segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Sarah Westphal não começou uma amizade.


Hoje o Facebook te indicou como amigo.

Acha que talvez eu te conheça.

Me oferece a opção e acaba com o meu dia despretensiosamente.


Como se não soubesse do nosso relacionamento,

Como se nunca tivesse visto as nossas fotos,

nem lido as nossas conversas para me escolher os anúncios certos.


Que escolha meus anúncios, Facebook, mas deixe comigo os amigos.

Não ofereça minha amizade num pop-up ao lado da tela.

A vida real funciona diferente

e tem coisas de mim que você não sabe.


Amigos, por exemplo, são algo que não se procura.

As situações aparecem e as pessoas se mostram amigas ou não.

Uns vão ficando, outros passam, até que um dia a gente encontra

no supermercado e nem sabe se dá oi.


É um pouco triste, concordo, mas ninguém tem muito tempo

para ficar pensando nisso. Tempo, aliás, é um dos culpados

por estarmos cada vez mais distantes.

Sair, dirigir, estacionar, conciliar horários que nunca se encontram.

Chats ao vivo estão cada vez mais difíceis, mas ninguém tem

dúvida de que ainda valem à pena.

Apesar de toda a tecnologia, compartilhar

 um vinho ou uma batata frita continua sendo infinitamente mais

interessante que curtir as fotos de quem a gente não vê há anos.


Aqui do lado de fora, os filtros também são outros.

Não se separa amigos por idade ou região geográfica,

mas todo mundo sabe pra quem contar um segredo,

convidar para uma festa ou para as bodas do pai e da mãe.

Há os que nos metem em roubadas, os que nos salvam de uma

 roubada e até os que a gente convida pra um programa de

índio sem a menor cerimônia. E eles curtem, ainda por cima.


Outra possibilidade que me chama bastante atenção é

"Editar comentários". Experimente desdizer alguma coisa na vida real.

Tentar consertar dá um trabalho enorme e o resultado nunca fica bom.


Mas os amigos perdoam.

Normalmente eles sabem das nossas limitações muito melhor que nós.

E esse é um campo importante, mas que não se encontra

em perfil nenhum.


Você não sabe as minhas e talvez por isso

arriscou uma sugestão tão inadequada.

Sou reservada demais para deixá-lo interferir nos meus relacionamentos

e detalhista ao ponto de perceber a falha na sua programação.


Você acertou, porém o acerto foi apenas parcial.

Realmente nos conhecemos.

Nos conhecemos tanto que já não podemos ser amigos.





quarta-feira, 1 de agosto de 2012

"Despedida de solteira" ou "A vingança da noiva"


O casamento se aproximava e ela já não sabia 

se ficava feliz ou triste. 

O buffet, o vestido, os convidados ligando de São Paulo

 querendo saber do hotel e da previsão do tempo. 

Tudo isso era suportável. 

Só a tal da despedida de solteiro ela não conseguia engolir.


Estava combinada há anos. 

Desde o terceirão já tinham decidido que iam todos 

para o Rio de Janeiro quando o primeiro da turma casasse. 

E, olha que sorte, o primeiro a casar era o Rodrigo, 

seu noivo. Conhecia-o o suficiente pra saber que dessa 

viagem não se podia esperar nada bom. 

Definitivamente, essa despedida não cheirava bem. 

Cheirava a corrimento, micose e calcinha suada, 

para ser mais exata.


Mestrado, especialização, curso de dança sensual 

e tudo que aquele idiota queria era se esfregar 

numa gostosa qualquer. Anos e anos de dedicação, 

depilação e academia pra ter que aceitar uma traição 

tão escancarada e anti-higiênica.


Não conseguia encontrar motivo para uma

atitude tão machista. Se o sexo fosse ruim, mas não era.

Tentou persuadi-lo de todas as formas e ele continuava 

firme: “Tenho a vida inteira pra ser marido”. 

Da viagem ele não ia desistir, talvez das putas. 

Argumentou, chorou e ameaçou terminar o casamento.

Conseguiu fazê-lo prometer.


Mentira, claro. 


Na noite passada ele esqueceu o Facebook aberto. Não foi 

nada difícil descobrir itinerário selvagem do noivo e seus 

amigos primitivos. A conversa incluía uma lista de acompanhantes 

para a grande noite. Só o Rodrigo escolheu três.

Tudo ali, documentado.


 Respirou fundo, tomou um banho e conseguiu enxergar com 

mais clareza: terminar o casamento estava fora de questão, 

então provavelmente iam brigar mais uma noite inteira e 

ele viajaria mesmo assim. Podia fazer a sua própria despedida,

mas dançar bêbada com um cara de sunga não é o tipo de intimidade

que queria compartir com a cunhada. Resolveu dar mais uma chance

para contar a verdade, mas ele negou até o fim.


Agora não queria mais a festa. Queria vingança. 

Ligou para a moça do curso de dança sensual e quis saber como

 funcionava o esquema. Não, não contratou um go go boy. 

Foi um pouco melhor que isso.


Quando o marido, lá no Rio de Janeiro, abriu a porta para as

novas amigas, ela também chegava com suas novas amigas

em uma despedida de solteiro. Não era na dele. 

Foi com as melhores lingeries e as piores intenções 

fazer a despedida de solteiro de um bonitão do judô.

Rodrigo estava certo:

Tinha o resto da vida para ser esposa.



Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...