sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Português do Brasil

Quantos idiomas existem dentro do Brasil? Quem já viajou para longe sabe que esta é uma pergunta difícil de responder. No país, todos falamos Português, mas isso não garante que seremos entendidos em todo o território nacional. Cada região possuiu uma enorme gama de expressões, sotaques e gírias que enriquecem a nossa cultura e tornam a nossa língua tão interessante.
O Brasil é marcado pela miscigenação e essa mistura influenciou nosso modo de falar. A vinda da família real para o Rio de Janeiro deixou como legado para os cariocas o R aberto e um S bem peculiar. No Rio Grande do Sul, a predominância espanhola fez com que o L mantivesse seu som característico, não sendo substituído pelo som de U, como acontece em Santa Catarina. O sotaque paranaense, por sua vez, conserva o som das vogais no final das palavras.
Já os regionalismos são as expressões são muito comuns em determinados lugares, mas que soam muito esquisito em outros. O tanso de Florianópolis é o abestalhado de Salvador. O moleque do Rio de Janeiro é o piá do Paraná e o guri do Rio Grande do Sul. O mó do paulista é o tri do gaúcho e assim por diante.
Do mesmo modo como a língua se altera conforme o espaço, o tempo também influencia nas transformações do idioma. O “cri-cri” de ontem é o mala de hoje. Supimpa era legal “à beça” nos anos 60. O “massa” da década de 90 foi substituído por “da hora” mas ninguém sabe ao certo até quando essas expressões vão se manter que “crista da onda”. Só me resta uma certeza: meus filhos vão achar cafona.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Recomendações úteis



Quando eu morrer, não me velem por uma noite inteira. Não deixem que a minha vida seja substituída por uma lembrança tão gelada. Apaguem a luz para afastar os insetos atraídos pela claridade. Não quero que eles pousem nas minhas bochechas imóveis e reforcem a certeza de que eu parti.

Peço que lavem e sequem meus cabelos. Nada me incomoda como um cabelo oleoso. Quero parecer limpa na última vez que me virem. Quero voltar para a terra de banho tomado.

Digam para as crianças que estiverem presentes que elas não precisam ter medo. Eu jamais voltaria para assustar alguém. Se elas acharem meu rosto diferente, respondam que o corpo fica assim meio pesado quando não tem mais ninguém dentro.

Comprem o caixão mais barato que tiver. Faço questão de que seja o menos resistente e impermeável possível. Não vejo propósito em guardar meus ossos. Se quiserem recordações, fiquem com as fotos.

De maneira nenhuma mexam nos meus arquivos e leiam as coisas que eu escrevi. Não abram meu e-mail, muito menos minhas gavetas. Seria deselegante aproveitar que eu não estou olhando para vasculhar meus segredos. Só peço, por favor, que deletem meu perfil. Não quero que os curiosos entrem nos meus álbuns para decidir se a moça morta era bonita ou feia.

Caso a minha morte seja noticiada, procurem uma foto decente. Sem condições de usar a da carteira de motorista. Já pareço uma assombração.

Se quiserem fazer uma missa, permitam que o padre fale bem pouquinho. O sotaque dos padres não tem muito a ver comigo. Leiam a oração de São Francisco. É o texto mais bonito que eu conheço.

Quando forem me enterrar, esqueçam as coroas de flores. Prefiro plantas com raízes. Considero fantástico o trabalho da natureza, do osso que vira cálcio, do corpo que volta para a terra e faz tudo voltar a crescer. Quero ser reciclada o mais rápido possível.

Por mais óbvio que seja, encarem a morte como inevitável. É só questão de tempo. Se estiverem muito inconformados, abram o jornal. Sempre tem algum caso terrível na seção de polícia.

No ano seguinte, aproveitem o feriado para viajar com a família. Nada de cemitérios congestionados e buquês de plástico.

Através do que eu disse, do jeito que eu ria, guardem-me na memória como uma lembrança acolchoada. Lembrem o tempo todo que eu sempre fui muito feliz. Abracem meus irmãos, consolem meus pais. Independente do que aconteça, minha vida foi um presente que eu adorei.

* Isto não é uma carta fúnebre. São apenas algumas recomendações úteis.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

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Morte não tem cheiro de nada, só um gosto azedo de falta de fome.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...