quarta-feira, 29 de julho de 2009

Meus segredos para mim

Queria escrever hoje no blog, mas o que vem na minha cabeça é íntimo demais para ser publicado na internet. Estranho né? Antes as pessoas escondiam a chave do diário, hoje a moda é divulgar segredos. Eu não. Meus nós são todos meus. Sou eu quem decido se quero desfazê-los ou tecer uma rede para deitar neles...

PS: Volto a escrever amanhã. Minha chefe pegou férias e eu estou no lugar dela. Estou mandando mim mesma, é muita responsabilidade. Sou uma chefe autoritária e uma funcionária crítica. Tenho chegado em casa com fome e só me interessa o que estiver na geladeira. Pão, queijo ou alguma coisa doce, é nisso que tenho pensado ultimamente.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Coisas pequeníssimas

A minha cabeça faz contas mesmo quando eu peço para ela parar. É contra o que eu quero ser: me faz menor. Porque me prendo a coisas sem importância e acabo perdendo o meu valor também. Essas mixarias vão se acumulando em mim.

Mahatma Gandhi não precisava perdoar. Ele nem chegava a se ofender. Imagina o quão compreensivo alguém precisa ser para não se magoar. E imagine a força que isso dá.
A parte mais cruel é que ele não nasceu assim. Ele aprendeu.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Inutilidades linguísticas

* Quando um fato é importante dizemos "humm, isso é relevante".
Se o argumento não tem a menor importância, é irrelevante.
Agora, quando fazemos uma besteira bem grande para alguém e queremos eufemizar o impacto, dizemos "Ahh, releve isso".

* Tombar é cair no chão.
Se uma pessoa tropeça no cadarço do tênis e cai, ela tombou.
Se enchem um prédio de dinamite e o explodem, o edifício tombou.
Agora, quando uma casa é tombada, isso significa que ela nunca mais será destruída.
Tombar é cair no chão, ou não.

* "Imagina o que eles não vão falar" , na verdade, quer dizer "Imagina o que eles vão falar".

Todo mundo entende, mas convenhamos: não faz o menor sentido.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

A outra oração

"Perdoai os nossos pecados,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido".

Esse trecho do Pai Nosso hoje me deixa pensativa. Conheço a oração desde pequena. Por sabê-la de cor, não prestava muita atenção nas palavras. Há alguns anos, a impressão que eu tinha é que bastava rezar para ser absolvida. Não me prendia muito ao trecho "Assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido". Mas ele está lá. Sempre esteve. Não há nenhuma ambiguidade: eu peço para que Deus me perdoe como eu perdoo.

E eu perdoo?

Esse trecho do Pai Nosso me deixa pensativa.

sábado, 11 de julho de 2009

Mexican Drama

Eu não sou uma má pessoa. Na verdade, eu não sou nem má. Mas acredito em justiça, e se tiver a chance de fazer a justiça acontecer, não vou pensar duas vezes. Ninguém sabe quem será o juiz da sua vida, quem, no final, vai decidir se você vive ou não. Pessoas autoritárias pensam que podem controlar tudo, os idiotas pensam que não podem controlar nada. Meu ex namorado, Jack, estava no segundo grupo.

Tinha 22 anos quando o conheci. Ele era professor de História da Arte. Na época, eu pensava que ele era muito velho, tinha 31 e, mesmo odiando aquela barba, aceitei seu convite para ir ao cinema.

Foi naquele mesmo dia que o namoro começou. Nós saímos juntos por dois meses e, em plena segunda feira, enquanto tomávamos café da manhã na faculdade ele me disse:
-Eu quero te decorar com o meu amor.
Não entendi muito bem, coisa de professor de arte.
-Com o seu amor?
-É, eu guardei todo o meu amor nesse diamante.
Abriu uma caixinha preta e eu pude ver o que seria o meu anel de noivado.
-Mora comigo?
Coloquei a aliança e respondi:
-Me mudo este final de semana.

Foi o que eu fiz. Arrumei duas malas e fui para o apartamento dele no sábado. Claro, briguei com os meus pais antes. Eles esperavam me ver de noiva, com um longo vestido branco, um casamento caro com todas as formalidades que eu sempre detestei. Quando eu disse que iria morar junto com o meu namorado, meu pai quase teve um ataque. Seu rosto ficou distorcido pela raiva, era melhor ficar quieta. Escutei desaforos e fui embora, silenciosa.

Morar com o Jack era o máximo. Nós assistíamos a um montão de filmes estrangeiros, falávamos sobre política, música, mídia. Durante cinco meses, vivemos completamente apaixonados, até que pequenas coisas começaram a mudar.

