

Por mais óbvio que seja, encarem a morte como inevitável. É só questão de tempo. Se estiverem muito inconformados, abram o jornal. Sempre tem algum caso terrível na seção de polícia.

No ano seguinte, aproveitem o feriado para viajar com a família. Nada de cemitérios congestionados e buquês de plástico.

Através do que eu disse, do jeito que eu ria, guardem-me na memória como uma lembrança acolchoada. Lembrem o tempo todo que eu sempre fui muito feliz. Abracem meus irmãos, consolem meus pais. Independente do que aconteça, minha vida foi um presente que eu adorei.

* Isto não é uma carta fúnebre. São apenas algumas recomendações úteis.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

...

Morte não tem cheiro de nada, só um gosto azedo de falta de fome.

terça-feira, 29 de setembro de 2009

Rodeios

Marçal Aquino escreveu

A noite prometia movimento. O estacionamentojá estava tomado por caminhões e pelos carros, dos quais desciam grupos de rapazes com as mãos nos bolsos e aquele ar confiante de quem vai se divertir muito na noite de sábado. Da rodovia, a pouca distância dali, chegavam os ruídos dos caminhões e ônibus trafegando em  velocidade.

Eu continuei:

    Sábado era o dia que eu mais esperava. Mas não pela festa, pela música ou pela euforia das meninas. Para falar a verdade, eu nem ligo para cavalos e detesto sertanejo. O que me faz deixar a minha namorada em casa para vir para esta festa lamacenta cheia de bêbados barbudos é justo o dinheiro desses bêbados barbudos. 
    Antes que vocês pensem errado eu esclareço: não sou gay. Sou até bem boa pinta. Clara, por exemplo, pensa que eu sou rico. Coitada. Ela ficou com essa impressão por causa da noite em que a gente se conheceu. Naquele dia, eu estava pagando tudo para todo mundo mesmo. A gente se encontrou na fila de comprar fichas. Ela tinha vindo com o pai e a mãe ver o primo, que é cowboy, se apresentar.Lembro que pedi 90 reais em ficha, dei para a moça uma nota de 100 e falei para ela ficar com o troco. Para quem trabalha na roça, como quase todo mundo aqui, dez reais é uma grana. Não sei se foi de mim ou do dinheiro, mas que Clara gostou, gostou.
    A parte que ela não sabe é que naquela noite eu tinha acabado de roubar uma carteira com 300 reais. Eu fiquei tão contente que resolvi comemorar com meus amigos. Falei que achei. Na hora, eu até senti algum remorso. Pensei que talvez o cara tivesse vendido a moto, ou esse dinheiro fosse para comprar uma serra, uma ceifadeira, mas... pensa comigo: se ele tivesse alguma boa intenção, ele ia trazer esse dinheiro pra festa? O que ele quer mesmo é gastar em mulher e bebida. Ou então é muito burro mesmo.... Daí não tem problema,né? Além do mais, todo mundo me tratou tão bem que eu meio que viciei na coisa.
    O procedimento é muito simples. Eu presto atenção em quem tá pior na fila das fichas. Depois, na hora de pegar a cerveja, eu roubo a carteira. Naquele empurra-empurra, ninguém percebe. O cara sai feliz com o copo cheio, e eu fico com o dinheiro dele. Todo mundo sai ganhando. Depois, quando o cara se dá conta e vai falar com o segurança, chega a ser constrangedor. O polícia nem dá bola. Dá para imaginar quantos bêbados perdem a carteira num rodeio?
    É tudo tão seguro que eu às vezes me odeio por nunca ter tido essa ideia antes. Geralmente eu pego uma coca, fico num canto e vejo quem tropeça mais. Depois das 3h da manhã, isso vira uma festa. Ninguém se aguenta em pé. Eu pego 5 , 6 carteiras e volto para casa, que é pra não dar bandeira.
    Hoje estou com sorte. São 2h20 e eu já roubei três. Deu 81 reais e dois cartão telefônico. Contei quando fui no banheiro. Estou conversando com uma guria que tá esperando a amiga comprar a ficha. Ela não se conforma quando digo que não bebo...
    De repente, sinto um braço se enroscar no meu pescoço. Peludo demais para ser de mulher. Ele me dá uma chave e eu só começo a entender no momento em que ele grita:
"Bem que me falaram que tu era um safado mesmo. A Clara lá em casa, rezando pela tua mãe doente e tu aqui com essas galinha..."
    É o primo Cowboy. Empurro ele para o chão. O pessoal se afasta, mas fica para assistir. A polícia chega para separar, mas estranha a quantidade de carteiras no chão. São três. Nenhuma com a minha identidade dentro.


* Texto escrito às 8h30 da manhã de hoje, como exercício de redação.
** Sei que está cheio de erros de concordância, a intenção era ser coloquial. 
*** Referência bibliográfica do primeiro trecho: AQUINO, Marçal. "Visita". In: Famílias terrívelmente felizes. São Paulo: CosacNaify,2003. 


quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Primeiros trabalhos

Acordei às sete. Virei para o lado. Peguei o lap top. Abri um texto de uma amiga que eu ia editar. Li vi que o assunto não tinha o glamour que precisava. Escrever sobre o que? digitei "Glamour" no google. Apareceu a palavra "exclusivo". Lembrei que meu irmao disse que os carros da Ferrari são feitos de acordo com o gosto, o peso e a altura do dono. É isso. Vou escrever sobre Ferraris.
Entrei na página. Preenchi o cadastro. Fiz o "tour virtual pela fábrica". Fiquei de cara. Muito mais legal do que eu pensava. Escrevi o texto convicta. Deu até vontade de ter uma Ferrari. Escrevi, li, reli. Enviei. Menos uma coisa para fazer hoje.
Meu irmão me mandou um texto sobre as hípicas em Brasília. Troquei umas frases de lugar, apaguei outras. Enviei de novo.
Abri um documento novo. A pior parte é a folha em branco. Pensei em tudo que eu sabia. Entrevistei quatro pessoas e não conseguia sair do segundo parágrafo. Resolvi que a realidade não é coerente. As informações que eu tinha eram soltas. Consegui encaixar tudo bonitinho para que ninguém tivesse nada a perguntar. Se eu fosse bem sincera, teria escrito: ninguém sabe de nada.
Liguei para as assessoras de imprensa, confirmei as informações, mandei e-mails com as dúvidas. Entrei na internet, conferi as datas dos protocolos. Escutei as gravações. Redigi o histórico do problema e saí do segundo parágrafo.
No final do texto comecei a ver que ainda teria muita coisa para contar. Não quero tirar nada. Divido o texto, faço um box. "O zoom da câmera de segurança era de quanto mesmo?". Não anotei. Droga. Ligo para o guarda municipal. Ele tb não sabe. Mas ele vai descobrir. Agradeço tão querida que ele deve ter achado que eu estava a fim dele. Ele não sabe quantos nãos eu recebo.
Recebo o e-mail das assessoras. Diz que eu entendi tudo errado. Escuto mais uma vez a gravação. Pelo menos não estou louca. Foi ele quem falou errado. O problema é se o cara falou errado a culpa é minha.
Descubro que eu odeio plágio. Quem copia dizendo que "se fosse escrever sairia quase a mesma coisa", é porque não escreve nada. Estou aqui faz três horas procurando os verbos certos e centenas de sinônimos. Falta vocabulário: monitoramento pode ser substituído por... NADA que eu me lembre! Olho o dicionário. Ele sempre resolve meus problemas.
Terminei. Reviso. Chamo a minha mãe para ler de novo. Ela diz que está ok. Mentira. Na hora que fui colocar o título vi que tinha escrito "Um parceria" em vez de "uma parceria" detalhe: o texto começava assim! Deu para corrigir. Ainda bem.
Escrevo mais uma nota sobre um poste que caiu. Mando todos os arquivos. Tenho que fazer uma entrevista amanhã de manhã.
Desço até a geladeira. Tomo uma Malzbeer. Acho que vou tentar publicidade.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Desordem natural das coisas

...
Hoje tenho menos tempo do que tinha antes,
mas tudo que eu perco me acrescenta um pouco.

sábado, 19 de setembro de 2009

O único que precisava

Por que que copo de avião não tem tampa?
Essa é para refletir...

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Poltronas Flutuantes

Existe um mistério escondido em cada poltrona de avião.

O adesivo colado no encosto diz que são flutuantes,

o desenho do cartão explicativo mostra uma moça

 boiando no mar abraçada em uma,

mas nunca vi nenhuma simulação de como desencaixá-las da cadeira.


Já perdi as contas de quantas vezes presenciei,

de frente e perfil, a performance (às vezes até constrangedora)

das aeromoças sobre máscaras de oxigênio

caindo automaticamente. Em compensação,

a explicação das poltronas flutuantes fica sempre restrita

a um único parágrafo:

"Em caso de pouso na água, seus assentos são flutuantes.

Retire-os e leve-os para fora da aeronave. "


Interessante o eufemismo: "pouso"?
 
Isso é o de menos.

O voo da Air France sumiu no oceano com 228 pessoas.

Nenhum assento foi encontrado.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Emoções diárias

Leio três jornais por dia. Não, não é por amor à leitura. Faço estágio em assessoria de imprensa, e isso inclui recortar diariamente todas as informações que tenham a ver com a empresa por três motivos principais:
a) Manter os responsáveis bem informados sobre o que está acontecendo na sua área de atuação;
b) Verificar se a estratégia comunicacional está funcionando;
c) Responder críticas e corrigir eventuais enganos nas informações.
Bem que eu gostaria que o nome da instituição viesse sublinhado em verde. Como isso não acontece, tenho que garimpar para ver o que foi publicado. Não consigo ler tudo. Leio os títulos e as linhas finas, depois passo o olho pelo texto procurando as siglas que me interessam. Às vezes minha atenção escapa. A vida real é muito emocionante. Para o bem e para o mal.

Desperdício
Santa Catarina tem 295 municípios. Desses, 105 têm menos de 5 mil habitantes. Na cidade de Santiago do Sul, por exemplo, são 1.443. E tem prefeito, prefeitura, secretarias mil, carro oficial, câmara de vereadores. Parabéns para quem acertou onde deve trabalhar mais da metade da população.

Desperdício II
Um deputado ganha um salário de R$14,5 mil por mês + R$45 mil de ajuda de custo + R$38 mil para gastar com assessores e pesquisas.

Desperdício III
a Câmara dos Deputados aprovou a emenda à Constituição que pretende criar 7.709 novas vagas de vereadores no Brasil, elevando tamanho das câmaras municipais em 14,8%. Santa Catarina passaria dos 2.963 para 3.250 vereadores, com as 287 novas vagas.


