segunda-feira, 27 de abril de 2009

Mensagens Indesejadas

Depois de comer uma pizza, os dois em casa como sempre,

ele resolveu olhar os e-mails no computador. Nome, senha,

enter e a ampulheta apareceu. Tentou minimizar a janela,

mas não tinha jeito.

- Meu, não consigo entrar...

- Ai amor, desencana, esse laptop quando trava não tem jeito.

Só desligando...

Roberto até cogitou a hipótese, mas estava sem muita paciência para

isso. Não estava disposto a perder seus últimos dez minutos de paz

esperando atualizar o anti-virus. Precisava chegar no trabalho a uma

e meia e era melhor andar rápido.

- Não dá nada, babe. Vou nessa, disse enquanto tomava o último gole

de coca .

- Me liga quando sair...

Beto cruzou a porta. Amanda voltou e sentou em frente à tela.

Segurou o mouse um pouco sem saco. “Segunda-feira eu levo essa

porcaria pra formatar...”. Pensava como tinha sido enfática na

palavra porcaria quando foi surpreendida pelo Olá Roberto!

no cabeçalho do gmail.

Se em algum momento ela tivesse planejado isso, nunca teria sido

tão fácil. De repente, sem nenhum esforço, o destino a apresentara

ao poço dos segredos dele. Se fosse uma gaveta com cartas reais,

talvez ela nunca tivesse coragem de terminar de girar a chave, ou

só girasse se soubesse que não tinha ninguém em casa.

Mas abrir gavetas virtuais não deixa testemunhas.

Entro? Não entro. Entro? Não entro... Entro..É, só um pouquinho...

Pra dar uma checada... se não tiver nada eu saio logo... Aos poucos,

Amanda foi se convencendo de que invadir a caixa de entrada do

namorado não era uma falta grave, era apenas uma confirmação de

fidelidade, extremamente necessária.

Conferiu um por um. Promoção da Saraiva, cartões Vox Cards

com os vírus de sempre, vagas de estágio da universidade.Procurou

nas mensagens enviadas e se sentiu um pouco culpada: encontrou

vários e-mails que ele escreveu para ela na última viagem.

Decidiu fazer a pesquisa. Procurou a palavra “amor”, que é como ele

se despede por escrito. Encontrou exatamente 102 ocorrências.

Palestra sobre amor na logosofia. “Olha que amor”, título do e-mail

da tia com as fotos do cachorro recém nascido. Quando estava indo

para a página 4 seus olhos tropeçaram em um sobrenome vagamente

conhecido.

“O amor não tem fronteiras”. Suspeito.

Clicou. Claro que conhecia. Era um spam enviado pela ex dele.

O texto tinha alguma coisa de bonito e uma coleção de clichês. Fora

mandado um ano atrás, quando Roberto e Amanda já namoravam.

Amanda ficou com isso na cabeça. Não encontrou detalhes sórdidos

de uma noite de sexo, não encontrou comentários comprometedores

dos amigos sobre as vezes em que ele saiu sozinho, encontrou apenas

um spam da ex.

Mesmo assim, odiou imaginar Roberto abrindo aquele e-mail como quem

espera uma declaração. Odiou imaginá-lo triste ao perceber que havia

mais umas quinze pessoas na lista de remetentes. E odiou mais ainda

pensar que ele só não deletou o spam porque era a ex quem tinha

mandado. Ao contrário, guardou-o carinhosamente numa

pasta chamada “Fê”.

Um comentário:

  1. Assunto delicado esse da sua história... adoro suas crônicas e "acho" que detectei a inspiração pra essa... acho,apenas!! acho que isso já deva ter acontecido com todo mundo e se a sua história continuasse, o namorado nunca iria perceber essa nova pasta criada por ela... hahaha, são tão desligados alguns desses meninos!! Beijo beijo

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