sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Finalmente

Quantas vezes eu te imaginei na minha porta.
Você estaria sentado no meio-fio, apoiando os cotovelos no joelho,
muito provavelmente fumando um cigarro.

Você me esperaria de cabeça baixa,
como quem pesquisa alguma novidade nas ranhuras da calçada
ou se entretém com o plástico duro na ponta do cadarço.

Eu chegaria e de longe reconheceria a tua sombra,
teu jeito de tirar o cabelo do olho como quem pede licença.

A alegria viria misturada de surpresa
e eu daria os próximos passos tentando me prevenir
 da felicidade que me avança quando lembro de ti.

"Não é ele."
Repetiria para mim sem pressa de confirmação,
na tentativa de fazer aquele fiapo de esperança durar mais um pouco.

"Não é ele."
E reconheceria o ângulo do teu pescoço e a proporção dos teus braços.

"Não é ele."
E chegaria mais perto.
Mais perto.
Mais perto.
Do teu lado.

Você nota a minha presença e tira os fones de ouvido.
Ri como se não tivesse planejado o próximo passo.

Eu seguro em ti e me agacho, levo a minha cabeça em direção a tua.
Enxergo teu olho de perto.
Finalmente, estamos na mesma altura.
No mesmo tempo.
Ocupando no universo o mesmo metro quadrado.

Te abraçaria emocionada e agradeceria quieta.
Agora sim está tudo bem.


sábado, 3 de janeiro de 2015

O melhor do amor é ficar crua.

É dificil completar a vida quando falta amor.
Dançar é bom, sair é divertido,
mas melhor mesmo é abrir o olho e encontrar com alguém que a gente gosta muito.
Melhor é poder ser sem tanta trava, é poder se mostrar crua pra quem a gente confia.
E crua não é pelada.
Crua é pelada também.
Crua é aquela liberdade que só a intimidade dá,
é poder estar ali com nossos medos,
é quando eu assumo todos os nós do meu cabelo
e esqueço as minhas pernas em cima das tuas.
Pergunto sobre as mesmas cicatrizes para escutar as histórias
que depois esqueço enquanto decoro as pintinhas escuras do teu olho.
Você me fala uma bobagem e eu posso gostar sem falar nada.
O silêncio chega mansinho como um vento de praia e envolve a gente reconfortante.
Você não precisa me agradar
e eu estou tranquila demais pra querer te convencer de alguma coisa.
Crua é aquele estado desejável onde corpo e pensamento
finalmente se encontram e eu estou ali querendo estar.
Crua é o que eu sou antes da identidade, antes que existisse um CPF,
é o que não mudaria se eu tivesse outro nome.
E é por isso que crua não é pelada.
Não bastaria tirar a roupa.
É preciso tirar a armadura,
se despir de todas as ilusões
e ter a felicidade de se achar nesse momento memorável
em que apenas existir é suficiente.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...