Existe limite para a dor?
Hoje uma menina de sete anos foi encontrada morta dentro de um micro-ondas antigo, que ficava na casinha de bonecas. Às dez da manhã, ela estava brincando com a irmazinha de 4. A mãe chamou para tomarem banho, mas só a menor apareceu. Começaram a procurar. O pai chamou os vizinhos e eles se dividiram para tentar encontrar a menina. Às duas da tarde, descobriram que ela dentro do micro-ondas, asfixiada. Quem encontrou foi a outra irmazinha, de dez.

domingo, 13 de setembro de 2009

Fora de área

A era da comunicação me fascina e me cansa. Não me atrai a obrigatoriedade de estar disponível. Há 20 anos, bastaria sair de casa para me tornar incomunicável. Há 10 anos, bastava desligar o celular. De lá pra cá, as inovações tecnológicas determinaram uma mudança muito expressiva na cultura.Uma mudança que eu não sei se consigo acompanhar.
O e-mail existe há tempo, mas antes mandar um e-mail era só mandar um e-mail. Hoje, quem envia um e-mail espera que você abra e responda imediatamente. Não importa o horário, nem a ocasião.
Semestre passado, por exemplo, eu tinha uma prova marcada para as 15h30. Quando faltavam dez minutos, encontrei um colega na escada, indo embora:
-Você não vai fazer a prova?
-Já terminei.
-Como? Não era às 15h30?
-Era. Mas a professora mandou um e-mail avisando.
-Acho que não recebi.Foi ontem à noite?
-Não. Hoje ao meio dia.
Cheguei na aula e, de fato, só eu não sabia. A estratégia da professora teria seria totalmente eficaz, não fosse por mim. A única off line da turma. Ainda sou. Hoje a minha sala trocou 26 e-mails sobre uma prova e pautas para a próxima edição do jornal.
E olha que hoje é domingo.

***

Twitter, orkut, msn, facebook, gtalk... Falar não é problema. Problema é conseguir se esconder.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

Meu hino nacional

Se a apresentação da cantora Vanusa na Assembleia Legislativa foi triste, mais triste ainda foi a declaração de que o hino deveria ser mudado porque poucos sabem a letra. Hino não é hit, não é parada de sucesso. Hino é a música que identifica o povo e tem relação com o momento histórico em que foi escrito. E não importa se a letra é longa e as palavras são pouco usuais. Importa que emocione, que faça um brasileiro se reconhecer brasileiro.
Conheci o hino muito antes de seu significado. Tocava todas as segundas-feiras no colégio em que estudei quando pequena. Recordo que dava vontade de rir só de saber que tínhamos que ficar sérios. Depois, um pouco mais velha, lembro de me sentir parte de alguma coisa maior toda vez que escutava o hino. Acho que nessa época eu já entendia a letra e queria fazer o Brasil tão digno quanto o que eu imaginava ao ouvir a música. Queria não, quero.

***
Uma das particularidades do nosso hino é a inversão das frases. A maior parte das estrofes não faz muito sentido se forem interpretadas na ordem em que são cantadas:

Brasil, de amor eterno seja símbolo / O lábaro que ostentas estrelado

Na ordem direta fica:

Brasil, que o lábaro estrelado que ostentas seja símbolo de amor eterno.

É assim que entendo a última estrofe:

Brasil, que a bandeira estrelada que ostentas seja símbolo de amor eterno.E que seu verde-amarelo anuncie a glória no passado e paz no futuro.Se tratares a todos com justiça, verás que teus filhos não fogem à luta.Quem te adora não teme a própria morte.

***
Vanusa disse que o hino precisava ser trocado pois não era coerente com a situação que vivemos. "O Brasil não está em berço esplêndido", ela argumentou.
O problema não está no hino.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

[Sala de Estar]

Lugar onde ninguém precisa ser. É so mostrar, fingir, parecer ter alguma coisa a mais. Sala de estar arrumada, sala de estar elegante, sala de estar com as unhas feitas e eu sempre me esqueço...

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Discurso de formatura do 3º ano


A parte que eu mais gosto era assim. Continua sendo sincera, mesmo depois de tantos anos.


...Talvez nós não façamos mais provas, 

mas a vida continuará nos testando diariamente. 

Hoje é a matéria que termina, não o aprendizado. 


Assim, só me resta desejar que vocês esqueçam 

a transcrição fonética, mas não o significado 

da palavra respeito e, ao sentir a saudade que 

o inglês não traduz, encontrem amparo na certeza de 

que tempo e espaço são relativos.


Que vocês entendam que a felicidade é um 

bem que se multiplica ao ser dividido e 

se encantem com a ideia de que o infinito nunca está contido.


Por mais que Berzelius ou Mendeleev 

se tornem nomes perdidos na memória 

guardem para si que é através da união que se conquista

 a estabilidade e percebam que, independente do 

número de fusos horários, se o Sol nasce para todos, 

não é mera coincidência.


Eu espero que todos os milagres da Ciência não os façam 

menosprezar o amor ou ignorar o milagre que é 

simplesmente estarmos vivos.

Por fim, que sejam sempre os sujeitos dos seus predicados, 

conscientes de que são as nossas ações e reações 

que escrevem a História.



Eu desejo, com toda a intensidade, que a aspereza do mundo 

não esterilize os sorrisos e que o poder não corrompa os corações.

Que se tornar melhor seja o objetivo de cada amanhecer 

e que a felicidade, bem como o cansaço, venha junto com o por do Sol.

Que vocês façam dos seus ideiais estrelas distantes 

e se guiem por elas durante toda a vida.

Que a saúde os dê tempo; e a fé, coragem para realizar os sonhos.

Que ajam sempre segundo seus princípios para que a consciência

 não os impeça de dormir em paz e não pareçam: sejam.



domingo, 30 de agosto de 2009

O natal da madrugada

Pela fresta da janela semi aberta, passavam o vento e o silêncio das noites de inverno. Alguma luminosidade se dissolvia no escuro do quarto, de modo que viam-se ligeiramente azuis.
- E se eu fosse um instrumento musical, que instrumento eu seria? - Perguntou hipoteticamente, sem nenhum propósito. Aceitaria qualquer resposta. Só queria ver quais seriam os argumentos dele para uma comparação tão absurda e desimportante.
-Uma harpa, respondeu imediatamente. Porque é bonita, suave e tem até essa tua curvinha nas costas, completou, apoiando a mão docemente sobre a coluna da moça deitada de bruços.
Ela escutou a metáfora como quem ouve uma declaração. O amor veio como uma onda calma e devolveu o sentido de todas as coisas. Soube-se infinitamente querida naquele momento e compreendeu que, sem ele, correria o risco de ter uma vida terrivelmente comum. "E eu que esperava que ele dissesse violão" - comentou para si mesma, achando-se burra em sua ingenuidade. Conhecia-o suficiente para saber que ele não era de clichês. Tudo, absolutamente tudo até agora ocorrera de maneira tão particular que a previsão do futuro assustava justo por sua impossibilidade. No instante em que foi imaginada harpa – o mais delicado instrumento que conhecia, porém o último que iria lembrar– não é que pudesse afirmar que o amaria para sempre, mas teve a certeza de que sempre poderia amá-lo de novo.

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Sarah

Ainda que desmanchem meu castelo,

e que todo "não" manche o meu vestido,

até quando eu duvido do que é certo,

E se a minha carruagem já tiver partido...

Eu ainda sou uma princesa.

Com meus sonhos, flutuando em mim mesma.

Tecendo a minha renda com retalhos,

procurando algum brilhante na tristeza.

Querendo um final de purpurina

pra essa tarde, pra essa história, pra essa vida.



**Sarah significa princesa. Escrevi para mim.

Que exibida, né? ;)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Uvas verdes

Estávamos eu e a mosca. Tinha sentado na poltrona da sala de espera do aeroporto de Belo Horizonte havia quase duas horas. Desde então, a mosca me acompanhava. Revezava entre o braço da cadeira e o meu. Tentei espantá-la, mas foi inútil. Mesmo que ela fosse muito menos ágil que um mosquito, eu nunca teria prazer em esmagá-la com a mão. Visto que não conhecia ninguém aqui, a mosca até me distraía.

Enquanto me demorava nos detalhes das asas, um homem se aproximou. Barba por fazer, alto, magro, lindo como qualquer coisa improvisada. Meus olhos esqueceram a mosca, passaram a admirar a paisagem que milagrosamente sentou-se ao meu lado.

-Está ocupado? –perguntou.

- Não, eu estou sozinha – respondi, com um sorriso maior do que devia.

Em frações de segundos já havia me arrependido de ter aberto a boca. O cara me perguntou se podia sentar e eu já adiantei que estava solteira. Tive vontade de morrer atropelada por um avião. Achei que fosse melhor ir embora, mas reconsiderei. Se a conversa fluísse bem, talvez ele nem percebesse que eu estava mesmo tão carente. Ainda que morrendo de vergonha, resolvi ficar onde estava. Disfarcei meu nervosismo olhando a mosca.

-Esses olhões são incríveis... ele comentou, com a cabeça virada na horizontal.

- São mesmo...

-Você sabia que as moscas podem enxergar até quatro mil ângulos ao mesmo tempo?

-Sério? – questionei com interesse vago. Na verdade estava muito ocupada admirando o angulo horizontal da cabeça dele, que deixava o cabelo cair na testa.

- É porque elas tem milhares de olhos... disse fascinado.

- Você é biólogo?

-Sou.

- Que legal. Sempre achei legal conhecer bem a natureza.

-É uma profissão maravilhosa, mas eu sou suspeito para falar.

Constatei que estava mesmo desesperada. Em sete frases eu já imaginava nós dois levando nossos filhos para o Zoológico. Já escolhia o nome do nosso labradorzinho quando o telefone dele tocou.

-Alô, Alô, não estou escutando... alô... – repetia.

-Você quer tentar do meu? – ofereci, prestativa.

-O seu também é rádio?

-É. Pode usar à vontade...

-Muito obrigada. Estou mesmo preocupado. É que a minha esposa é modelo. Ela viajou para França ontem e até agora não deu notícia. Vi no jornal que está chovendo muito. Ela deve ter acabado de chegar – explicou bem explicado.

Sorri amarelo. Levantei quando escutei o “oi amor”. Deixei o telefone com ele e fui até o bar. Pedi vodka e gelo. Duas. Uma pra mim, outra pra mosca.

