quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

O gigante acordou e tinha mais o que fazer


Sabe aquele sonho de funcionária do mês? Acabei de enterrar. Tá ali bem no fundo, junto com a esperança de que as coisas mudem e a vontade de mudar alguma coisa. Ultimamente, tudo que eu sinto é náusea. Engulo a contragosto as notícias sobre a Copa, o oleoso do Bolsonaro, toda essa gosma de corrupção que cospem no meu prato dia após dia. Mas é isso que temos para hoje e para amanhã provavelmente.

Porque tudo isso que nos enoja não se reverte. A gente vai se acostumando a mastigar gordura, a gente sente esse fedor por tanto tempo que uma hora ele some. Esse país não é fácil. Quem tem poder não presta e quem presta quase não presta atenção. Precisamos sobreviver, não é assim? Eu tenho um aluguel que me prende, um 13º que me consola e um sonho de me tornar alguém na vida não me ajuda em nada. O mercado é tão concorrido que eu tenho sempre a sensação de estar atrasada e é tanto desespero que sempre vai existir quem cobre menos. Enquanto eu preocupo com textos irrelevantes são esses idiotas que escrevem as leis. E ainda têm a cara de pau de dizer que a corrupção é endêmica, como se não existisse gente honesta. Nós aceitamos a ofensa como se fizesse parte do nosso legado. Sei que o que eu vou dizer é chocante, mas eu conheço gente honesta. Ou, pelo menos, menos desonesta que essa quadrilha que me governa.

O Brasil me mata de desgosto e o problema é que desgosto não mata. Eu não devia me conformar com essa sujeira, mas sinto que estou endurecendo. Outro dia, sozinha na Rua Augusta, vi um homem ensanguentado na calçada. Em vez de parar para ajudar, fiquei com medo e apressei o passo. Vejo que estou cada dia mais indiferente aos mendigos que se mudaram pra minha rua. Só me sinto segura depois de entrar em casa, onde assisto as notícias os supostos escândalos que eu sei que não são supostos.

Ando tão enjoada dessa história, mas toda essa nojeira não desce. Eu participei das passeatas e sei que não sou a única que continua indignada. Se me perguntarem sobre gigante, não acho que ele adormeceu. Ele acordou e foi pro trabalho, como faz todo dia. Por mais que esteja tudo tão podre, a gente precisa comer.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

O amor não tem luzes de atar cintos

Não espere até que as luzes de atar cintos estejam apagadas. Não existe nenhum sinal. É a gente que tem que decidir a hora de levantar e deixar a cadeira vazia. Liberar o coração do outro para as próximas viagens. Deixar-se ir. Preservar o respeito que resta para que ambos consigam sair de pé. Para que não sejam só dois sobreviventes de um amor que não deu certo, para que não se tornem menos humanos depois de tolerar por tanto tempo o racionamento de esperança. Para que não saiam amargos por implorar por paciência como quem mendiga amendoim.

Não é preciso chegar a tanto. Aperta o coração levantar, mas as vezes eu acho que devemos partir assim mesmo. Com o coração apertado, pesado, moído, mas com a perspectiva de um futuro mais leve. Sinto que o medo de fazer uma má-escolha nos mantém atados. Como se a calmaria do pé no chão de todos os anos sozinha se tornasse insuportável. Como se qualquer coisa fosse melhor do que encontrar o portão fechado, como tantas vezes aconteceu. A porta está sempre aberta, mas ficamos presos à ideia de céu azul do primeiro mês está logo ali na frente.

É como se a certeza da turbulência fosse melhor do que a dúvida. Do que simplesmente não saber. A gente embarcou por amor, mas permanece por apego, por carinho, pela necessidade de dar as respostas certas a perguntas que, muitas vezes, sequer foram feitas. Toda vez que o amor balança, escuto um sinal de alerta dentro da minha cabeça. Ignoro por costume, mas não é que silencie. Não sei se é só uma nuvem escura ou a entrada da tempestade.

Devia existir um limite mais claro para quando as bagagens dessa história se tornam pesadas demais. Algum critério mais preciso para quem alterna entre o "eu amo" e o “isso não é pra mim” em questão de segundos. Um comentário infeliz e o dia desanda irreversivelmente. A gente pergunta para os amigos, compara histórias, repensa o passado, mas não encontra, nem vai encontrar, nada definitivo. Restam poucas ilusões e a única certeza que se tem é que a rotina da guerra cansa. Devíamos estar flutuando. Mas, quando a gente para para ver, estamos tensos, com as mãos suadas, morrendo de medo.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...