sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Deselegâncias


Não importa a academia, o regime, o suco verde. Depois dos trinta, fiquei pesada. Não sei o que aconteceu, mas de uma hora pra outra me vi cética, sincera e talvez bastante impaciente. Com algum ensaio e menos rodeios, hoje em dia eu pergunto. Ouço, com uma dor conhecida, respostas que não surpreendem.

Desisti de tentar adivinhar o que eu já sei e chamar de calma o que é só autocontrole. Perdi a paciência de esperar sentadinha a minha vez como se todo envolvimento já viesse com um alerta de mantenha distância. Ando incompetente em sustentar ilusões e incapaz de separar cabeça e corpo.

Vivemos numa época de muito personagem e pouca história pra contar. Estamos indisponíveis. Quem está na pista provavelmente só quer dança, enquanto a gente samba miudinho pra não se fechar de vez. Que fique claro: não falta homem. Falta qualidade na interação, falta espaço na vida do outro e disposição da nossa parte em tratar o coração como um músculo.

Cansa chegar numa casa vazia, acordar na cama sozinha, desperdiçar os fins de semana com um visor de telefone. Cansa, ainda mais que tudo isso, constatar que ultimamente as coisas nem começam. Ficamos aqui, brincando no rasinho, enganando a nós mesmos com esse menu degustação que sempre nos deixa com fome.

É essa falta que me pesa. Deve ter se acumulado no meu olho, deve sobrecarregar o meu silêncio essa lista de esperanças rasuradas. Quando me vejo no espelho, sinto que já fui mais leve. Estou exausta de me arrumar para abrir a porta e descobrir que é engano.

Por mais que pareça estranho, quem não quer ficar sempre aparece.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...