sexta-feira, 19 de julho de 2013

Nada demais

Um amigo me mostrou uma foto. 

Ele pequenininho e o avô em cima de uma pedra. 

Era uma dessas fotos antigas absurdamente expressivas. 

Comentei que eles não estavam virados para a câmera 

e ele me explicou que deviam estar olhando para a vista.

Achei coerente. Pensei em todas as minhas fotos 

e me dei conta do quanto são artificiais. 

Geralmente a paisagem ou qualquer coisa que devesse ser admirada 

ocupa o plano de fundo, enquanto eu sorrio 

com a minha cara de foto, igual desde os treze anos.

A pose é treinada: inclino o rosto, 

cuido para não fechar demais o olho, 

e abro a boca um pouquinho para não ficar tão redonda. 

Esse tem sido o meu check in antes de inventarem o check in. 

Um documento pré-formatado para mostrar que eu realmente estive ali. 

Quero parecer feliz e acabo parecendo 

alguém que mistura ansiolíticos e remédios de emagrecer. 

Não dou nenhuma chance para me fotografarem mais naturalmente. 

Quero me ver assim, bonita e dura, 

enquanto guardo a ilusão de que ninguém nunca me viu mastigando.


Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...