terça-feira, 30 de agosto de 2016

"O desespero das mulheres de 30" ou "Ironias a parte, resolvi desenhar"


Ouvi dizer que as mulheres de 30 estão desesperadas. Estamos. Estamos agoniadas. Temos perdido o sono armando planos pra caçar um homem pra chamar de nosso. Um marido para arrastar para as festas e mostrar ao mundo que a gente deu certo. Porque isso que a gente faz todo dia, de trabalhar, almoçar, encontrar gente, não é vida. Vida vai ser quando nós tivermos uma aliança cara, o dia que entrarmos na igreja para dizer o sim da eternidade. Esse tipo de promessa, aliás, sempre parece muito suave, sabe? Dizem que casamento é tão tranquilo que nós temos cogitado nem namorar. Queremos um amor à primeira vista pra contar para os filhos. Ah, filhos. Um dia desses a gente engravida "sem querer" só pra realizar esse sonho. Não é assim?

Não, não mesmo, mas "desespero" é uma palavra tão pesada que sempre me faz imaginar absurdos. Pessoas em desabamentos ficam desesperadas. Pais que perdem a família ficam desesperados. Desespero, ao meu ver, é um sentimento bem distante do que alguns encontros deveriam provocar.

Quando penso nas razões que levam a formular esse tipo de frase, vejo que estamos sendo mal interpretadas. Pode ser que estejamos impacientes, verdade, e é possível também que a nossa sinceridade seja até um pouco assustadora. A pressa, entretanto, tem menos de loucura do que de praticidade.

Vou dar um exemplo estranho: imagine que o amor é uma geladeira, dessas imensas, bonitas, prateadas. Ninguém compra uma assim só porque a oferta é boa. Seria muita inocência acreditar que alguém que mora em um flat vai resolver mudar de casa só porque o IPI baixou. Só vai querer geladeira quem vê valor e já reservou esse espaço.

Sei que a metáfora é horrível, mas, na minha cabeça, um relacionamento exige interesse e se não houver disponibilidade é melhor nem começar. A essa altura, todo mundo já tem uma história e a ideia de que convivência é muito fácil só persiste para os mais desavisados. Querer demorar menos para descobrir se a vida do outro comporta esse tipo de experiência é uma questão de pragmatismo.

Desespero seria aceitar uma situação que não nos é confortável. Seria acreditar que existe um protocolo e que todo mundo merece 120 dias de teste antes que a gente possa se pronunciar. Desesperador seria não entender que as pessoas querem coisas diferentes e que não dá pra forçar ninguém a mudar de ideia.

Eu não uso mais as mesmas saias de antigamente, eu não frequento as mesmas festas da adolescência. Com os anos, deixei de gostar de várias coisas, não porque fossem ruins, mas porque eu mudei.

O fato de uma mulher querer casar não significa que ela vai noivar com o primeiro que aparecer. O fato de ela querer ter filhos não significa que pretende engravidar de qualquer um. Existem diferenças escandalosas entre uma situação e outra e, se você se não consegue perceber, então talvez seja mesmo melhor partir.

Vá tranquilo, querido.

Você nos faz um favor.

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Pega, que o dia é teu.


É a sua vez, e ninguém vai vir avisar. Temos que partir dessa perspectiva. Não haverá uma chamada em voz alta, uma batidinha no ombro no meio da multidão. Só não digo que existe uma vida linda esperando lá fora porque a vida não espera. Ela flui.

Por mais que nos aconselhem, ninguém pode decidir por nós e é bastante provável que os que mais nos amem tentem desestimular. Toda mudança é incerta e gente tem mesmo essa mania estranha de querer poupar o que mais gosta. Vale para os nossos sapatos, vale para os nossos amigos.

Eu era bem pequena quando descobri que brilho tinha a ver com liberdade. Numa noite de verão, me pus a caçar vagalumes. Guardei-os dentro de uma bolsinha. No meu raciocínio de criança, o efeito seria lindo. Na manhã seguinte, acordei ansiosa pelas luzes, mas todos haviam morrido. Entendi que expectativas erradas agridem e até o que a gente vê como muito seguro pode ser uma ameaça.

Seguir o tal instinto parece ser uma boa opção e é uma pena que gastemos tanto tempo desaprendendo a confiar nele. Nossos exercícios no colégio previam cálculos até para atravessar a rua. Devíamos considerar a velocidade do carro, a distância da calçada, a aceleração. Enchíamos os papéis de contas, tentando explicar para a cabeça o que ela não precisava. Descobrir se dá para atravessar é simples: você para, olha e sabe.

Por algum motivo, a resposta mais óbvia nunca é suficiente. E, como numa prova dissertativa, a gente vem justificando tudo, racionalizando tudo, tentando desenhar para os outros porque um holerite já não nos completa. Na correria do dia a dia, esquecemos que todo pensamento é um segredo e que paraíso é uma noção particular.

Foi promovido? A empresa cresceu? Noivou? Casou? E o apartamento? As pessoas nos cobram velocidade, mas ninguém pergunta se o caminho em que estamos leva para onde a gente quer. Nessa ânsia por movimento, há que se tomar cuidado pra não pegar o metrô pro lado inverso. A cada minuto que passa, a volta fica mais difícil.

Quando as dúvidas aparecem, a gente implora por um sinal. Negligenciamos o nosso descontentamento como se esse embrulho interior não significasse nada. Terceirizamos as decisões importantes ignorando o privilégio de elas serem nossas. Por um falso conforto, abdicamos do nosso poder de simplificar as coisas.

Não é mais isso? Ok. Assume, aceita, faz a volta. Tenta até conseguir e se já não aguenta para. Há quem veja como loucura, mas entendo como bom senso: já que terminaremos todos do mesmo jeito, que ao menos a nossa vida seja mais original.







Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...