No dia em que eu for pra academia de manhã
estarei prestes a conseguir tudo o que eu quero da vida.
Porque, por enquanto, não existe nada mais difícil.
Acerto o despertador animada: chegarei ao trabalho disposta,
terei o resto do dia só para mim e não sentirei nem um pingo
de remorso ao comer o massudo, mas gostoso, pão de queijo.
Vou mais longe: penso que quando tiver 42 estarei
melhor que hoje e já me imagino dando entrevistas
sobre como conciliar a boa forma a uma agenda tão atribulada.
O problema é que, quando o celular toca, às 6h15 da manhã,
nada disso me convence. Antes de abrir o olho eu lembro
que só a ida para a agência já é uma maratona e
eu, trabalhadora que sou, mereço pelo menos mais
que só a ida para a agência já é uma maratona e
eu, trabalhadora que sou, mereço pelo menos mais
dez minutos de alegria até a musiquinha me irritar de novo.
Minha tendência ao sedentarismo torna-se evidente assim que
eu entro no ônibus. Sou tomada por uma inveja horrível
de quem conseguiu sentar. Cabeças pendentes, olhos fechados,
bocejos ofensivos, e eu ali, espremida e em pé.
Tenho desenvolvido minha capacidade de observação
para aumentar as chances de conseguir um lugar
e já consigo identificar previamente a expressão de quem vai descer.
Sinto-me profundamente chateada toda vez que a porta abre
e ninguém salta. Precisava me dar falsas esperanças?
e ninguém salta. Precisava me dar falsas esperanças?
Suspendo o braço para me equilibrar e percebo
que tenho consistência de pudim. Começo a pensar que
nas futuras entrevistas é mais provável que eu discorra
sobre a relatividade do tempo em cima da esteira
ou sobre como tenho sido assediada pelo queijo gorgonzola.
Na verdade, talvez seja melhor esquecer das entrevistas.
Quem dá entrevistas supera coisas importantes.
Eu travo na academia.