Faz um ano que eu sentei na cadeira do salão de beleza e falei: pode pintar. Depois de 14 anos muito loira a minha vida precisava de mudança. Por dentro eu já me sentia diferente e escurecer o cabelo foi a forma de sinalizar isso. Ou talvez tenha sido só uma tentativa inconsciente de mudar de assunto: em vez dos detalhes do fim de um relacionamento, falaríamos de pontas duplas, tintas e descolorações.
Foi bom me ver diferente. A Sarah das fotos já não era eu. Sabia que demoraria para me acostumar com o novo look "Branca de Neve", mas jamais imaginei que esta seria apenas a primeira de uma série de transformações.
Terminar um namoro longo é abandonar a zona de conforto e se lançar numa partida de futebol aos 20 minutos do segundo tempo: ninguém para pra te explicar o que está acontecendo, nem pra te esperar entrar no ritmo.
Você se sente desatualizada. Cinco anos depois as músicas mudaram, as baladas mudaram e, na falta de uma amiga pra colocar o seu nome na lista, lá está você de volta na fila.
Suas técnicas de sedução estão totalmente out e você nem se lembra mais de como começar um papo leve com alguém. Espantar gatinhos passa a ser a sua especialidade: em quatro linhas de conversa você se dá conta que optou falar sobre os maiores dilemas da sua vida, quando seria muito mais inteligente perguntar se ele tem um cachorro.
Também é possível que surjam lembranças incômodas quando o assunto incluir datas comemorativas, viagens e feriados em geral. Você e seu ex estavam juntos provavelmente. Num lugar legal provavelmente. E você vai morrer de saudade muito provavelmente.
Lembre-se de evitar esses assuntos, porque a saudade é inevitável. Ela virá quando você menos espera. Numa terça-feira aparentemente inofensiva, numa festa absurdamente boa, num final de filme. De vez em quando, no meio de um congestionamento, você olha pro banco do carona e lá está ela, sentadinha, olhando para você.
Sinta a saudade, mas fique atenta para a confusão que ela costuma causar. Sentir saudade não significa que você não possa esquecê-lo, nem que você ainda o ama, nem que vocês devem ficar juntos para sempre. Significa que o passado foi bom. E o passado costuma parecer melhor ainda diante de um presente tão esquisito.
No começo é estranho, mas aos poucos você percebe que ficar sozinha também tem suas vantagens. O mundo fica bem maior. Agora a vida não é só você, seu amor, suas amigas e os amigos dele. Sair da bolha ensina um monte de coisas. Você vai aprender a se mostrar mais interessante, a se sentir mais segura perto de semi-conhecidos, a ser mais paciente com as situações e mais tolerante com os outros.
A música é horrível mas suas amigas estão adorando? Dance também. O cara é legal, mas não tem o menor potencial para ser o amor da sua vida? Nada impede que você vá ao cinema com ele. Arrisque-se, divirta-se, e principalmente, valorize-se. Aproveite que você não está apaixonada e não se coloque em situações que você não aprova.
Se você quiser encontrar o amor da sua vida na balada, vá em frente. Mas por favor, seja realista: mesmo que o estilo, a voz e a cor do olho fecharem com o cara dos seus sonhos, ainda falta todo o resto para que ele seja o cara dos seus sonhos. Não construa esse cara na sua cabeça enquanto você espera ele ligar.
Às vezes você se sente ótima, às vezes você torce para que o fim do mundo esteja perto. Faz parte. Quando as coisas parecerem horríveis, redimensione o drama. Se precisar falar com o seu ex, ligue. Se precisar desligar na cara, só não coloque a culpa em mim.
Dar tempo ao tempo é entender que você não precisa resolver toda a sua vida até o próximo final de semana. Enquanto o tempo não passa, não se leve tão a sério. Ocupe-se, saia ou alugue um filme para ver sozinha de pijama se estiver a fim.
Aproveite a sua liberdade para descobrir quem você é e ignore tudo que eu disse se não for o que você quer ouvir agora. Os primeiros meses são os mais complicados. É um tempo turbulento e cheio de mudanças. Lembro que um ano atrás eu nem sabia por onde começar.
Só agora eu vejo que comecei pelo cabelo.