quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Não.


– Me dá um beijo?

– Não, não posso.

– É só um beijo... Ninguém vai ver.

– Eu vou.

– Fecha os olhos então...

– Não dá. Eu já falei...

– Shhh...
   Com tanta coisa ruim no mundo,
   que problema tem me dar um beijo?

– O problema não é o beijo. É o que vem depois.

– Mas eu já te disse que não vai acontecer nada...

– Isso. É exatamente isso.


segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O Lulu eu não recomendo

Entrei no Lulu. O aplicativo, para quem não conhece, foi criado para que as meninas pudessem avaliar os homens de acordo com suas experiências. Como é sincronizado, é só acessar o Facebook e logo na página principal já estão todos os seus amigos devidamente rankeados, com notas e estrelinhas, uma espécie de Trip Advisor dos relacionamentos.

O cara evaporou antes de amanhecer? Sua demais? Dorme de conchinha? Paga a conta? Depois de uma série de perguntas, é hora de escolher a hashtag apropriada e dividir com o mundo como foi a sua estada. É hora de valorizar os bonitinhos e condenar os falsos, os mal humorados, aqueles que até hoje não fizeram a prometida ligação. É hora de punir os que te enganaram, os que espalharam mentiras ou verdades impróprias, é hora de se vingar dos que te deixaram sem carona às cinco e meia da manhã.

Hey, me pergunta o aplicativo, não vai concluir a resenha?
Eu penso um pouco e desisto. Não, acho que não. Por mais desastrosa e desaconselhável que tenha sido a convivência, dar uma nota seria pressupor as próximas impressões pelo que essa pessoa já foi, ou melhor, pelo que ela já foi comigo. Seria desconsiderar que os melhores beijos dependem de química e as melhores conchinhas, de contexto. Seria relevar a certeza de que cinco pode ser a média entre zero e dez, ou de infinitos cincos. Dar uma nota seria ignorar que a minha aparência depende dos olhos do outro e que todos nós merecemos oito, sete e três e meio. Depende onde, depende quando, e, principalmente, depende de quem.

Pelo menos na minha opinião, há que se reservar algum mistério para esse momento do encontro. Por mais escancaradas que estejam as nossas vidas, há que se guardar alguma intimidade para esse instante em que duas pessoas feitas de carne, osso e expectativas se cruzam num mundo já tão pouco ingênuo. Nesse momento, não mostramos exatamente o que somos, mostramos o que é possível. É provável que os tímidos se mostrem mais tímidos perto dos exibicionistas e que as bonitas se mostrem mais arrogantes em baladas nada amistosas. Diferente da cama box e da piscina que me convenceria a reservar um quarto, a afinidade usa critérios bem mais abstratos e é possível que o carinho que tive no último sábado já não esteja ali no final de semana.

Ainda assim, por bem, por mal ou só por falta do que fazer, a gente clica nas fichas alheias e chama de brincadeira o que no fundo é ansiedade. Com ou sem Lulu, a verdade é que o outro vai continuar sendo um enigma, complexo e indecifrável, igualzinho a mim e a todas nós, que inserimos login e senha e previsivelmente pensamos: "Ahh... bem que eu podia me vingar".

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...