domingo, 28 de junho de 2009

Gavetas Virtuais



Onde ficam guardados os e-mails que você recebe?
No Gmail.
E onde fica o Gmail?
Na Internet.
E onde fica a Internet?
Em lugar nenhum.

Era assim que eu pensava que as coisas funcionavam. Achava que os textos, fotos e informações que a gente coloca na Internet estariam boiando na rede. Como? Não sei. Minha crença era quase religiosa. O mistério da fé, para mim, era acessar a minha conta...

Demorou muito tempo para que eu descobrisse que não é bem assim. Como o próprio nome diz, é uma rede. Os computadores estão conectados e o que a Internet faz não é "entrar nos sites que estão no ar (ou seria no mar?)", e sim puxar os sites que estão guardados em computadores ligados 24 horas por dia. Por isso, quando você cria um site, precisa pagar um aluguel para uma empresa hospedá-lo. Hospedar é arquivar o site dentro de uma máquina sempre conectada à Internet. Caso contrário, se você desligasse o computador, seu site não poderia mais ser encontrado.

A partir desse conceito, fica um pouco menos complexo entender como o Gmail e o Orkut funcionam. Quando se abre uma conta, você ganha o direito de armazenar seus dados em computadores deles. Ao fazer o login, pode mexer nesse espaço de memória que é seu. Os seus amigos conseguem ver o seu profile e deixar recados para você pois a máquina que guarda as suas informações está ligada também.

Revelador, não?

quinta-feira, 25 de junho de 2009

BR 101

Não houve leptospirose que me fizesse tirar o caldo de cana da cabeça.
"Lanchonete:500m", "Lanchonete:300m". Na volta de Blumenau, com a boca cada vez mais seca, eu ia lendo 200m, 100m, aqui. Aproveitei que estava sem o Marcelo, que foi criado no carpet e não enxerga a graça ( só o risco) de comer qualquer coisa na estrada, e parei o carro.
Dois atendentes e ninguém no bar. Decidi enfrentar o medo do assalto, seguido de estupro e assassinato, e pedi um copo. "Aqui o sistema é diferente, é rodízio".
Aceitei.
Rodízio quando é da mesma coisa devia ter outro nome. Era sempre a mesma jarra, o mesmo gosto. A única coisa que rodava era o garçom. Orbitava em torno da minha mesa, e era só eu esvaziar o copo dois dedos que ele já vinha encher. Eu juro que tentei, mas não consegui chegar até a metade. Tomava, tomava e estava lá o copo inteiro de novo.
Eu podia ter ido embora depois de matar a sede, mas como toda gordinha, pedi uma pamonha para acompanhar. Ficava pronta em cinco minutos. Resolvi olhar a loja.
Fiquei chocada: tinha todo tipo de artesanato do Nordeste, desde o Padre com o peru de fora, passando pelas galinhas de angola e telhinhas com baianas para pendurar na parede. Será que vem tudo de São Paulo?
Voltei pra mesa. Feliz o tempo em que eu estava sozinha. Agora, dois homens, de 40 e poucos anos, tinham sentado atrás de mim. Ser olhada só é legal quando o cara é gato. No meu caso era um gordo bronzeado grisalho e oleoso, daqueles que não pedem o telefone, mas que deixam o cartão. Coloquei o óculos e esqueci. Fiquei me distraindo com as listras na palha do milho, com a fumaça ao desencapar a pamonha, com a textura do queijo. Virei pro lado sem querer, e ele tinha posto o óculos também, verde, de surf, espelhado. Me sorria como se esse fosse o "nosso código".
Demais pra mim.
Paguei, levantei e fui embora. Ficou a pamonha mexida e o copo... cheio.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Nada sincronizado

Depois de passar dois dias perplexa pensando na queda do diploma para Jornalismo, resolvi parar de me lamentar e aproveitar a nova lei. "Vou tirar uma carteira de trabalho como jornalista hoje. Para que esperar até terminar a faculdade, se no final, vai dar tudo na mesma?"
Entrei na internet, peguei o telefone do Ministério do Trabalho e resolvi me certificar dos documentos, antes de esperar na fila em vão.
-Eu gostaria de saber quais são os documentos necessários para me registrar como Jornalista...
-Tem a carteira?
-Não.
-Tem que dar entrada na carteira, depois pedir o registro.
-E o que precisa para eu me registrar como jornalista, agora que o diploma caiu?
-Como nós não recebemos nenhuma orientação do Supremo sobre como proceder para registrar jornalistas, continua tudo na mesma.
- Então precisa do diploma?
-Precisa.