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Ainda

Comprei um porta retrato para dar a uma amiga de Fortaleza. Ainda não mandei.
Gravei depoimentos de gente de 13 países para fazer um mini documentário. Ainda não editei.
Na minha estante, acumulam-se os livros que eu ainda não li.
É assim que eu conto as coisas para mim, com um ainda embutido em cada frase. Quero ter a impressão de que é questão de tempo. O ainda suaviza o não, me permite pensar que a negação é temporária. O ainda exprime a possibilidade de mudar a sentença. Essa chance de transformação é o meu aval para adiar mais e mais.
Mas iminência do movimento é uma ilusão sintática.Não há nenhuma garantia de realização. Bruna não recebeu o presente, eu não terminei o filme e comprar livros não me faz uma grande leitora. É melhor encarar a verdade: o ainda só existe na frase e na minha cabeça. Na prática, ou é sim, ou é não.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

O cabelo das mulheres

Mulher ama cabelo.

Mulher folheia revista só para olhar o cabelo de outras mulheres.
Mulher se encanta com os cachos da modelo da propaganda de tinta.
Mulher comenta o cabelo da amiga.
E fica louca quando passa em frente a uma loja de perucas.

Mulher entende a diferença entre passar e botar silicone,
Mulher conhece várias maneiras de fazer luzes.
Mulher sabe que um penteado pode salvar um vestido.
E que não há beleza que sobreviva às trancinhas de Porto Seguro.

O mexer dos cabelos fala.
Passa-se a mão quando a conversa é boa.
Enrola-se com o indicador quando está tudo chato.
Prende-se quando se quer parecer comportada.

Mais que um fio de queratina,
O cabelo determina o bem-estar feminino.
Não conheço quem não odeie cachinho de cabelo novo,
franja arrepiada e pingo de chuva.
Todas amamos uma escova bem feita.

Cabelos traduzem desejo de mudança
As loiras fazem mechas escuras;
As morenas, reflexo;
As lisas, enrolam e as enroladas... bem, agora que inventaram a escova progressiva não existem mais.

É por todos esses significados que eu me irrito tanto com cabeleireiros
Eles têm o dom de fazer o que a gente não pediu.
Se a gente diz "branco" eles fazem "dourado",
Se a gente fala "escorrido", eles deixam "natural"
Se a gente implora "só as pontinhas", eles entendem "no ombro".

Dá vontade de morrer de ódio, de pular da cadeira, de chorar
Mas a gente se controla, paga e ainda agradece.
Deixa.
Eles nunca entenderiam a complexidade do que está na nossa cabeça.



sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Very Old School

Que academia Brasileira de Letras... Imortais mesmo são os atores da Globo. Entra novela, sai novela, estão sempre com a mesma idade. Por quanto tempo mais eu terei que que ligar a televisão e encontrar astros como Antônio Fagundes (o poderoso), Victor Fasano (o sofisticado), Tony Ramos (o bom partido) e Humberto Martins (o pegador)?
Isso sem falar do Edson Celullari, que não consegue mais franzir a testa, e do Tarcísio Meira ,73 anos, que a cada temporada fica mais irresistível.
Eu juro que eu tenho medo do horário nobre...

PS: Não conseguia lembrar o nome do Tony Ramos. Fui para o Google, digitei "ator globo peludo". Acreditam que ele não apareceu?


terça-feira, 11 de agosto de 2009

Feitiço

Minha casa já foi um engenho de farinha. Antigamente, o lugar onde estou agora era habitado por bois e descendentes de açorianos que vieram tentar a sorte no Brasil. Não sei se morreu algum escravo por aqui. De noite, as portas de madeira estralam sozinhas. Ruídos estranhos percorrem a casa e eu prefiro nao imaginar o que pode ter acontecido aqui na época em que isso era apenas lagoa e escuridão. Ou melhor, era a lagoa, a escuridão e a magia de que tanto falam.

A magia da Lagoa da Conceição tem menos a ver com encanto e mais com feitiço, bruxaria. Quando eu era menor, era bem comum encontrar "trabalhos" nas esquinas. Galinhas mortas, galhos de árvores, velas mil. Até hoje, sempre que escuto o barulho do vento penso que pode ter sobrado alguma bruxa por aqui. Talvez alguma bruxa morta que nao quis ir embora...

Antes de existirem shoppings, plástico e congestionamento, a Lagoa era um lugar calmo e sua economia era basicamente a farinha de mandioca. Toda a mandioca colhida aqui era transportada em balaios. Esses balaios eram feitos de cipós. Enquanto as mulheres se encarregavam de trançar a cesta, cabia aos homens recolhê-los da natureza. Uma vez por semana, subiam o Morro em busca de cipós mais resistentes. Um dia, um grupo se deparou com um cipó perfeito, grosso como uma corda, mas já estavam tão exaustos que decidiram poupá-lo.Deixaram as ferramentas ali mesmo e voltaram para suas casas.

Na semana seguinte, quando retornaram, encontraram seus machados todos pendurados no alto das árvores. Estranharam. Pensaram que talvez fosse obra de algum macaco arteiro."Será?" Acharam muito esquisito.Largaram as ferramentas no mesmo lugar e resolveram esperar para ver o que acontecia. Dessa vez, um homem ficou para fazer a vigília.

Voltou para casa apavorado. Chegou correndo, pálido, suado. "Uma bruxa" , "Uma bruxa", era só o que conseguia dizer. Depois de alguns minutos, já mais calmo, ele contou que  assim que escureceu ele começou a ouvir ruídos, mas pensou que fosse algum bicho. Adormeceu. De repente, uma gargalhada alta o fez despertar. Quando olhou para cima, uma bruxa se balançava no cipó. Saiu em disparada em direção à vila.

Todos os outros ouviram a história aliviados por não terem cortado o balanço da bruxa. Todos menos um. Seu Rosário, pulso forte e poucas palavras, não acreditou no vizinho. Na mesma madrugada, foi até o lugar onde haviam deixado as ferramenta. Não encontrou absolutamente nada fora do lugar. Nenhuma bruxa. O cipó continuava lá, intacto.

Não pensou duas vezes. "Vou arrancar isso aqui". Pegou o machado do mato e logo no primeiro golpe o cipó se tranformou em uma enorme enguia. No momento em que o metal da lâmina encostou no peixe elétrico, o choque foi tão grande que ele caiu desmaiado. Em poucos segundos, uma revoada de corujas veio bicar seus olhos. Depois, elas se transformaram em três urubus e comeram toda a carne do homem.

 Quando não havia mais nada, os urubus viraram bruxas de novo. Primeiro as patas, depois o corpo e a cabeça. Por fim, as asas viraram longos braços magros, com dedos que mais pareciam afiados galhos secos. Ao saírem, as bruxas levaram as ferramentas para bem longe, mas fizeram questão de deixar os ossos ali, como um recado.

A vila nunca chegou a ter certeza do que aconteceu naquela noite, mas o mistério foi suficiente para comprovar a suspeita. Toda a desgraça vinha da combinação de três fatores: era a lagoa, a escuridao e a mesma magia de sempre. 

* Desculpa pela falta de acentos: ainda não me acostumei com o teclado que estou usando agora.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

100

Perco um tempão no Google analytics. Para quem não conhece, é uma ferramenta do Google que disponibiliza todo tipo de informação sobre os visitantes o blog (número de acessos, quantas páginas olharam, que textos são mais lidos). Não entendo metade dos gráficos, mesmo assim fico ali, comemorando toda vez que vejo que mais alguém entrou. O estranho é que eu nunca consigo prever o que as pessoas vão gostar. Às vezes escrevo empolgadíssima algo que pensei a semana inteira e ninguém responde. Olho as estatísticas: 16 acessos. Penso "ah, legal". Clico em "tempo médio na página"= menos de 10 segundos. Entro em depressão... É um zero...

Por outro lado, tem vezes que eu já escrevo sabendo que provavelmente ninguém vai se interessar e, de fato, acerto. Nenhum comentário, quatro acessos da mesma máquina. Pode ter sido alguma amiga muito fiel, ou eu mesma, usando computador do meu pai. Acontece. É outro zero.

Não tem problema. Tenho também os meus dias de sorte, quando escrevo o que eu penso e sei que tem gente que gosta, que lê até o fim, que comenta quando me encontra, diz que já se sentiu assim. Um ponto para mim. Esse um vai na frente dos outros zeros e eu vejo que tudo continua valendo a pena.

domingo, 2 de agosto de 2009

Falta

Aconteceu há algum tempo, no interior do Rio Grande do Sul.

Acordou. Olhou-se. Desceu. Pão e queijo. Enquanto esperava a luz da sanduicheira acender, folheou o jornal que encontrou sobre a mesa. Não que que tivesse o hábito de ler os obtuários, mas um sobrenome conhecido chamou a atenção. A nota informava que Ana Cristina Siqueira dos Santos, 42 anos, descansava em paz depois de oito meses lutando contra o câncer. "Não, não. Não pode ser."

Esqueceu a sanduicheira ligada e foi acordar o marido.
-Amor, tu te lembras daquela minha amiga, morena, baixinha, que era minha vizinha quando a gente se conheceu?
-Uma que ria meio alto?
-Isso.
-Que que tem?
-Eu acho que ela morreu.
-Morreu?
-O nome está no jornal. "Ana Cristina Siqueira dos Santos". Foi câncer, parece. Tão nova...
- Que pena. Ela tinha filhos?
-Não sei. Faz uns quinze anos que a gente não se vê... A última vez foi no casamento da Marininha, irmã do Nelson, lembra?
-Lembro. Faz 15 anos já?
-Faz. Faz 15 anos. A gente ficou sem se falar 15 anos. E agora ela morreu. Minha amiguinha da escola, depois companheira dos cinemas, das festinhas. A melhor amiga que eu já tive e eu fiquei todos esses anos sem ligar no natal... Eu nem tenho o telefone dela....
-Calma amor, não fica assim. Vem aqui...calma, Clara... calma. Por que você não liga para a Marininha e descobre onde vai ser o velório?
-É. Eu vou no velório. E vou fazer a coroa de flores mais linda que alguém já viu. Passei a vida fazendo coroa pros morto dos outros...
-Isso amor. Não chora. Faz uma coroa bem linda e a gente leva lá pra ela. Hoje é terça, a gente fecha a floricultura, não tem problema.

Lavou o rosto. Desceu. A floricultura ficava no térreo. Abriu a geladeira. Pegou só o que estivesse lindo e novo. "Eu vou fazer bem vermelho, que é como ela gostava". Juntou as rosas, tirou os espinhos e foi montando tudo com pesar e saudade. Lembrou das vezes que saíram escondidas, de quando brigaram porque gostavam do mesmo menino, lembrou de como ela achava escandalosa aquela risada e não se conformou em perceber a falta só agora.
"Daqui a pouco a Aninha vai apodrecer como essas rosas", pensou ao jogar fora a caixa de flores velhas.

