terça-feira, 8 de novembro de 2011

Que a água fria nunca me separe do oceano

Sempre que eu vou à praia eu entro no mar.

Não importa se faz frio, se tem onda ou não, eu entro.

Levanto da cadeira,

respiro fundo,

cogito voltar quando o pé encosta na água,

mas continuo porque me lembro de mim.


Como toda criança,

passei anos vendo mais graça na água

que na areia.

Gostava da areia para construir castelos,

para cavar buracos até encontrar miniminhocas vermelhas,

de correr (em vão!) atrás dos caranguejos brancos

e sempre perdê-los para seus túneis perfeitos.


Mas da água eu gostava mais.

Os castelos derretidos de areia molhada,

tatuíras hiperativas,

a sensação de mergulhar onda após onda

como quem enfrenta o mar que se levanta

e vence.


Para mim, nada era tão libertador quanto um banho de mar.

Enquanto a areia fazia só o que eu mandava,

o mar me testava o tempo todo.

Guardava por ele uma admiração de irmão mais velho.


Para os adultos, nada disso importava muito.


O único fator determinante era a temperatura.

Se molhassem o calcanhar e franzissem a testa

o veredito estava dado: água fria.

Como se fosse um crime, como se fosse um erro.

E eu não podia entender como eram tão chatos.


E é disso que eu me lembro até hoje.

É só água fria. Eu mergulho e passa.

Juro que me sinto até mais nova ao ver meus dedos murchos.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...