Jack passou a chegar tarde nas noites de sexta e, quando acordava, fugia das explicações. Ele se tornou negligente também: eu perdi a aliança e ele nem se importou. Sabia que ele estava diferente e pensava que era porque ele estava bebendo (o médico havia proibido porque Jack era diabético) mas isso era apenas uma pequena porção da verdade.

A maior parte me foi revelada no dia em que estava na fila do laboratório do hospital. Ia fazer um teste de compatibilidade para saber se poderia doar meu rim para Jack. Ele tinha piorado muito e precisava de um transplante.

Vi uma menina, devia ter no máximo 18 anos, usando um anel igual ao meu.
- Com licença, mas onde você achou esse anel?
-Eu não achei. Meu namorado me deu. É a minha aliança. Quer ver? Está escrito "todo o meu amor" do lado de dentro.

Fiquei imóvel. Não consegui dizer nada, não sentia as minhas pernas, estava completamente paralisada. Ela continuou, com a voz trêmula:

-Ele me pediu em casamento faz umas semanas e agora está tão doente.Os rins não funcionam mais e, se eu puder, vou dar o meu para ele. Ele só tem uma irmã, que mora com ele, mas se negou a fazer o teste. Difícil de lidar. Não posso nem ir a casa dele, não posso nem ligar porque ela é homicida...

-Homicida?

-É, homicida. Gente que mata gente. Ela ainda não matou ninguém, mas tem meio que uma facilidade para isso, entende?

Respirei fundo.
-Não se preocupe com a irmã. Não existe irmã nenhuma. Quem mora com ele sou eu, a esposa, e a sua aliança, na verdade, é minha.

Ela gritou. Disse que eu era louca, delirante, que ele realmente a amava. Eu poderia ter saído da fila, ido embora, mas ainda não estava segura da minha decisão.

O resultado saiu duas semanas depois. Compatível. Eu era a única que poderia salvar a vida dele, mas não o fiz. No dia em que enterramos Jack, a menina me perguntou se eu não sentia remorso. Eu respondi apenas que acreditava em justiça. Coisas boas retornam do mesmo jeito que as más.

Às vezes, a vida é meio irônica, não?


** Historinha escrita para a aula de inglês. Era para formar frases com determinadas palavras (homicida, diabete, transplante, rim, negligência, remorso) e eu acabei me empolgando:)

sexta-feira, 10 de julho de 2009

Consolo + Carochinha

Fui assistir à peça "Confissões das mulheres de trinta". Me identifiquei com vários trechos por motivos óbvios: estou bem mais perto de 30 que de 15. No final, há uma narrativa de um homem contando mulher é sempre sobre amor e que, conforme a fase da vida, ela se especializa em um aspecto diferente. As de 50 são ótimas em manter o amor; as de 20 são as melhores em imaginá-lo, inventá-lo. Já as de 30 são as melhores em fazê-lo.
Ufa, nem tudo está perdido...

Quando houve a festa de funeral do Michael Jackson, ele já estava morto há 12 dias. Dezoito mil fãs, mais de duas horas de duração, e as pessoas ainda se questionam se o corpo estava lá. Eu me pergunto: por que o corpo estaria lá? Para assistir?

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Entre a tesoura e a cola branca

Passei quatro horas alternando entre a tesoura e cola branca. No meu primeiro dia de estágio, senti não ter me empenhado nas aulas de Educação Artística e me dei conta de que não consigo recortar em linha reta. Faz tanto tempo que assimilei o Ctrl C + Ctrl V que me esqueci como era fácil manchar papel sulfite com os dedos grudados de tinta de jornal. Mereço um desconto: estava começando.

O recorte e cole é uma das maneiras de fazer o trabalho de clipagem, talvez a mais rudimentar. A clipagem é necessária sempre que o jornal divulga as informações que se refiram à empresa, enviadas ou não pela Assessoria de Comunicação. Esse material precisa ser arquivado.
Para que essas matérias/notícias possam ser guardadas, primeiro elas precisam ser destacadas. Usa-se a tesoura de metal e os dedos. Depois, deve-se fixar cada notícia em uma folha branca com a data e o nome do veículo. Caneta, celulose e cola escolar.

Para decidir o que precisa ser recortado, usa-se a luz, o olho e o pensamento. Primeiro a claridade bate na folha e não é refletida pelo preto das letrinhas. Pela falta de cor, enxergo a letra e minha cabeça forma palavras. Essas palavras são lidas com o ritmo da língua portuguesa enquanto eu sigo as linhas em silêncio. Eu não só as entendo, como classifico: sei que atletismo não pertence à categoria Cultura, do mesmo jeito que místico não é de Esportes. Procuro as expressões que me interressam. Reconheço. Aviso para a mão que é a hora de acionar a tesoura. Luz, o olho, pensamento. Muita tecnologia.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...