Quando a coroa ficou pronta, ligou para Marininha. Marina tinha se mudado para São Paulo havia sete anos e a última notícia que tinha era que a Ana Cristina estava morando em São Francisco. São Francisco ficava a uma hora e meia dali. O telefone ela não tinha.

Entraram na camionete e foram mesmo assim. Fizeram uma viagem silenciosa. Clara não sabia o que ia encontrar. O último enterro a que tinha ido tinha sido o da sua avó, mas era bem diferente. Morreu em casa, dormindo, velhinha. "Tomara que ela não tenha filho pequeno", pensava enquanto se distraia com os barulhos dos pedras da estrada.

Chegaram. Os números de metal pendurados no portão de madeira verde indicavam que estavam na casa certa. Buzinaram. Ninguém. Buzinaram de novo. Um homem veio atendê-los.
-É aqui que mora a Ana Cristina?
-Sim.
-Nós viemos trazer umas flores...
Antes que terminasse de explicar, Ana aparece na porta. Clara saiu correndo e abraçou a amiga. Um abraço forte, como se quisesse se certificar de que estava mesmo ali. Clara chorou de alívio, chorou pelos quinze anos que passaram longe, chorou de agradecida por poder mais uma vez abraçar a amiga quente, gorda, viva. "Eu achei que tu tivesse morrido, e eu te amo tanto, tanto...", soluçou. Ao entender, os olhos de Ana molharam também. Viu a coroa no carro, deu graças a Deus por estar ali e por ter a certeza de que era tão querida.

De fato, o nome era o mesmo, mas era outra pessoa. Refeita, Clara desculpou-se pelo incômodo." Eu teria feito o mesmo." Era verdade.

Ana insistiu que eles ficassem para um café. Sentaram, conversaram, riram como antes. Aquela tarde de terça, fadada a ser triste e sombria, milagrosamente se transformara na melhor tarde de terça dos últimos anos só porque as duas existiam. Trocaram telefones e prometeram se falar mais.

Clara voltou para casa contente, como se ela mesma tivesse nascido de novo. Na manhã seguinte e em todas as outras, sempre que abre a floricultura, ela se sente premiada por "só fazer coroa pros morto dos outros..."

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Meus segredos para mim

Queria escrever hoje no blog, mas o que vem na minha cabeça é íntimo demais para ser publicado na internet. Estranho né? Antes as pessoas escondiam a chave do diário, hoje a moda é divulgar segredos. Eu não. Meus nós são todos meus. Sou eu quem decido se quero desfazê-los ou tecer uma rede para deitar neles...

PS: Volto a escrever amanhã. Minha chefe pegou férias e eu estou no lugar dela. Estou mandando mim mesma, é muita responsabilidade. Sou uma chefe autoritária e uma funcionária crítica. Tenho chegado em casa com fome e só me interessa o que estiver na geladeira. Pão, queijo ou alguma coisa doce, é nisso que tenho pensado ultimamente.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Coisas pequeníssimas

A minha cabeça faz contas mesmo quando eu peço para ela parar. É contra o que eu quero ser: me faz menor. Porque me prendo a coisas sem importância e acabo perdendo o meu valor também. Essas mixarias vão se acumulando em mim.

Mahatma Gandhi não precisava perdoar. Ele nem chegava a se ofender. Imagina o quão compreensivo alguém precisa ser para não se magoar. E imagine a força que isso dá.
A parte mais cruel é que ele não nasceu assim. Ele aprendeu.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Inutilidades linguísticas

* Quando um fato é importante dizemos "humm, isso é relevante".
Se o argumento não tem a menor importância, é irrelevante.
Agora, quando fazemos uma besteira bem grande para alguém e queremos eufemizar o impacto, dizemos "Ahh, releve isso".

* Tombar é cair no chão.
Se uma pessoa tropeça no cadarço do tênis e cai, ela tombou.
Se enchem um prédio de dinamite e o explodem, o edifício tombou.
Agora, quando uma casa é tombada, isso significa que ela nunca mais será destruída.
Tombar é cair no chão, ou não.

* "Imagina o que eles não vão falar" , na verdade, quer dizer "Imagina o que eles vão falar".

Todo mundo entende, mas convenhamos: não faz o menor sentido.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A outra oração

"Perdoai os nossos pecados,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido".

Esse trecho do Pai Nosso hoje me deixa pensativa. Conheço a oração desde pequena. Por sabê-la de cor, não prestava muita atenção nas palavras. Há alguns anos, a impressão que eu tinha é que bastava rezar para ser absolvida. Não me prendia muito ao trecho "Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido". Mas ele está lá. Sempre esteve. Não há nenhuma ambiguidade: eu peço para que Deus me perdoe como eu perdoo.

E eu perdoo?

Esse trecho do Pai Nosso me deixa pensativa.

sábado, 11 de julho de 2009

Mexican Drama

Eu não sou uma má pessoa. Na verdade, eu não sou nem má. Mas acredito em justiça, e se tiver a chance de fazer a justiça acontecer, não vou pensar duas vezes. Ninguém sabe quem será o juiz da sua vida, quem, no final, vai decidir se você vive ou não. Pessoas autoritárias pensam que podem controlar tudo, os idiotas pensam que não podem controlar nada. Meu ex namorado, Jack, estava no segundo grupo.

Tinha 22 anos quando o conheci. Ele era professor de História da Arte. Na época, eu pensava que ele era muito velho, tinha 31 e, mesmo odiando aquela barba, aceitei seu convite para ir ao cinema.

Foi naquele mesmo dia que o namoro começou. Nós saímos juntos por dois meses e, em plena segunda feira, enquanto tomávamos café da manhã na faculdade ele me disse:
-Eu quero te decorar com o meu amor.
Não entendi muito bem, coisa de professor de arte.
-Com o seu amor?
-É, eu guardei todo o meu amor nesse diamante.
Abriu uma caixinha preta e eu pude ver o que seria o meu anel de noivado.
-Mora comigo?
Coloquei a aliança e respondi:
-Me mudo este final de semana.

Foi o que eu fiz. Arrumei duas malas e fui para o apartamento dele no sábado. Claro, briguei com os meus pais antes. Eles esperavam me ver de noiva, com um longo vestido branco, um casamento caro com todas as formalidades que eu sempre detestei. Quando eu disse que iria morar junto com o meu namorado, meu pai quase teve um ataque. Seu rosto ficou distorcido pela raiva, era melhor ficar quieta. Escutei desaforos e fui embora, silenciosa.

Morar com o Jack era o máximo. Nós assistíamos a um montão de filmes estrangeiros, falávamos sobre política, música, mídia. Durante cinco meses, vivemos completamente apaixonados, até que pequenas coisas começaram a mudar.

Jack passou a chegar tarde nas noites de sexta e, quando acordava, fugia das explicações. Ele se tornou negligente também: eu perdi a aliança e ele nem se importou. Sabia que ele estava diferente e pensava que era porque ele estava bebendo (o médico havia proibido porque Jack era diabético) mas isso era apenas uma pequena porção da verdade.

A maior parte me foi revelada no dia em que estava na fila do laboratório do hospital. Ia fazer um teste de compatibilidade para saber se poderia doar meu rim para Jack. Ele tinha piorado muito e precisava de um transplante.

Vi uma menina, devia ter no máximo 18 anos, usando um anel igual ao meu.
- Com licença, mas onde você achou esse anel?
-Eu não achei. Meu namorado me deu. É a minha aliança. Quer ver? Está escrito "todo o meu amor" do lado de dentro.

Fiquei imóvel. Não consegui dizer nada, não sentia as minhas pernas, estava completamente paralisada. Ela continuou, com a voz trêmula:

-Ele me pediu em casamento faz umas semanas e agora está tão doente.Os rins não funcionam mais e, se eu puder, vou dar o meu para ele. Ele só tem uma irmã, que mora com ele, mas se negou a fazer o teste. Difícil de lidar. Não posso nem ir a casa dele, não posso nem ligar porque ela é homicida...

-Homicida?

-É, homicida. Gente que mata gente. Ela ainda não matou ninguém, mas tem meio que uma facilidade para isso, entende?

Respirei fundo.
-Não se preocupe com a irmã. Não existe irmã nenhuma. Quem mora com ele sou eu, a esposa, e a sua aliança, na verdade, é minha.

Ela gritou. Disse que eu era louca, delirante, que ele realmente a amava. Eu poderia ter saído da fila, ido embora, mas ainda não estava segura da minha decisão.

O resultado saiu duas semanas depois. Compatível. Eu era a única que poderia salvar a vida dele, mas não o fiz. No dia em que enterramos Jack, a menina me perguntou se eu não sentia remorso. Eu respondi apenas que acreditava em justiça. Coisas boas retornam do mesmo jeito que as más.

Às vezes, a vida é meio irônica, não?


** Historinha escrita para a aula de inglês. Era para formar frases com determinadas palavras (homicida, diabete, transplante, rim, negligência, remorso) e eu acabei me empolgando:)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Consolo + Carochinha

Fui assistir à peça "Confissões das mulheres de trinta". Me identifiquei com vários trechos por motivos óbvios: estou bem mais perto de 30 que de 15. No final, há uma narrativa de um homem contando mulher é sempre sobre amor e que, conforme a fase da vida, ela se especializa em um aspecto diferente. As de 50 são ótimas em manter o amor; as de 20 são as melhores em imaginá-lo, inventá-lo. Já as de 30 são as melhores em fazê-lo.
Ufa, nem tudo está perdido...

Quando houve a festa de funeral do Michael Jackson, ele já estava morto há 12 dias. Dezoito mil fãs, mais de duas horas de duração, e as pessoas ainda se questionam se o corpo estava lá. Eu me pergunto: por que o corpo estaria lá? Para assistir?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Entre a tesoura e a cola branca

Passei quatro horas alternando entre a tesoura e cola branca. No meu primeiro dia de estágio, senti não ter me empenhado nas aulas de Educação Artística e me dei conta de que não consigo recortar em linha reta. Faz tanto tempo que assimilei o Ctrl C + Ctrl V que me esqueci como era fácil manchar papel sulfite com os dedos grudados de tinta de jornal. Mereço um desconto: estava começando.

O recorte e cole é uma das maneiras de fazer o trabalho de clipagem, talvez a mais rudimentar. A clipagem é necessária sempre que o jornal divulga as informações que se refiram à empresa, enviadas ou não pela Assessoria de Comunicação. Esse material precisa ser arquivado.
Para que essas matérias/notícias possam ser guardadas, primeiro elas precisam ser destacadas. Usa-se a tesoura de metal e os dedos. Depois, deve-se fixar cada notícia em uma folha branca com a data e o nome do veículo. Caneta, celulose e cola escolar.

