Depois de comer uma pizza, os dois em casa como sempre,
ele resolveu olhar os e-mails no computador. Nome, senha,
enter e a ampulheta apareceu. Tentou minimizar a janela,
mas não tinha jeito.
- Meu, não consigo entrar...
- Ai amor, desencana, esse laptop quando trava não tem jeito.
Só desligando...
Roberto até cogitou a hipótese, mas estava sem muita paciência para
isso. Não estava disposto a perder seus últimos dez minutos de paz
esperando atualizar o anti-virus. Precisava chegar no trabalho a uma
e meia e era melhor andar rápido.
- Não dá nada, babe. Vou nessa, disse enquanto tomava o último gole
de coca .
- Me liga quando sair...
Beto cruzou a porta. Amanda voltou e sentou em frente à tela.
Segurou o mouse um pouco sem saco. “Segunda-feira eu levo essa
porcaria pra formatar...”. Pensava como tinha sido enfática na
palavra porcaria quando foi surpreendida pelo Olá Roberto!
no cabeçalho do gmail.
Se em algum momento ela tivesse planejado isso, nunca teria sido
tão fácil. De repente, sem nenhum esforço, o destino a apresentara
ao poço dos segredos dele. Se fosse uma gaveta com cartas reais,
talvez ela nunca tivesse coragem de terminar de girar a chave, ou
só girasse se soubesse que não tinha ninguém em casa.
Mas abrir gavetas virtuais não deixa testemunhas.
Entro? Não entro. Entro? Não entro... Entro..É, só um pouquinho...
Pra dar uma checada... se não tiver nada eu saio logo... Aos poucos,
Amanda foi se convencendo de que invadir a caixa de entrada do
namorado não era uma falta grave, era apenas uma confirmação de
fidelidade, extremamente necessária.
Conferiu um por um. Promoção da Saraiva, cartões Vox Cards
com os vírus de sempre, vagas de estágio da universidade.Procurou
nas mensagens enviadas e se sentiu um pouco culpada: encontrou
vários e-mails que ele escreveu para ela na última viagem.
Decidiu fazer a pesquisa. Procurou a palavra “amor”, que é como ele
se despede por escrito. Encontrou exatamente 102 ocorrências.
Palestra sobre amor na logosofia. “Olha que amor”, título do e-mail
da tia com as fotos do cachorro recém nascido. Quando estava indo
para a página 4 seus olhos tropeçaram em um sobrenome vagamente
conhecido.
“O amor não tem fronteiras”. Suspeito.
Clicou. Claro que conhecia. Era um spam enviado pela ex dele.
O texto tinha alguma coisa de bonito e uma coleção de clichês. Fora
mandado um ano atrás, quando Roberto e Amanda já namoravam.
Amanda ficou com isso na cabeça. Não encontrou detalhes sórdidos
de uma noite de sexo, não encontrou comentários comprometedores
dos amigos sobre as vezes em que ele saiu sozinho, encontrou apenas
um spam da ex.
Mesmo assim, odiou imaginar Roberto abrindo aquele e-mail como quem
espera uma declaração. Odiou imaginá-lo triste ao perceber que havia
mais umas quinze pessoas na lista de remetentes. E odiou mais ainda
pensar que ele só não deletou o spam porque era a ex quem tinha
mandado. Ao contrário, guardou-o carinhosamente numa
pasta chamada “Fê”.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Mensagens Indesejadas
Marcadores:
mensagens indesejadas,
olhar e-mail namorado,
papel baunilha,
quase,
sarah westphal
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.
Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...
-
As portas da igreja se abriram e lá estava ela, linda como eu já imaginava, ao lado do pai emocionado. Olhou para o altar com um encantam...
-
Na próxima vida, espero ser mais prudente. Quero nascer com a habilidade de prever a catástrofe e dar dois passos pra trás. Pelo me...
-
Vou colocar em inglês pra ver se fica mais bonito. Por algum motivo, perdão não soa bem. Claro que poderia ser pior, vide jubileu e r...
Assunto delicado esse da sua história... adoro suas crônicas e "acho" que detectei a inspiração pra essa... acho,apenas!! acho que isso já deva ter acontecido com todo mundo e se a sua história continuasse, o namorado nunca iria perceber essa nova pasta criada por ela... hahaha, são tão desligados alguns desses meninos!! Beijo beijo
ResponderExcluir