é um jeito amistoso de chamar alguém,
Cara é o contrário de barata,
Cara é mesmo que homem.
Cara a cara é frente a frente,
Ficar de cara é se impressionar.
Duas caras é falsidade.
Ir com a cara é simpatizar.
Não é o máximo?
Era uma casa de solteiro, e era como se tudo lá dentro não tivesse par.
Chinelos com dois pés esquerdos,
fronhas florais e lençois de listra,
quadros sem moldura e
uma monalisa fumando sempre o mesmo cigarro.
Era o que poderia se chamar de decoração única,
porque absolutamente nada se encontrava.
Vasos guardavam retrovisores quebrados,
os cachepôs floresciam cinzas e
os tupperwares sem tampa se amontoavam promiscuamente
dentro do armário de portas caídas.
No universo das coisas avulsas, a única que tinha par era eu.
Meu cansaço tinha o teu colo, minhas manhãs, a tua temperatura.
Minha vontade tinha o infinito caramelado dos teus olhos.
Junto contigo, eu era inteira sobre nós.
...Resolvi escrever só o começo. O fim é triste, pode acreditar.
Como redatora publicitária, escrevo muitas vezes
a palavra inesquecível.
Quase toda a semana, saem da tela do meu computador
momentos inesquecíveis, viagens inesquecíveis,
encontros inesquecíveis.
Recorro ao clichê sem muito orgulho,
plenamente convencida da minha mentira.
Quando penso no passado, vejo que, pelo menos para mim,
o “inesquecível” nunca foi e provavelmente não será
previamente planejado.
É muito particular o processo seletivo da memória.
O que fica guardado nem sempre é o mais importante
ou o mais esperado.
Na minha cabeça, as lembranças são
retalhos de situações desconexas, umas engraçadas,
outras trágicas, mas nada, quase nada,
que poderia ser passado na novela das oito.
Vou dar um exemplo.
Inesquecível para mim foi a primeira vez que
eu passei autobronzeador.
Eu estava na sétima série e lembro de ter pago R$ 17,00
( bastante dinheiro naquela época)
num autobronzeador importado.
A ideia de ficar morena perto das olimpíadas do colégio
era tentadora: perguntariam para onde eu tinha viajado
e eu jamais revelaria o meu segredo.
A fantasia não durou muito.
A primeira decepção foi o cheiro defumado do produto,
que em nada combinava com a sofisticação que eu pretendia.
Ninguém jamais imaginaria que eu tinha ido de cruzeiro para Punta,
no máximo até Santos num caminhão de linguiça.
A segunda foi a minha cor: não fiquei morena, fiquei laranja,
um tom estranho entre o amarelo e o barro,
alguma coisa que lembrava muito mais doença do que férias.
Definitivamente, naquela semana, fui mais olhada do que esperava,
mas é impossível dizer que atingi o meu propósito.
Por algum motivo que não consigo explicar,
lembro dos detalhes até hoje.
Não é que tenha sido ruim, nem bom,
mas que foi inesquecível,
disso eu não tenho nenhuma dúvida.
Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...