Para decidir o que precisa ser recortado, usa-se a luz, o olho e o pensamento. Primeiro a claridade bate na folha e não é refletida pelo preto das letrinhas. Pela falta de cor, enxergo a letra e minha cabeça forma palavras. Essas palavras são lidas com o ritmo da língua portuguesa enquanto eu sigo as linhas em silêncio. Eu não só as entendo, como classifico: sei que atletismo não pertence à categoria Cultura, do mesmo jeito que místico não é de Esportes. Procuro as expressões que me interressam. Reconheço. Aviso para a mão que é a hora de acionar a tesoura. Luz, o olho, pensamento. Muita tecnologia.

domingo, 28 de junho de 2009

Gavetas Virtuais



Onde ficam guardados os e-mails que você recebe?
No Gmail.
E onde fica o Gmail?
Na Internet.
E onde fica a Internet?
Em lugar nenhum.

Era assim que eu pensava que as coisas funcionavam. Achava que os textos, fotos e informações que a gente coloca na Internet estariam boiando na rede. Como? Não sei. Minha crença era quase religiosa. O mistério da fé, para mim, era acessar a minha conta...

Demorou muito tempo para que eu descobrisse que não é bem assim. Como o próprio nome diz, é uma rede. Os computadores estão conectados e o que a Internet faz não é "entrar nos sites que estão no ar (ou seria no mar?)", e sim puxar os sites que estão guardados em computadores ligados 24 horas por dia. Por isso, quando você cria um site, precisa pagar um aluguel para uma empresa hospedá-lo. Hospedar é arquivar o site dentro de uma máquina sempre conectada à Internet. Caso contrário, se você desligasse o computador, seu site não poderia mais ser encontrado.

A partir desse conceito, fica um pouco menos complexo entender como o Gmail e o Orkut funcionam. Quando se abre uma conta, você ganha o direito de armazenar seus dados em computadores deles. Ao fazer o login, pode mexer nesse espaço de memória que é seu. Os seus amigos conseguem ver o seu profile e deixar recados para você pois a máquina que guarda as suas informações está ligada também.

Revelador, não?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

BR 101

Não houve leptospirose que me fizesse tirar o caldo de cana da cabeça.
"Lanchonete:500m", "Lanchonete:300m". Na volta de Blumenau, com a boca cada vez mais seca, eu ia lendo 200m, 100m, aqui. Aproveitei que estava sem o Marcelo, que foi criado no carpet e não enxerga a graça ( só o risco) de comer qualquer coisa na estrada, e parei o carro.
Dois atendentes e ninguém no bar. Decidi enfrentar o medo do assalto, seguido de estupro e assassinato, e pedi um copo. "Aqui o sistema é diferente, é rodízio".
Aceitei.
Rodízio quando é da mesma coisa devia ter outro nome. Era sempre a mesma jarra, o mesmo gosto. A única coisa que rodava era o garçom. Orbitava em torno da minha mesa, e era só eu esvaziar o copo dois dedos que ele já vinha encher. Eu juro que tentei, mas não consegui chegar até a metade. Tomava, tomava e estava lá o copo inteiro de novo.
Eu podia ter ido embora depois de matar a sede, mas como toda gordinha, pedi uma pamonha para acompanhar. Ficava pronta em cinco minutos. Resolvi olhar a loja.
Fiquei chocada: tinha todo tipo de artesanato do Nordeste, desde o Padre com o peru de fora, passando pelas galinhas de angola e telhinhas com baianas para pendurar na parede. Será que vem tudo de São Paulo?
Voltei pra mesa. Feliz o tempo em que eu estava sozinha. Agora, dois homens, de 40 e poucos anos, tinham sentado atrás de mim. Ser olhada só é legal quando o cara é gato. No meu caso era um gordo bronzeado grisalho e oleoso, daqueles que não pedem o telefone, mas que deixam o cartão. Coloquei o óculos e esqueci. Fiquei me distraindo com as listras na palha do milho, com a fumaça ao desencapar a pamonha, com a textura do queijo. Virei pro lado sem querer, e ele tinha posto o óculos também, verde, de surf, espelhado. Me sorria como se esse fosse o "nosso código".
Demais pra mim.
Paguei, levantei e fui embora. Ficou a pamonha mexida e o copo... cheio.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Nada sincronizado

Depois de passar dois dias perplexa pensando na queda do diploma para Jornalismo, resolvi parar de me lamentar e aproveitar a nova lei. "Vou tirar uma carteira de trabalho como jornalista hoje. Para que esperar até terminar a faculdade, se no final, vai dar tudo na mesma?"
Entrei na internet, peguei o telefone do Ministério do Trabalho e resolvi me certificar dos documentos, antes de esperar na fila em vão.
-Eu gostaria de saber quais são os documentos necessários para me registrar como Jornalista...
-Tem a carteira?
-Não.
-Tem que dar entrada na carteira, depois pedir o registro.
-E o que precisa para eu me registrar como jornalista, agora que o diploma caiu?
-Como nós não recebemos nenhuma orientação do Supremo sobre como proceder para registrar jornalistas, continua tudo na mesma.
- Então precisa do diploma?
-Precisa.

"Ser brasileiro é uma pegadinha sem fim"
Bethânia Almeida

domingo, 21 de junho de 2009

Dez minutos para tudo fazer sentido

Curta do Selton Melo e Seu Jorge sobre os filmes do Quentin Tarantino.

// Hoje estou sem graça. Queria me dissolver como uma aspirina efervecente. Estar em todos os lugares e nenhum ao mesmo tempo. Ser alguma coisa volátil, suspensa e transparente, mas só quem não me enxerga é o meu gato siamês ingrato!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Aos meus piores professores

É preciso mais do que pescoço para prender minha cabeça no meu corpo. É preciso que algo me surpreenda, que me chame atenção. A partir do momento em que a sala escurece e a voz do professor narra o que está escrito nos slides, minha mente começa a se despedir de mim. “Será que eu devo almoçar com o Marcelo?” “Tenho que achar uma sandália preta. Tem um casamento no final de semana” E por aí vai. Quando olho para frente, a boca do professor abre e fecha e eu não tenho a menor idéia sobre o que ele possa estar falando.

Reparo então nos meus colegas. Uma tenta puxar a cutícula do dedo indicador com a boca, outra inspeciona cuidadosamente as pontas duplas do cabelo, a que senta ao meu lado me cutuca e sussurra “Guria, são onze horas ainda...”Isso sem contar os que mexem no celular e balançam os pés. Definitivamente, meu problema não é um caso isolado. Chego à conclusão que talvez essa dificuldade de concentração seja menos um traço da minha personalidade e mais uma deficiência de determinados professores no cumprimento da função que lhes garante o pão e o cafezinho.

Ensinar não é para qualquer um. Não basta só entender do assunto, tem que saber e querer transmitir. No curso de Jornalismo da UFSC, alguns professores deixaram de ser aquele que ensina para ser aquele que faz a chamada, coloca meia dúzia de livros no xérox, prepara uma apresentação de Power Point, passa alguns conceitos nas primeiras aulas e divide o resto do semestre em cômodos, mas insuportáveis, seminários.

Os seminários são a escolha preferencial dos preguiçosos. Os professores viram alunos e os alunos tentam explicar o pouco que eles entenderam do texto. Não de todo o texto, daquelas 20 páginas que eram a “sua parte”. Sem experiência nenhuma no assunto e didática zero, o que poderia ser uma parte da metodologia de ensino passa a ser um método de tortura para os demais colegas. Os comentários dos docentes são, por vezes, medíocres e se limitam a repetir com palavras um pouco menos comuns o que o grupo acabou de dizer. Quando muito.

Será que pensam que a gente não nota que certos professores faltam mais do que os alunos relapsos? Será que acham que a gente não percebe quando assiste a uma aula enjambrada? Será que eles não veem o quanto incomoda quando um doutor nos exige que façamos algo que nem ele sabe fazer, sem ter a menor noção da complexidade e do tempo necessário para o trabalho?

Eu queria deixar claro que eu percebo. E olha que sou uma aluna mediana. Não copio tudo, chego sempre alguns minutos atrasada e, muitas vezes, não leio o que estava previsto. Estou consciente que a minha desorganização prejudica meu desempenho acadêmico e sou responsável por isso. Mas pelo menos tenho o consolo de que a minha desatenção atinge apenas a mim. Os maus educadores não têm essa justificativa. O descaso deles desestimula uma sala inteira.

E isso que sou uma aluna média. Imaginem o que os bons pensam de vocês...

***

PS: Do mesmo modo como tive professores lastimáveis, tive também professores muito empenhados e que influenciaram positivamente não só a minha vida acadêmica, quanto pessoal. Que recomendaram bons livros, que me atenderam com atenção, que me sugeriram diversas saídas para solucionar uma dúvida. Guardo seus ensinamentos com todo o respeito, carinho e consideração e agradeço por terem deixado o exemplo do profissional com que quero parecer.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Vale o que for subitamente

"De novo" não é inédito, é repetido. O significado contraria a origem da palavra. Passei a vida toda usando essa expressão e só fui perceber isso ontem. Estava lendo um livro antigo e encontrei "novamente" no sentido de "pela primeira vez". Pareceu-me tão coerente. Esquisito é usar "novamente" quando queremos dizer "pela segunda vez"ou "mais uma vez."

***

Não há nenhuma novidade no que fazemos de novo. "De novo" sai com água. Não lembro do meu segundo beijo, nem do segundo dia na escola, nem da segunda vez que comi Mc Donald´s.
O que não é inédito na nossa história vira nota de rodapé, Times New Roman, fonte 3. Só as primeiras impressões abrem novos capítulos, com direito a negrito e caixas altas.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

De mim para mim mesma

Se eu não conhecesse as palavras, eu não sei o que se passaria dentro de mim. Desde a hora que eu lavo os cabelos, enquanto eu dirijo ou sonho, tudo que me percorre é a sonoridade da palavra. Minha cabeça não assiste quieta à quase nada. É como se cada paisagem, objeto, atitude viesse acompanhada de uma legenda acústica enunciada durante o sentir do olhar e dos ouvidos. Verbalizo, antes e depois de tudo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

doces tangerinas

O Marcelo não gosta de tangerinas. Diz que são meio nojentas, com aqueles fiapinhos brancos, e eu chego a ficar ofendida. Fico ofendida por que elas sempre foram minhas amigas, desde pequena. Laranja eu não sabia descascar, mas tangerinas!

Se um dia eu ficasse perdida numa ilha, ia torcer pra achar tangerinas. Imagina se eu encontro uma melancia? Fazer o que com uma manga sem faca? Tangerinas são muito práticas: dá pra comer com a mão e ainda mata a sede.

