quarta-feira, 19 de maio de 2010

Sobre o sentido das coisas

Três homens estavam construindo o muro de uma obra imensa.

Era fevereiro e fazia muito calor.

Um curioso que passava por ali resolveu perguntar o que esses

homens estavam fazendo.

O primeiro mal respondeu.

Disse que estava cansado, que era impossível trabalhar com esse Sol,

que já não aguentava mais essa construção que não terminava nunca.

O segundo foi bem prático. Explicou que sua função era enfileirar as

pedras e cobri-las com cimento, que era um serviço comum e

pagava mais ou menos bem.

O terceiro, que parecia mais animado, estranhou a pergunta:

"Não vês? Estou construindo uma catedral! "

Qual deles estava certo? Os três estavam certos.

A diferença foi o significado que cada um deles

atribuiu ao seu trabalho.

***

Escutei isso em uma palestra ontem de um professor

e pesquisador chamado José Antônio Marina.

sexta-feira, 14 de maio de 2010

Alerta

"Isso foi você mesmo, ou o seu mecanismo de ajustar a hora?"

Acordei com essa frase na cabeça.

Foi o que sobrou do meu último sonho.



sexta-feira, 7 de maio de 2010

Vida plana

Ontem eu fui a um show e fiquei na primeira fila,

ao lado de um homem que,

mesmo na primeira fila,

conseguiu não ver o show.


Do início ao bis, ele segurou o celular no alto

e permaneceu atento à tela de 5 centímetros.

Na imagem do seu telefone,

o vocalista ficou azul e do tamanho do meu polegar.

Ainda assim, ele escolheu gravar o show.


Eu não consigo entender essa obsessão pela imagem.

Eu não consigo entender essa contradição:

Enquanto o cinema se esforça para alcançar as três dimensões,

a vida real se achata em um visor de telefone.


Desde que surgiram as câmeras digitais

Estamos possuídos pelo incoerente desejo de captar.

Gravamos e fotografamos tudo, o tempo todo,

como se ver e viver não fosse mais suficiente.

Gastamos tanto tempo tentando eternizar momentos

que obrigatoriamente os deixamos escapar.


Tenho medo de que, no futuro,

as pessoas percam a capacidade de olhar diretamente.

E que para assistir a um show em três dimensões

seja necessário ir ao cinema.


***
PS: Dividi as frases dessa maneira para fazer um teste. Como geralmente escrevo textos grandes, queria deixá-los mais fáceis de ler. Eu agradeceria muito se quem conseguiu chegar até aqui me desse a sua opinião.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Palin e eu

Sarah Palin ganha 12 milhões de dólares por ano devido a suas aparições midiáticas.

A recente divulgação dos ganhos anuais de Sarah Paulin pode até inflamar as críticas dos democratas americanos, mas a mim parece perfeitamente coerente. Sarah é bonita, jovem e suas opiniões despertam comentários contraditórios. Desse modo, guarda em sua personalidade os atributos publicitários mais desejáveis: se diferencia da concorrência, gera expectativas e sua repercussão é indiscutível. Em outras palavras: ela vende.

Se eu fosse Sarah, a Palin, creio que faria o mesmo. Penso que talvez cobraria até mais caro para comparecer a seminários, eventos beneficentes e outras festas chatíssimas. Para decidir o preço, levaria em consideração o público que atraio e a felicidade proporciono. Imaginem quantas senhoras não sairiam de casa simplesmente para verificar, ao vivo, se sou realmente tão magra quanto na televisão, se o meu ruivo é verdadeiro, se a minha testa é botox e outros detalhes do gênero. A essas, eu daria o indescritível prazer de revelarem a suas amigas, em exclusivo, a notícia mais esperada do ano: Sim, eu já fiz plástica. Mais de uma.

Aos homens (que são mais bobos, mas tão mal intencionados quanto as mulheres) acho que transmito uma sensação de bem estar distinta. Um senhor com mais de 80 anos se aproxima de quantas moças atraentes por ano? Poucas, não? Numa seção de autógrafos, por exemplo, esse ancião terá não apenas a possibilidade de me ver de perto, poderá também apertar a minha mão e dizer que compartilha dos meus ideais. Como se não bastasse, irá me pedir uma foto, que eu não recusarei. Para sorrir, vou focalizar o valor do contra-cheque e procurarei esquecer os futuros usos que essa foto possa adquirir.

Isso se eu fosse Sarah Palin, mas eu sou a Sarah que sou. À Sarah que sou espanta não o que ganha a política americana, e sim que haja tanta gente disposta a pagar tanto por ela. A mim, ninguém paga nada. Sou apenas mais uma infeliz escrevendo gratuitamente sobre Sarah, a verdadeira.


PS: Essa crônica carece de elegância. Todos nós temos dias de mau humor.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...