quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Aprovada! Viva!


Existe um desconforto de elevador toda vez que 

passo o cartão de crédito.

Insiro o cartão, digito a senha e esperamos processar a compra.

Eu e a vendedora, sem assunto ou intimidade,

focamos então a maquininha.

Por puro constrangimento, cria-se espécie de 

micro torcida pela aprovação, um mini suspense.

São alguns segundos de silêncio e expectativa.

A tela dá o resultado e a vendedora sorri, aliviada.

Não sei se pela compra ou simplesmente 

porque agora temos um assunto.

Solidária, ela pergunta:

– Vai querer a sua via?

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Hora do almoço. Passo pela vitrine e, de repente, me apaixono.

Entro na loja, digo que o meu número é 6,5

e peço para o vendedor buscar o tênis para mim.

Cinco minutos, sete minutos e nada.

Cogito ir embora, mas descarto a ideia por educação.

Oito minutos, nove minutos e eu já sem paciência.

Finalmente, ele volta com duas caixas na mão.

Penso que devem ser cores diferentes e sento para provar.

Ele me entrega as caixas junto com a explicação:

– Não tinha 6,5, então eu trouxe um 7,5 e um 4,5 pra ver como fica.

Muito interessante a estratégia.

Coloco um algodão ou corto os meus dedinhos?



quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Vou contar um segredo


Me rendi à auto-ajuda. 

Acho que foi culpa da meia-calça. Estava na fila do caixa 

quando a moça da minha frente demorou para decidir se 

queria ¾ ou 7/8. Enquanto ela resolvia esse intrigante conflito

eu me distraí olhando a estante. Tive uma noção real 

do meu nível de vulnerabilidade quando resolvi gastar R$ 19,80

com o livro “O que toda mulher inteligente deve saber”. 

 
Estranhei estar envolvido com plástico, mas entendi logo 

nas primeiras páginas. Meninas inteligentes não compram 

esse livro. É um preconceito atrás do outro.

O resumo era mais ou menos assim: se você quer

estabilidade, procure alguém com emprego estável, 

família sólida, sem muitos sonhos ou ambições.

Que não tenha vícios, que não tenha histórico de traição,

e, essa parte me deixou profundamente chocada,

que não torça pelos bandidos no seriado e jamais

pergunte o valor do couvert.

 
Nenhum desses critérios me pareceu razoável. Nunca escolhi

meus amigos por nada disso. Definitivamente, me imaginar

casada no sofá da sala com um cara que eu jamais amaria

está longe de ser um ideal de sucesso.

Os conselhos são sempre os mesmos: não tente agradar, 

não acredite no que dizem, não se envolva rápido demais, 

não, não, não, não. 


Admito que sou muito ruim nisso tudo e,

lendo todas aquelas recomendações, parei para pensar se não 

estamos apenas sendo mulheres e os caras sendo homens 

como aprendemos a ser. Eles mentindo, a gente chorando,

eles fugindo, a gente esperando, eles pensando neles e

a gente pensando neles também.

 
Porque, ponto de vista masculino, mulheres são mesmo 

muito assustadoras: elas podem querer cozinhar pra você,

ser legais com você e até chegar ao cúmulo de esperar que 

você cumpra o que disse. E essa é a hora de fugir.

Nada mais ameaçador que uma mulher com expectativas. 

Elas ficam furiosas quando descobrem mentiras.

Elas choram e infernizam por puro divertimento.

 
Muito doidas essas mulheres. 

Desequilibradas e carentes. Neuróticas, pegajosas, chatas.

Deviam ser presas todas essas que se preocupam com unhas 

e lingeries antes de uma data especial, que fazem surpresas

no aniversário. Bronzeamento e beijo de boa noite estão na lista

dos crimes inafiançáveis. 


Melhor não dar confiança.  Logo logo, quando você menos espera

elas já descobriram a sua senha e vasculharam todo o seu

passado amoroso. Começam a implicar com os furos das camisetas 

preferidas e, maliciosamente, darão outras novas de presente. 

Insensíveis, jamais entenderão a relevância do Campeonato 

Brasileiro e do sagrado futebol de quinta à noite. 