Descasquei. Tava branquinha mesmo, cheia de linha. Coloco-a na palma da mão:
-Marcelo, não parece um ouriço (sem espinho)?
Ele concorda. A gente ri.

Os gomos são perfeitos com suas veias e desenhos de gota de chuva. Um gomo do avesso lembra alguma coisa marítima, desses bichos do fundo do mar que parecem plantas. São feitos de água, vida e divisões.

Na falta de um recipiente mais apropriado, jogo as sementes no cinzero.
Poluo as tangerinas com as cinzas do Marcelo.

10 minutos para tudo fazer sentido

Curta do Selton Melo sobre os filmes do Quentin Tarantino.

//Hoje estou sem graça. Queria me dissolver como uma aspirina efervecente. Estar em todos os lugares e nenhum ao mesmo tempo. Ser alguma coisa volátil, suspensa e transparente, mas só quem não me enxerga é o meu gato siamês ingrato!






terça-feira, 2 de junho de 2009

O mundo é um moinho

Vídeo: O mundo é um moinho


Composição: Cartola

Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés

Tive um dia cheio. Várias coisas para contar. Vou dormir e deixar que as histórias cresçam dentro de mim. Elas se arrumam sozinhas...

sábado, 30 de maio de 2009

O nome disto é preconceito

Ontem eu apresentei um trabalho no qual falei sobre o desrespeito e ignorância dos rótulos e das generalizações.
Hoje, soltei um comentário que denuncia a pessoa preconceituosa que sou e me envergonho de ser.
– Essa padaria é bem tradicional. Está tão bonita agora...
– E ela é boa? perguntou minha amiga.
– É. Mas antes parecida de caminhoneiro.
Detalhe: o pai dela e o avô dela são caminhoneiros.
Eu queria ter dito que a padaria era escura, que parecia um bar, tinha balcões antigos, mesas de fórmica bege descascada com cadeiras de madeira e cordas, que espetam a perna.
O que eu acabei dizendo é que caminhoneiros frequentam lugares pouco privilegiados, sujos.
E sabe quantos caminhoneiros eu conheço?
Nenhum.

Desculpa, amiga.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Encontrar (des) Conhecidos

Sabe quando você está na fila do cinema ou do supermercado e encontra alguém conhecido, mas com quem você não tem intimidade?
Rola um papo mais ou menos assim:
- E aí Ju, quanto tempo!
- Pois é, um século que a gente não se vê...
- Tá fazendo o quê?
- Estudando, trabalhando... E você?
- Eu também...
Pronto, o assunto terminou, mas a minha vez ainda vai demorar. Eu poderia simplesmente sorrir e virar para frente, mas às vezes a educação acaba com a minha espontaneidade. Tento puxar assunto e geralmente me arrependo:
- Pois é... tens visto a Carolina? Vocês eram bem amigas né?
- Nunca mais falei com ela...
- Humm...(olho para o caixa, já meio nervosa, e vejo que ele está trocando o papel) Supermercado é sempre cheio nessa hora, né?
- É.
- Eu devia me programar pra vir antes, mas nunca dá tempo...
- É, eu também...
Momento de tensão. O pouco assunto que tinha já se foi e eu me recuso e comentar a previsão do tempo para o final de semana. Deu. A gente não se vê há quase 10 anos e há quase 10 anos eu não me lembrava dela. Vamos ser honestos, essa conversa está chata e não tinha nenhum motivo para acontecer. Preciso dar um jeito de sair antes que ela, pensando a mesma coisa, comece a reclamar da chuva...
- Ahh, agora que eu vi que esqueci da acetona... Vou buscar. Prazer te ver, viu? E manda um beijo para a sua irmã (que eu esqueci o nome)...
-Eu não tenho irmã...
–Ah, eu confundi então... tanto tempo né...(tava demorando pra sair a bola fora. é melhor eu fugir bem rápido )Bom, de qualquer jeito, bom te ver.
- Você também.
Saio. Passo direto da prateleira dos cosméticos, dou uma volta e procuro a fila mais curta, novamente. A menor tem 6 pessoas.
Não sei por quê estranho tanto esse "viver em sociedade".

domingo, 24 de maio de 2009

O óbvio, ou o peso de ser brasileira

Eu não sei quantas crianças dormiram na rua essa noite. Eu não sei quantas meninas foram estupradas. Eu não sei quantas pessoas morreram sem atendimento médico. Mas eu tenho certeza de que isso aconteceu. Moro no Brasil e estes são os tipos de notícia que se escuta todo o dia, um pingo de água na torneira que martela a minha cabeça antes de dormir.

Eu já deveria ter me acostumado com a rotina das tragédias. Tem gente que nem vê. Que fecha as janelas no semáforo, constrói a casa num bairro ainda não contaminado pela violência e comemora - não sei o quê- com whisky com energético no final de semana. Só vão lembrar que a vida não é uma festa quando tiverem que pagar o flanelinha na saída da boate. "Esse bando de vagabundos" - dirão.

Quem dera achar que a preguiça é a causa dos nossos problemas. Quem dera acreditar que quem se esforça terá a sua vez. Seria gostoso, assim, pensar-me merecedora do meu conforto e crer que a vida só não é generosa com quem não tem vontade de vencer. Talvez me fizesse dormir melhor. Se fosse possível.

Quando eu era mais nova, sentia uma culpa inespecífica pela situação do País. Com o tempo, os meus sentimentos foram ficando nítidos. Descobri que não é a culpa, é o senso de responsabilidade que me atordoa. Não há como fingir que eu não posso mudar coisa nenhuma.

Não sei se adoto meus filhos, se aprendo a usar as leis de incentivo à Cultura ou se me candidato à vereadora, mas preciso encontrar uma maneira de trazer melhores perspectivas. Eu me recuso a aceitar que licenças ambientais são negociáveis, que a educação é só uma formalidade e que política é um jeito de roubar o dinheiro público. Florianópolis, por exemplo, gastou 6 milhões de reais para construir 2 terminais que nunca foram utilizados.

Na minha opinião, a pessoa que autoriza este tipo de absurdo deveria ser julgado não apenas por mal uso de verba, mas também por todas as consequências indiretas que o desvio causou. A cifra que se joga fora em uma obra desnecessária deixa de ser utilizada em causas urgentes, ou pelo menos importantes: se alguém morre atropelado num trecho onde não há calçada, dá pra chamar isso de má sorte?

Vou dormir tentando achar a resposta e já desperto cansada. Mas - é preciso deixar claro - o problema maior não é o sono. Está cada vez mais insuportável ficar acordada.

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Lacoste in the Sky

O céu estava nublado. Da janela do querto dava para ver as luzes de algum holofote superpotente dançando no escuro. Fiquei pensando no futuro, quando as luzes ficarem fortes a tal ponto que se possa projetar palavras, marcas, coisas assim. Acho que ia ter uma fila de gente querendo anunciar nas nuvens. Será que já existe legislação para esse tipo de uso do espaço aéreo? Ou será que em 2109 as pessoas vão achar estranho quando lerem o nosso céu tinha estrela?

terça-feira, 19 de maio de 2009

Roubaram meu tempo

Escrever exige tempo. Faço tanta coisa chata que quando tenho tempo para escrever algo legal, eu fico com preguiça. Namorar exige tempo. Ter irmãos exige tempo. Tentar trocar uma passagem aérea exige muito tempo.
Eu queria que inventassem alguma coisa para devolver o tempo.
Ex: se eu ligasse para a Decolar.com e passasse 36 minutos e ninguém resolvesse o meu problema, eu deveria ser ressarcida em minutos grátis.


–Sra Sarah, como não conseguimos efetuar sua transição, devolveremos seu tempo. A senhora tem 36 minutos de crédito para serem usados hoje ou amanhã, turno matutino ou noturno.
–Eu posso ficar com o crédito e usá-lo na sexta feira?
–Claro, mas lembre-se que todas as solicitações devem ser confirmadas com 24 horas de antecedência.
–E como eu faço para avisar?
–A senhora deve entrar em contato por telefone.
– E se a ligação demorar?
–A senhora deve aguardar na linha.
–E serei ressarcida por esses minutos também?
–O tempo de espera da confirmação não é reembolsável.
–E quanto tempo demora esse atendimento?
–É variável, senhora Sarah.
–Mas normalmente, assim?
–Eu posso verificar a média no sistema. A senhora deve aguardar na linha.
Antes que eu responda começo a escutar:
"Voe decolar,
o maior site de viagens da américa Latina.
Passagens aéreas com desconto, hotéis fantásticos a preços incríveis. "
De fundo, uma música romântica, algo com teclado e sem voz. A musiquinha toca seis vezes. A mesma. Se eles sabem que vai demorar deveriam variar, ou dar a opção de ouvir rádio ou notícias... Enquanto eu pensava isso, o telefone fica mudo, como se tivesse caído a ligação. Começo a sentir falta da musiquinha. Pelo menos, ela dava a certeza de que ainda estou na linha. O silêncio me angustia, mas nao quero desligar porque vai ser bom ter esses 36 minutos de sexta à noite. Ou mesmo amanhã de manha. Se nao der certo, talvez eu peça para repor agora mesmo.
1 minuto e 10.
2 minutos e 50.
4 minutos.
–Alô? Alô? Tem alguem na linha?
Alô?
Decido esperar só mais 30 segundos quando sou surpreendida pela voz do outro lado.
– Senhora Sarah, o tempo médio de espera é de 44 minutos.
–44 minutos? Que absurdo! Quer dizer então que se eu tenho um crédito de 36 minutos, na verdade vou perder oito minutos?
– O nosso tempo médio de espera é de 44 minutos.
– Nao, nem pensar. Eu quero repor os meus 36 minutos agora.
– Devo informá-la senhora Sarah que o seu crédito atual é de 14 minutos.
–Mas nao eram 36?
–É que o tempo de informações adicionais também é automaticamente descontado do crédito de minutos.
–Que palhaçada! Vou falar bem rápido então: quero usar meus créditos agora.
–A sua ligação está sendo transferida para o setor de confirmação.

TUM TUM TUM TUM

Conclusão possível: O jeito mais eficiente de recuperar o tempo é desinventar o telemarketing.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Quereres

Essa vídeo do Chico e do Caetando juntos é muito didático. O amor é mesmo um descompasso.

"O quereres e o estares sempre a fim
Do que em mim é de mim tão desigual
Faz-me querer-te bem, querer-te mal
Bem a ti, mal ao quereres assim
Infinitivamente pessoal
E eu querendo querer-te sem ter fim
E, querendo-te, aprender o total
Do querer que há e do que não há em mim."

(Caetano veloso)

sábado, 16 de maio de 2009

Cadê?


