Um amigo me mostrou uma foto.
Ele pequenininho e o avô em cima de uma pedra.
Ele pequenininho e o avô em cima de uma pedra.
Era uma dessas fotos antigas absurdamente expressivas.
Comentei que eles não estavam virados para a câmera
e ele me explicou que deviam estar olhando para a vista.
Achei coerente. Pensei em todas as minhas fotos
e me dei conta do quanto são artificiais.
Geralmente a paisagem ou qualquer coisa que devesse ser admirada
ocupa o plano de fundo, enquanto eu sorrio
com a minha cara de foto, igual desde os treze anos.
A pose é treinada: inclino o rosto,
cuido para não fechar demais o olho,
cuido para não fechar demais o olho,
e abro a boca um pouquinho para não ficar tão redonda.
Esse tem sido o meu check in antes de inventarem o check in.
Um documento pré-formatado para mostrar que eu realmente estive ali.
Quero parecer feliz e acabo parecendo
alguém que mistura ansiolíticos e remédios de emagrecer.
Não dou nenhuma chance para me fotografarem mais naturalmente.
Quero me ver assim, bonita e dura,
enquanto guardo a ilusão de que ninguém nunca me viu mastigando.