domingo, 24 de maio de 2009

O óbvio, ou o peso de ser brasileira

Eu não sei quantas crianças dormiram na rua essa noite. Eu não sei quantas meninas foram estupradas. Eu não sei quantas pessoas morreram sem atendimento médico. Mas eu tenho certeza de que isso aconteceu. Moro no Brasil e estes são os tipos de notícia que se escuta todo o dia, um pingo de água na torneira que martela a minha cabeça antes de dormir.

Eu já deveria ter me acostumado com a rotina das tragédias. Tem gente que nem vê. Que fecha as janelas no semáforo, constrói a casa num bairro ainda não contaminado pela violência e comemora - não sei o quê- com whisky com energético no final de semana. Só vão lembrar que a vida não é uma festa quando tiverem que pagar o flanelinha na saída da boate. "Esse bando de vagabundos" - dirão.

Quem dera achar que a preguiça é a causa dos nossos problemas. Quem dera acreditar que quem se esforça terá a sua vez. Seria gostoso, assim, pensar-me merecedora do meu conforto e crer que a vida só não é generosa com quem não tem vontade de vencer. Talvez me fizesse dormir melhor. Se fosse possível.

Quando eu era mais nova, sentia uma culpa inespecífica pela situação do País. Com o tempo, os meus sentimentos foram ficando nítidos. Descobri que não é a culpa, é o senso de responsabilidade que me atordoa. Não há como fingir que eu não posso mudar coisa nenhuma.

Não sei se adoto meus filhos, se aprendo a usar as leis de incentivo à Cultura ou se me candidato à vereadora, mas preciso encontrar uma maneira de trazer melhores perspectivas. Eu me recuso a aceitar que licenças ambientais são negociáveis, que a educação é só uma formalidade e que política é um jeito de roubar o dinheiro público. Florianópolis, por exemplo, gastou 6 milhões de reais para construir 2 terminais que nunca foram utilizados.

Na minha opinião, a pessoa que autoriza este tipo de absurdo deveria ser julgado não apenas por mal uso de verba, mas também por todas as consequências indiretas que o desvio causou. A cifra que se joga fora em uma obra desnecessária deixa de ser utilizada em causas urgentes, ou pelo menos importantes: se alguém morre atropelado num trecho onde não há calçada, dá pra chamar isso de má sorte?

Vou dormir tentando achar a resposta e já desperto cansada. Mas - é preciso deixar claro - o problema maior não é o sono. Está cada vez mais insuportável ficar acordada.

2 comentários:

  1. Nem me fala! E' muito triste perder a esperanca no proprio pai's, nao conseguir acreditar que as coisas um dia vao mudar, que alguem um dia vai aparecer pra colocar tudo isso em ordem.

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  2. Hum, acho que nem preciso comentar o que acho sobre nosso país =/

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