Eu perdi os meus cds. Ontem à noite me dei conta de que não tenho a menor ideia de onde estão os milhares de cds que eu já comprei ou ganhei de presente. Lembro que eles iam se acumulando, dois ou três na mesma caixinha sem dentes (quando abre, cai tudo!). Acho que uns eu emprestei e nunca mais lembrei de pegar de volta, outros arranharam. A maior parte sumiu. Sobraram só os encartes.

É uma pena. As músicas são um passaporte para o passado. É fácil lembrar como eu me sentia em determinado momento ao escutar um som. Por pior que fosse. Quando inventaram a internet, eu escutava Legião Urbana, meu primeiro namoro foi só pagode, depois eu gostei do Grande Encontro e conheci Mundo Livre SA. Na faculdade, eu comecei a ir para Porto Seguro e passei alguns meses viciada no Axé do mais trash.

Desde então, não comprei mais cds. Fiquei acomodada com a internet e hoje escuto direto do computador. Gravo pouca coisa. Fico tranquila achando que quando eu quiser encontrar uma música, é só baixar. Mas quem garante?

Por quanto tempo as músicas de hoje vão ficar na rede? Será que vai ser fácil achar "Faca" do Mombojó daqui a 30 anos? Ou será que quando eu clicar [2000-2010] em algum portal de música a lista vai ser "Festa no apê" "Tropa de Elite" "Dança do Quadrado"?

...Acho que é melhor me prevenir e começar a reunir o que eu escuto num arquivo. De ferro.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Nitidamente gasto

Não te olho mais com os olhos do começo.

Coloquei as minhas lentes de cansaço,

Pouco a pouco ficou claro o teu avesso.

Toda tarde eu faço os mesmos julgamentos.

Repenso teus atrasos, teus descasos.

Me convenço de que o amor já se mudou de mim.

O emprego dos meus sonhos

O emprego dos meus sonhos ainda não existe. Talvez eu precise inventá-lo.

A minha função seria ajudar as pessoas a escreverem. Mas não como uma aula de redação para vestibular, e sim para outros textos importantes.

Público alvo: pessoas que odeiam escrever e detestam o que escrevem

Como funciona: Alguém precisa escrever um discurso de formatura, um artigo para revista, quer fazer as pazes com o pai, precisa escrever um depoimento no orkut e não tem a menor idéia de como começar. Essa pessoas me manda um e-mail com um rascunho que ela mesma escreveu e dizendo o que é importante que conste no texto. Eu leio e mando um e-mail com perguntas para melhorar a redação. Eu edito, corrijo o Português, vejo em quais pontos há falha de argumentação e dou sugestões para que o texto fique limpo e bem estruturado. Envio de volta, o cliente lê, faz as suas observações. Eu altero até que a pessoa "escreva" o texto que sempre sonhou!

Quem ganha com isso? Toda a sociedade! Eu prometo que ia programar os discursos para durarem no máximo 8 minutos e nunca, jamais, em hipótese alguma usaria as metáforas "A vida é uma estrada" ou "A vida é feita por etapas". Os depoimentos do orkut não teriam expressões como "essa pessoinha que eu amo".


Pra mim ia ser ótimo. Eu poderia passar a vida escrevendo cartas de amor...

domingo, 10 de maio de 2009

...

A saudade faz o tempo correr de joelhos.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Premonição, paranoia ou odisseia do copo d´água

***Aconteceu exatamente assim.

Quando já estava no quinto degrau da escada, escutei a voz de Marcelo: "Amor, me traz um copo d´água?" Mesmo com um monte de coisas na mão, respondi que sim.

Voltei ao térreo. Enquanto me dirigia à cozinha, tive a estranha certeza de que alguma coisa iria dar errado. Me conheço. Sei que não tenho coordenação motora suficiente para carregar uma bolsa, um lap top, um travesseiro e um copo sem derrubar nada.

"A água vai virar", pensei.

A fim de minimizar as chances de tomar um banho, tentei achar uma jarra. Não encontrei. Escolhi então um copo grande e cuidei para não enchê-lo até a boca.

"O copo vai cair", minha cabeça insistia.

Ciente de que era arriscado segurar tudo junto , resolvi fazer duas viagens: peguei o copo, subi a escada, deixei-o na mesa do computador. Desci a escada, peguei a tralha, subi e levei até o quarto. Voltei, peguei o copo e finalmente apoiei-o no criado mudo, ao lado da minha cama.

-Que cara é essa, meu amor. Tá sofrendo? pergunta Marcelo enquanto se aproxima de mim.

-É que eu tava com a impressão...

(antes que eu terminasse a frase, ele abre os braços para me abraçar. Sua mão bate no copo, que cai no chão. A água encharca a minha colcha e o tapete)

- de que isso ia acontecer.

terça-feira, 5 de maio de 2009

Diário da princesa haha

Hoje fiz a minha primeira entrevista de emprego. Acho que foi bem melhor do que eu esperava. Se tudo der certo vou fazer pesquisa para um livro que será lançado daqui a cinco meses. Super.
A outra notícia boa é que a veterinária autora do livro das pelagens aceitou todas as minhas modificações no texto dela. Super.
Ás vezes, converso com gente que me chama de louca por ter desistido da Medicina.
Eles não sabem como eu estou feliz.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Amor não é o bastante

*** A autora do texto é a psicóloga Ana Paula Pamplona. Eu editei.



Novelas sempre terminam em casamento. O “sim” da mocinha, de véu e grinalda,traz a certeza de que eles serão felizes para sempre. Na vida real, no entanto, o casamento é o início de uma nova novela que ninguém sabe como vai acabar.

As regras que sustentavam o casal mudaram. O modelo de casamento dos nossos avós já não funciona mais. A mulher saiu de casa para trabalhar e hoje divide com o homem o cuidado dos filhos. O homem perdeu cargo de chefe e assumiu o posto de companheiro. O tamanho da família encolheu e hoje há quem escolha a opção de ser para sempre “dois”. Todas essas mudanças abalaram a estrutura familiar e é por isso que constantemente nos vemos confusos e inseguros frente ao casamento.

Mas ainda assim, nós queremos casar. Embora as estatísticas mostrem que o divórcio nunca esteve tão em alta, registra-se também um número significativo de pessoas dispostas a assumir um compromisso em nome do amor.

O problema é que o amor, por si só, não basta. Mesmo imensurável, incontrolável e tão poderoso, o amor, sozinho, não agüenta. Lealdade, sensibilidade, consideração, fidelidade, confiança, respeito e generosidade são também qualidades imprescindíveis para sustentar a união.

Escolher passar a vida com outra pessoa nos dá acesso a um tipo de relação muito diferente da que temos com aqueles que amamos e que também são próximos de nós. Quando elegemos alguém para viver junto, criamos expectativas. Queremos ter o amor, o apoio e
amparo incondicionais que nunca ninguém nos proporcionou. Esperamos que nosso parceiro se empenhe em atender nossos desejos, seja com uma declaração de amor, um beijo de boa noite
ou trocando a resistência do chuveiro. Assim, tudo que nosso cônjuge faz vem carregado de significados.Interpretamos cada atitude conforme nosso próprio conceito do que “devia ser”.

Nesse julgamento silencioso, muitas vezes, nos decepcionamos e erramos também. Falhas simples podem fazer com que casais deixem de agir de forma racional e passem a culpar-se mutuamente. Ao permitir que as hostilidades e os desentendimentos tomem conta do nosso dia-a-dia, deixamos de enxergar tudo de positivo que o outro faz.

Para fazer um casamento funcionar, é preciso desenvolver a capacidade de ver e ouvir com mais acuidade. Escutar atentamente, de forma não defensiva e levar em consideração o sentimento alheio são atitudes importantes para quebrar o ciclo vicioso de queixa-crítica- defensividade-desdém. Permite entender as necessidades do outro e traçar novas estratégias.

Além disso, precisamos desenvolver a comunicação. Pela internet, falamos virtualmente com todo o planeta e não conseguimos nos conectar com que dividimos o lençol. As palavras e a linguagem corporal são importantes no estabelecimento e manutenção da intimidade com o companheiro. É fundamental que o outro entenda plenamente o que queremos dizer antes que um simples “Não esqueça de trazer o pão quando vier!” seja entendido como um ataque e rebatido com um “Não me diga o que fazer. Não sou seu filho!”.

Numa discussão, normal entre casais, vale a pena tentar acalmar-se e identificar estados de descontrole emocional, tanto em si como no outro. É crucial que as pessoas reconheçam que não há vítimas em um casamento infeliz. Por mais sem esperança que um casamento pareça,
sempre temos várias opções. Cabe a cada um assumir a responsabilidade de fazer e ser feliz.

Nem mocinhos, nem vilões. Nessa novela, somos todos autores.

Você conhece este chapéu?



O nome dessa touquinha é barrete frígio. É reconhecida como símbolo da liberdade. Era usada por ex-escravos no Império Romano e durante a Revolução Francesa.
Como mostram as fotos, é uma peça muito versátil...

sábado, 2 de maio de 2009

Constatação


Com tanta destruição, os bichos do futuro serão de pelúcia.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

25 anos, para mim

Hoje tenho consciência de que já fiz algumas coisas pela última vez.

Ao olhar para trás, encontro lembranças ótimas de situações que eu

nunca mais gostaria de viver de novo. Todo dia que passa me modifica

um pouco, de modo que algumas coisas que antes eu amava tanto,

agora já não caem bem em mim.


TROTE DE FACULDADE

Recordo perfeitamente eu enfarinhada, com batom na testa,

pedindo dinheiro no semáforo. Por mais suja e

fedorenta que estivesse, na época, valia a pena. Achava até

engraçado passar vergonha para me enturmar.

Quando mudei de curso, fugi do trote. Outro, só quando

eu reencarnar...


NIGHTS

Houve um tempo em que eu vivia para elas. Provava o armário todo,

me arrumava, fazia esquenta. Dançava, bebia, ria. Voltava pra casa

destruída e contente.

Passou. As filas, que nunca eram um problema, agora

são só o que eu enxergo. Fila para entrar, para comprar, para o

banheiro, para pagar, para sair. Perdi a paciência de esperar

e sinto que meus ouvidos já não são tão tolerantes. Fico agoniada

de gritar para conversar e de cumprimentar gente

chata. Morro de nojo sempre que um cara suado esbarra em mim.


MELODRAMA

Quando meu primeiro namoro terminou, foi devastador.

Passei duas semanas chorando e dormindo, perdi 8 kg, me humilhei

até passar do limite. Claro que eu ainda fico mal toda vez que brigo

com quem eu gosto, mas a diferença é que agora sei que

vou sobreviver. Acho que sofro com mais dignidade.


