sábado, 11 de julho de 2009

Mexican Drama

Eu não sou uma má pessoa. Na verdade, eu não sou nem má. Mas acredito em justiça, e se tiver a chance de fazer a justiça acontecer, não vou pensar duas vezes. Ninguém sabe quem será o juiz da sua vida, quem, no final, vai decidir se você vive ou não. Pessoas autoritárias pensam que podem controlar tudo, os idiotas pensam que não podem controlar nada. Meu ex namorado, Jack, estava no segundo grupo.

Tinha 22 anos quando o conheci. Ele era professor de História da Arte. Na época, eu pensava que ele era muito velho, tinha 31 e, mesmo odiando aquela barba, aceitei seu convite para ir ao cinema.

Foi naquele mesmo dia que o namoro começou. Nós saímos juntos por dois meses e, em plena segunda feira, enquanto tomávamos café da manhã na faculdade ele me disse:
-Eu quero te decorar com o meu amor.
Não entendi muito bem, coisa de professor de arte.
-Com o seu amor?
-É, eu guardei todo o meu amor nesse diamante.
Abriu uma caixinha preta e eu pude ver o que seria o meu anel de noivado.
-Mora comigo?
Coloquei a aliança e respondi:
-Me mudo este final de semana.

Foi o que eu fiz. Arrumei duas malas e fui para o apartamento dele no sábado. Claro, briguei com os meus pais antes. Eles esperavam me ver de noiva, com um longo vestido branco, um casamento caro com todas as formalidades que eu sempre detestei. Quando eu disse que iria morar junto com o meu namorado, meu pai quase teve um ataque. Seu rosto ficou distorcido pela raiva, era melhor ficar quieta. Escutei desaforos e fui embora, silenciosa.

Morar com o Jack era o máximo. Nós assistíamos a um montão de filmes estrangeiros, falávamos sobre política, música, mídia. Durante cinco meses, vivemos completamente apaixonados, até que pequenas coisas começaram a mudar.

Jack passou a chegar tarde nas noites de sexta e, quando acordava, fugia das explicações. Ele se tornou negligente também: eu perdi a aliança e ele nem se importou. Sabia que ele estava diferente e pensava que era porque ele estava bebendo (o médico havia proibido porque Jack era diabético) mas isso era apenas uma pequena porção da verdade.

A maior parte me foi revelada no dia em que estava na fila do laboratório do hospital. Ia fazer um teste de compatibilidade para saber se poderia doar meu rim para Jack. Ele tinha piorado muito e precisava de um transplante.

Vi uma menina, devia ter no máximo 18 anos, usando um anel igual ao meu.
- Com licença, mas onde você achou esse anel?
-Eu não achei. Meu namorado me deu. É a minha aliança. Quer ver? Está escrito "todo o meu amor" do lado de dentro.

Fiquei imóvel. Não consegui dizer nada, não sentia as minhas pernas, estava completamente paralisada. Ela continuou, com a voz trêmula:

-Ele me pediu em casamento faz umas semanas e agora está tão doente.Os rins não funcionam mais e, se eu puder, vou dar o meu para ele. Ele só tem uma irmã, que mora com ele, mas se negou a fazer o teste. Difícil de lidar. Não posso nem ir a casa dele, não posso nem ligar porque ela é homicida...

-Homicida?

-É, homicida. Gente que mata gente. Ela ainda não matou ninguém, mas tem meio que uma facilidade para isso, entende?

Respirei fundo.
-Não se preocupe com a irmã. Não existe irmã nenhuma. Quem mora com ele sou eu, a esposa, e a sua aliança, na verdade, é minha.

Ela gritou. Disse que eu era louca, delirante, que ele realmente a amava. Eu poderia ter saído da fila, ido embora, mas ainda não estava segura da minha decisão.

O resultado saiu duas semanas depois. Compatível. Eu era a única que poderia salvar a vida dele, mas não o fiz. No dia em que enterramos Jack, a menina me perguntou se eu não sentia remorso. Eu respondi apenas que acreditava em justiça. Coisas boas retornam do mesmo jeito que as más.

Às vezes, a vida é meio irônica, não?


** Historinha escrita para a aula de inglês. Era para formar frases com determinadas palavras (homicida, diabete, transplante, rim, negligência, remorso) e eu acabei me empolgando:)

5 comentários:

  1. Nossa, quase achei que fosse uma historia sua mesmo. Adorei criatividade e, quando vc tiver um tempinho, tenta continuar. Daria um belo livro :)

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  2. haha, que legal! adorei a historinha, me lembrou o "meu primeiro amor II", que a Vada se apaixona pelo professor, depois se desilude mto.
    legal esses exercícios pra estimular a nossa imaginação. ficou mto bom e dramático.
    sobre o seu comentário, nossa, fico mto feliz. não tenho pretensão de nada disso, me sinto só como um desabafo mesmo. acho que combino contig quando tu falas que pensas em palavras o dia todo. também tento transformar as experiências em descriçoes bonitas. e fico mto feliz em saber que alguém tb acha legal!
    obrigada, querida!

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  3. tava aqui pensando, quem era "jack"
    haha
    beijo sarinha!
    Ale Zamuner

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