terça-feira, 26 de junho de 2012

Adoráveis cafajestes


Levante a mão quem nunca pensou “mas comigo ele é tão diferente.”

Escrevo para as que permaneceram com as mãos abaixadas.

Para aquelas que conseguiram enxergar o sorrisinho cretino

daquele cara gente boa que te fez perder algumas noites

segurando o celular. Daquele que inventou as mentiras mais toscas

pra te conquistar, pra te perder e pra te conquistar de novo.

Daquele que nunca te dispensou, porque cafajeste que é cafajeste

jamais dispensa: administra.


Definitivamente, ser cafajeste não é para qualquer um.

Exige anos de prática. Tem que saber exatamente o que uma mulher

quer escutar, a hora certa de dizer e usar os maiores clichês

da face da Terra sem parecer meloso. Tem que fazê-la sentir especial,

ter alguma coisa entre mocinho de novela e astro de filme pornô.

Tem, acima de tudo, que entender que o segredo do pudim

é o banho-maria. Não dá pra deixar esfriar, não dá pra deixar

ficar quente demais. Quer enlouquecer uma mulher? Faça-a esperar.


Não existe nada mais insuportável que a espera.

21 h: Passei o dia inteiro imaginando esse encontro, estou pronta

e maquiada, contando os minutos. 22 h. O telefone não toca.

“Segura a onda, ainda dá tempo” digo pra mim mesma,

tentando não me concentrar no que está acontecendo.

 23 h. No desespero, começo a me enganar:

“Tudo bem, sou moderna...se ele não ligou, eu ligo”.

Chama, chama e cai na caixa. Ligar de novo é perder a dignidade.

Vou dormir arrasada, até que no dia seguinte ele arruma

uma desculpa e quase me convence.


Digo quase, porque a gente sempre sabe. Já sabia antes mesmo de

começar. Cafajeste que é cafajeste tem ficha suja. As amigas alertam,

 repassam o histórico de corações partidos, mas agora já é tarde.

Você quer pagar pra ver. O primeiro encontro é lindo. O cara não é

tão bonito quanto ele acha que é, você é mais legal do que ele pensava

e provavelmente vocês vão sair de novo.


Começa assim. Aos poucos, os encontros vão ficando cada vez mais

esparsos e você cada vez mais a fim. O ponto de interrogação só

aumenta. Definitivamente, ele tem alguma coisa a mais.

Essa coisa é controle. Cafajestes sempre têm o controle.

Eles leram o nosso manual de instrução e vão usar todas as

funções em seu favor.


Massagem, carona de volta, café da manhã na cama. Eles só não pedem

porque ganham antes. Cafajestes sabem de uma coisa que os galinhas

não sabem: mulher é bem melhor quando ama.

E não é preciso fazer nada. É só dizer.

Nosso ponto fraco é a vaidade. Diga que eu sou bonita, que

gosta de estar comigo, diga que eu sou divertida. Mesmo que eu finja

que não acredito, lá no fundinho eu sei que é tudo verdade.


E daí se as atitudes não forem coerentes? A gente gosta mesmo

é do discurso. Vamos ler e reler a conversa, supor, interpretar, repetir,

pedir opiniões alheias, descartar opiniões contrárias até conseguirmos

criar uma história verdadeiramente intrigante para pensar o dia inteiro.


Cafajeste que é cafajeste sabe que, de uma mulher apaixonada,

o pior que se pode esperar são explosões momentâneas de raiva

que, se o cara for mesmo inteligente, se resolvem antes de começar.

Cafajeste que é cafajeste sabe que quando a gente insiste na briga,

a ressaca moral é forte e a gente pede desculpa por ter perdido a calma.

Cafajeste que é cafajeste sabe que a gente tolera qualquer coisa,

menos indiferença.


Talvez a única coisa que um cafajeste não saiba

é que uma hora a gente se toca e até acha fofo.

Umas se cansam, outras vão embora.

Algumas simplesmente administram.

domingo, 24 de junho de 2012

Ninguém em casa

Portas não sentem saudade.

Só abrem e fecham.

Não sabem de conter, nem de esperar.

Nunca entenderam muito bem desse amor que começa ao dizer adeus.

Nunca entenderam muito o que faz mais festivas algumas chegadas.

Percebem, entretanto, alguma relutância no passar do tempo

quando os abraços se demoram e as palavras faltam.

Portas não sentem saudade,

mas é mesmo melhor que seja assim.

Talvez não abrissem para deixar ir.

Ou voltar. 

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Sobre amor, como sempre


Se for pra amar, que eu ame mais.

Que seja eu a mais apaixonada,

que seja eu a morrer de raiva,

que seja eu a ficar no débito.

Porque amor, pra mim, é perder as contas.

É dar mais do que se tem pra dar.

Quer o meu dia inteiro? Pega.

Quer usar meu carro? É teu.

Eu não fui feita pra mesquinharias.

Amor, pra mim, só é grande quando se já repartiu todos os sonhos,

dividiu todos os planos, 

quando já se entregou a senha e a chave de casa.

Amor, pra mim, é das coisas imensas.

Dos oceanos, desejos, constelações e galáxias.

Não vejo graça em dosar apoio, em poupar presença, 

em guardar carinho.

Deixo para as estatísticas todas as casas decimais.

Não sei amar só um pouco, mas existe, claro, um limite.

Pra me proteger dos que pisam no meu castelo e 

depois tentam me convencer que sempre foi só areia. 

Para me defender dos que me cobram racionalidade 

quando eu me apaixonei por todos os bens que não se declara. 

Dos que esperam que eu seja imparcial quando ficou claro,

 desde o primeiro momento, que o meu lado é o teu.

Eu sei que passou do limite quando todo esse amor vira falta,

quando insegura eu começo a cobrar de volta o amor que eu dei de graça.

Sei que passou do limite quando começa a soar desperdício 

qualquer esforço pra ficar mais perto. 

As promessas passam do prazo. 

As palavras perdem o crédito.

Sei que passou do limite quando fico carente do que mais me sobra.



Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...