À medida que os anos passam, ficam claros os ciclos: primeiro eram

as festas americanas, depois as de quinze, os shows, as formaturas

e agora são os casamentos. Antes meu pai me buscava, aos 20 achava o

máximo ir dirigindo, hoje dou graças a Deus quando pego carona por

preguiça de estacionar.

Já quis lipo, já quis mega hair, atualmente quero sobrinhos.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Mensagens Indesejadas

Depois de comer uma pizza, os dois em casa como sempre,

ele resolveu olhar os e-mails no computador. Nome, senha,

enter e a ampulheta apareceu. Tentou minimizar a janela,

mas não tinha jeito.

- Meu, não consigo entrar...

- Ai amor, desencana, esse laptop quando trava não tem jeito.

Só desligando...

Roberto até cogitou a hipótese, mas estava sem muita paciência para

isso. Não estava disposto a perder seus últimos dez minutos de paz

esperando atualizar o anti-virus. Precisava chegar no trabalho a uma

e meia e era melhor andar rápido.

- Não dá nada, babe. Vou nessa, disse enquanto tomava o último gole

de coca .

- Me liga quando sair...

Beto cruzou a porta. Amanda voltou e sentou em frente à tela.

Segurou o mouse um pouco sem saco. “Segunda-feira eu levo essa

porcaria pra formatar...”. Pensava como tinha sido enfática na

palavra porcaria quando foi surpreendida pelo Olá Roberto!

no cabeçalho do gmail.

Se em algum momento ela tivesse planejado isso, nunca teria sido

tão fácil. De repente, sem nenhum esforço, o destino a apresentara

ao poço dos segredos dele. Se fosse uma gaveta com cartas reais,

talvez ela nunca tivesse coragem de terminar de girar a chave, ou

só girasse se soubesse que não tinha ninguém em casa.

Mas abrir gavetas virtuais não deixa testemunhas.

Entro? Não entro. Entro? Não entro... Entro..É, só um pouquinho...

Pra dar uma checada... se não tiver nada eu saio logo... Aos poucos,

Amanda foi se convencendo de que invadir a caixa de entrada do

namorado não era uma falta grave, era apenas uma confirmação de

fidelidade, extremamente necessária.

Conferiu um por um. Promoção da Saraiva, cartões Vox Cards

com os vírus de sempre, vagas de estágio da universidade.Procurou

nas mensagens enviadas e se sentiu um pouco culpada: encontrou

vários e-mails que ele escreveu para ela na última viagem.

Decidiu fazer a pesquisa. Procurou a palavra “amor”, que é como ele

se despede por escrito. Encontrou exatamente 102 ocorrências.

Palestra sobre amor na logosofia. “Olha que amor”, título do e-mail

da tia com as fotos do cachorro recém nascido. Quando estava indo

para a página 4 seus olhos tropeçaram em um sobrenome vagamente

conhecido.

“O amor não tem fronteiras”. Suspeito.

Clicou. Claro que conhecia. Era um spam enviado pela ex dele.

O texto tinha alguma coisa de bonito e uma coleção de clichês. Fora

mandado um ano atrás, quando Roberto e Amanda já namoravam.

Amanda ficou com isso na cabeça. Não encontrou detalhes sórdidos

de uma noite de sexo, não encontrou comentários comprometedores

dos amigos sobre as vezes em que ele saiu sozinho, encontrou apenas

um spam da ex.

Mesmo assim, odiou imaginar Roberto abrindo aquele e-mail como quem

espera uma declaração. Odiou imaginá-lo triste ao perceber que havia

mais umas quinze pessoas na lista de remetentes. E odiou mais ainda

pensar que ele só não deletou o spam porque era a ex quem tinha

mandado. Ao contrário, guardou-o carinhosamente numa

pasta chamada “Fê”.

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Apesar dos negativos

Fotos contam historias, fotos falam por si. Recentes ou envelhecidas,

só quem viveu sabe da mágica peculiar contida em cada um desses

retângulos de papel. Combustível da saudade, freiam o tempo e têm

o poder de trazer de volta um rua que não este mais, a infância que o

tempo soprou, o abraço de alguém que se foi.Fotos são um certificado

de vida, a prova de que alguém amou. Amor de pai, de amigo, de irmão,

nenhum outro tipo de amor é tão revelado quanto o amor amor.

Mas logo que o romance termina os beijos acabam amassados no lixeiro

do quarto. A justificativa é sempre a mesma: é preciso esquecer.

Esquecer um grande amor é difícil e demorado. Por mais que se evite

pensar no fim, uma musica toca e o processo de amnésia seletiva vai por

lágrima abaixo. Uma vez, outra vez, outra vez, até que um dia a musica

vem e o choro não. Pronto. O riso volta pra casa, o coração fica leve.

A gente fala e acredita que esqueceu. Não é bem por ai.


O esquecimento não passa de uma maneira pratica que a cabeça

inventou para acabar com o problema da falta de espaço, rudimentar

como arrumar uma gaveta de escrivaninha.Do mesmo jeito que as

caneta sem carga,somem dos pensamentos o telefone do dentista e

os números do cpf, num processo de autoclean que não apaga a mão,

o beijo, o cheiro de um ex.


Não é por acaso que as paixões resistem a essa borracha inconsciente:

mais que deletados, os amores precisam ser aprendidos. Limitar o

ciúme, administrar a saudade, valorizar os amigos e os conselhos

que eles dão. Só o repensar dos nossos erros e acertos pode

aumentar as chances num próximo affair. Para quem se resigna

a remoer mágoas, a novela tem sempre o mesmo final infeliz.


Esquecer um grande amor é arrancar o melhor do passado e

abrir as portas para um novo fracasso. Se a tristeza é inevitável

cabe a cada um decidir quão longa, intensa e reveladora ela será.

Só não sofre com a separação quem nunca esteve perto, quem nunca

esbarrou na felicidade real de gostar de alguém. Pense nos finais de

semana, nas mensagens de boa noite no celular, e se ainda houver

alguma dúvida de que relembrar vale a pena basta pegar as fotos e

ouvir o que elas têm a dizer.

*** Este texto é bem antigo também. Estou meio ocupada essa semana
corrigindo os textos da Mundo Equestre e um livro sobre pelagens de
cavalo.

domingo, 19 de abril de 2009

Colégio interno

***Dentro de mim, métodos antigos para "ensinar a lição" ***

Minha raiva me enche de razão. Toda vez que me sinto

injustiçada é como se eu recebesse uma autorização para

ser cruel. Tenho vontade de ferir até que a outra pessoa

se arrependa, até que ela perceba o tamanho do erro.

Parece didático que cada pisada na bola mereça uma punição.

O castigo deve ser ruim o suficiente para que garantir que

aquilo nunca mais se repita. A ofensa justifica a minha

vontade de vingança.


Mas isso é só num segundo estágio. Primeiro, a raiva me

rouba as palavras. Sem qualquer possibilidade de articular

meus pensamentos, eu choro. Demoro a acreditar que está

mesmo acontecendo. Queria ser dessas que quebram coisas

na parede, mas a agressividade não faz parte do meu instinto.

Choro até cansar. Depois, ai de quem estiver por perto.


Sou sincera muito além do que a educação permite.

Enfio a unha em cada defeito alheio, despejo tudo o que me

incomoda de uma vez só. Distorço as situações a meu favor e ,

claro, não saio impune. Cada acusação é rebatida na mesma

medida. A discussão engrossa. Saio despedaçada e, despedaçada,

eu me fecho.


Remôo todas as cenas incessantemente e sinto que o amor

vai secando de mim. Azedo por inteiro. Chego a pensar que não

vai me fazer falta, mas no fundo sei que me engano. Porque raiva

não é rancor. Raiva passa. E quando vai embora deixa um rombo

enorme, um buraco que ajudei a cavar.


Na esperança de provocar arrependimento, eu mesma

digo coisas de que me arrependo e faço coisas das quais não me

orgulho. Confundo justiça com equilíbrio: dou o troco, magoo igual.

Confortável reclamar de impaciência e intolerância quando todos

os defeitos estão do outro lado. Às vezes, me falta espelho; às vezes

me falta gratidão...


*** Em Santa Catarina, a raiva matou mais que o tráfico no primeiro
semestre de 2009. Os crimes passionais somados aos assassinatos
por desavenças tiraram a vida de 75 pessoas. As drogas levaram 45.
(dados da Secretaria de Segurança Pública)

Amores Express

A pizza vem congelada, a roupa lava sozinha, o Mc donald´s

entrega em casa, e o filme não precisa mais rebobinar.

Ninguém abre a Barsa para fazer um trabalho, cada um

tem seu celular. De uns tempos para cá, ficou tudo tão

cômodo que a gente até se esqueceu que nem sempre

foi assim.


A tecnologia nos deu um mundo novo: mais rápido, mais

fácil e, antes de mais nada, passageiro. O hotmail rasga

automaticamente as minhas cartas; as fotos somem sempre

que o computador estraga; todo mês, surgem milhares de

modelos de telefone. Estranho? Claro que não. Já estamos tão

acostumados que mal percebemos a insolidez e

instantaneidade das coisas.


E não é à toa. Nós vestimos assim, comemos assim, e o mais

triste: nossos relacionamentos também são assim.

A minha geração inventou o ficar e admite tranquilamente

o sexo sem compromisso. Diferente da minha mãe, eu não

preciso namorar para beijar na boca, nem casar para deixar

de ser virgem
e se aos 17 eu me sentia em vantagem, hoje

eu começo a apreciar aquela época.


Para onde foram as promessas, os planos, as declarações? O que

aconteceu com a intimidade, o respeito e a confiança? Será que

ninguém mais acredita na felicidade calma das quartas-feiras chuvosas,

da alegria constante de se querer quem se tem?


A verdade é que eu cansei dessas competições infames do

“quem demora mais para mandar mensagem”, chega do teatro infantil do

“vou fingir que não vi”. O amor é um jogo esquisito, em que

se ganha quando dá empate. Não quero sair por cima,

muito menos sair por baixo. Quero sair ao lado, e de

mãozinha se for possível.



O consumismo nos induz a um estado de insatisfação permanente,

que aplaude o descartável e abomina tudo que for para sempre.

Talvez seja por isso que a idéia de amar assuste tanto. A concepção

de um sentimento duradouro e complicado contraria os valores vigentes

tornando-nos confusos e vulneráveis. É fácil conquistar

alguém por uma noite, é fácil ser atraído por um decote, difícil é querer

estar junto o tempo todo, difícil é morrer de ciúme...



Eu posso parecer atrasada ou até meio cafona. Simplesmente

não tenho outra opção. Enquanto a internet não disponibiliza

uma versão melhor, eu fico com esse meu coração de sempre,

que já não acredita em romances express, nem se contenta

com amostras grátis de amor.





Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...