"Ser brasileiro é uma pegadinha sem fim"
Bethânia Almeida

domingo, 21 de junho de 2009

Dez minutos para tudo fazer sentido

Curta do Selton Melo e Seu Jorge sobre os filmes do Quentin Tarantino.

// Hoje estou sem graça. Queria me dissolver como uma aspirina efervecente. Estar em todos os lugares e nenhum ao mesmo tempo. Ser alguma coisa volátil, suspensa e transparente, mas só quem não me enxerga é o meu gato siamês ingrato!

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Aos meus piores professores

É preciso mais do que pescoço para prender minha cabeça no meu corpo. É preciso que algo me surpreenda, que me chame atenção. A partir do momento em que a sala escurece e a voz do professor narra o que está escrito nos slides, minha mente começa a se despedir de mim. “Será que eu devo almoçar com o Marcelo?” “Tenho que achar uma sandália preta. Tem um casamento no final de semana” E por aí vai. Quando olho para frente, a boca do professor abre e fecha e eu não tenho a menor idéia sobre o que ele possa estar falando.

Reparo então nos meus colegas. Uma tenta puxar a cutícula do dedo indicador com a boca, outra inspeciona cuidadosamente as pontas duplas do cabelo, a que senta ao meu lado me cutuca e sussurra “Guria, são onze horas ainda...”Isso sem contar os que mexem no celular e balançam os pés. Definitivamente, meu problema não é um caso isolado. Chego à conclusão que talvez essa dificuldade de concentração seja menos um traço da minha personalidade e mais uma deficiência de determinados professores no cumprimento da função que lhes garante o pão e o cafezinho.

Ensinar não é para qualquer um. Não basta só entender do assunto, tem que saber e querer transmitir. No curso de Jornalismo da UFSC, alguns professores deixaram de ser aquele que ensina para ser aquele que faz a chamada, coloca meia dúzia de livros no xérox, prepara uma apresentação de Power Point, passa alguns conceitos nas primeiras aulas e divide o resto do semestre em cômodos, mas insuportáveis, seminários.

Os seminários são a escolha preferencial dos preguiçosos. Os professores viram alunos e os alunos tentam explicar o pouco que eles entenderam do texto. Não de todo o texto, daquelas 20 páginas que eram a “sua parte”. Sem experiência nenhuma no assunto e didática zero, o que poderia ser uma parte da metodologia de ensino passa a ser um método de tortura para os demais colegas. Os comentários dos docentes são, por vezes, medíocres e se limitam a repetir com palavras um pouco menos comuns o que o grupo acabou de dizer. Quando muito.

Será que pensam que a gente não nota que certos professores faltam mais do que os alunos relapsos? Será que acham que a gente não percebe quando assiste a uma aula enjambrada? Será que eles não veem o quanto incomoda quando um doutor nos exige que façamos algo que nem ele sabe fazer, sem ter a menor noção da complexidade e do tempo necessário para o trabalho?

Eu queria deixar claro que eu percebo. E olha que sou uma aluna mediana. Não copio tudo, chego sempre alguns minutos atrasada e, muitas vezes, não leio o que estava previsto. Estou consciente que a minha desorganização prejudica meu desempenho acadêmico e sou responsável por isso. Mas pelo menos tenho o consolo de que a minha desatenção atinge apenas a mim. Os maus educadores não têm essa justificativa. O descaso deles desestimula uma sala inteira.

E isso que sou uma aluna média. Imaginem o que os bons pensam de vocês...