Em pouco tempo, vão exigir sua presença nos casamentos 

de todas aquelas primas sob a falsa alegação de que 

não querem ir sozinhas, mesmo quando todo mundo sabe que

a família inteira vai. 
 

E como são subversivas. 

Logo ficam amigas das outras namoradas 

da turma e passam a trabalhar pela conspiração,

procurando pistas e conferindo versões.

Perigosíssimas elas com aquele vocabulário ambíguo

 e tantas perguntas tendenciosas.
 

E ainda querem ser compreendidas. 

E ainda querem ser amadas. 

E ainda se acham no direito de reclamar quando 

o cara nunca mais aparece. E quando isso acontece ficam 

tão desesperadas a ponto de comprar um livro sabidamente 

horrível só pra procurar algum consolo, como se universo 

masculino fosse um grande enigma a ser desvendado. 


Dissimuladas demais para encarar toda a verdade,

preferem colocar a culpa numa inocente meia-calça.


terça-feira, 11 de setembro de 2012

Valeu, amiga :* )


Agradeci por ter uma espinha. 

Jamais imaginei que isso pudesse acontecer.

Foi sábado à noite, depois de esbarrar com o meu reflexo no espelho. 

O rosto vermelho, inchado, fofo como um pão chinês 

e olhos de quem tinha chorado muito. 


Chorei mesmo. 

Chorei pelo marasmo da minha vida, 

pela sensação de estar sempre esperando, 

por me sentir tão sozinha,

por ter me tornado uma pessoa chata, 

e como se não bastasse todo esse inferno 

ainda me aparece uma espinha. 


E foi aí que tudo fez sentido. 

Eu não costumo ter espinhas. 

Todo esse sofrimento, embora sentido da forma mais sincera, 

não passava de uma ilusão resultante do meu desequilíbrio hormonal. 

Uma aterradora sensação de falta de esperança que

dura em média 5 dias, nos quais eu consigo irritar quem

eu realmente gosto e algumas vendedoras de shopping. 

Cinco dias para valorizar dramas inúteis e sofrer por quase nada.


Ainda bem que tinha a espinha pra me lembrar

que era só TPM.

E TPM é como espinha.

A gente estoura e passa.



quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O pijama ela não esperava.


Bateu na porta do banheiro e ofereceu um pijama.

Ela riu da ingenuidade.

Eram mais de cinco da manhã e, pelo valor da comanda,

era provável que ela já não fizesse muito sentido.

Estava consciente, entretanto, a ponto de perceber

que perderia boa parte do encanto assim que

trocasse seu adorável vestidinho preto

pelo tão pouco charmoso pijama bege, 

apesar de todo o conforto.


Fazia menos de 15 minutos que tinham chegado na

casa dele, com risos bem largos e passos menos firmes.

Vieram empurrados por aquela onda invisível que 

carrega os que se descobriram feitos um pro outro 

depois da terceira dose de vodka.


Durante a festa, a ordem dos fatores foi violentamente ignorada. 

A dança veio antes do nome, que veio depois do beijo, 

que veio sem avisar. Nenhum dos dois reclamou. 

Ficaram nessa até a última música, foram de mão para

a fila do caixa e pegaram o mesmo taxi.


Ela deveria ter saltado antes, mas ele a convidou para ficar.

“Só para dormir” foi a condição.


A origem do aviso não era pudor. 

Apenas sabia-se bem o suficiente para evitar angústias

já conhecidas. Dispensava a aflição de esperar pelo 

telefone que não toca e sentir pesar, com o passar 

dos dias, a certeza de ter sido precipitada, 

porém compreensivelmente, taxada de vulgar.


Decidiu que estaria satisfeita com um boa noite 

falado bem baixinho e aceitou a proposta. 

Mesmo antes de saltar do taxi, 

já presumia o que estava por vir.

Esperava que ele simulasse estar apaixonado, 

esperava que ele tentasse sexo, esperava que ele insistisse. 


Só não esperava o pijama.


Agradeceu a oferta, voltou pra cama e, pelo menos 

naquela madrugada, cumpriu o que foi combinado.


Passaria as próximas 52 noites sem nenhum pijama com ele.


Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...