***

PS: Do mesmo modo como tive professores lastimáveis, tive também professores muito empenhados e que influenciaram positivamente não só a minha vida acadêmica, quanto pessoal. Que recomendaram bons livros, que me atenderam com atenção, que me sugeriram diversas saídas para solucionar uma dúvida. Guardo seus ensinamentos com todo o respeito, carinho e consideração e agradeço por terem deixado o exemplo do profissional com que quero parecer.

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Vale o que for subitamente

"De novo" não é inédito, é repetido. O significado contraria a origem da palavra. Passei a vida toda usando essa expressão e só fui perceber isso ontem. Estava lendo um livro antigo e encontrei "novamente" no sentido de "pela primeira vez". Pareceu-me tão coerente. Esquisito é usar "novamente" quando queremos dizer "pela segunda vez"ou "mais uma vez."

***

Não há nenhuma novidade no que fazemos de novo. "De novo" sai com água. Não lembro do meu segundo beijo, nem do segundo dia na escola, nem da segunda vez que comi Mc Donald´s.
O que não é inédito na nossa história vira nota de rodapé, Times New Roman, fonte 3. Só as primeiras impressões abrem novos capítulos, com direito a negrito e caixas altas.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

De mim para mim mesma

Se eu não conhecesse as palavras, eu não sei o que se passaria dentro de mim. Desde a hora que eu lavo os cabelos, enquanto eu dirijo ou sonho, tudo que me percorre é a sonoridade da palavra. Minha cabeça não assiste quieta à quase nada. É como se cada paisagem, objeto, atitude viesse acompanhada de uma legenda acústica enunciada durante o sentir do olhar e dos ouvidos. Verbalizo, antes e depois de tudo.

quinta-feira, 4 de junho de 2009

doces tangerinas

O Marcelo não gosta de tangerinas. Diz que são meio nojentas, com aqueles fiapinhos brancos, e eu chego a ficar ofendida. Fico ofendida por que elas sempre foram minhas amigas, desde pequena. Laranja eu não sabia descascar, mas tangerinas!

Se um dia eu ficasse perdida numa ilha, ia torcer pra achar tangerinas. Imagina se eu encontro uma melancia? Fazer o que com uma manga sem faca? Tangerinas são muito práticas: dá pra comer com a mão e ainda mata a sede.

Descasquei. Tava branquinha mesmo, cheia de linha. Coloco-a na palma da mão:
-Marcelo, não parece um ouriço (sem espinho)?
Ele concorda. A gente ri.

Os gomos são perfeitos com suas veias e desenhos de gota de chuva. Um gomo do avesso lembra alguma coisa marítima, desses bichos do fundo do mar que parecem plantas. São feitos de água, vida e divisões.

Na falta de um recipiente mais apropriado, jogo as sementes no cinzero.
Poluo as tangerinas com as cinzas do Marcelo.

10 minutos para tudo fazer sentido

Curta do Selton Melo sobre os filmes do Quentin Tarantino.

//Hoje estou sem graça. Queria me dissolver como uma aspirina efervecente. Estar em todos os lugares e nenhum ao mesmo tempo. Ser alguma coisa volátil, suspensa e transparente, mas só quem não me enxerga é o meu gato siamês ingrato!






terça-feira, 2 de junho de 2009

O mundo é um moinho

Vídeo: O mundo é um moinho


Composição: Cartola

Ainda é cedo amor
Mal começaste a conhecer a vida
Já anuncias a hora da partida
Sem saber mesmo o rumo que irás tomar

Preste atenção querida
Embora saiba que estás resolvida
Em cada esquina cai um pouco a tua vida
Em pouco tempo não serás mais o que és

Ouça-me bem amor
Preste atenção, o mundo é um moinho
Vai triturar teus sonhos tão mesquinhos
Vai reduzir as ilusões a pó.

Preste atenção querida
De cada amor tu herdarás só o cinismo
Quando notares estás a beira do abismo
Abismo que cavaste com teus pés

Tive um dia cheio. Várias coisas para contar. Vou dormir e deixar que as histórias cresçam dentro de mim. Elas se arrumam sozinhas...

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...