sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

San Junipero já existe.



Depois de algumas horas no Happn, enfim surge a pergunta:

– Quer migrar de plataforma?

Não. Queria migrar para o teu sofá. Ou melhor, espera, quem sabe você migra pra cá. Queria te ver em tamanho real, movimento, três dimensões. Isso não foi uma cantada. Estou falando sério. Pode parecer meio antigo, mas a gente podia conversar. De verdade, sem edição. Fala o que vem na cabeça e se for ruim a gente ri. Se não tiver graça, tudo bem. Ninguém tem obrigação de se gostar. Muito estranho?

Pensei nisso essa semana. Estava no supermercado, comprando qualquer coisa pra jantar sozinha. Roupa de academia, rabo de cavalo, telefone apitando lá na seção de congelados.

Queria um encontro real. Conhecer alguém sem saber o background todo. Dane-se o que você comeu, onde saiu, quem namorou. O que temos pra hoje, digo, daqui pra frente?

Estamos perdendo tempo. É todo mundo novo ainda e a gente fica aqui nesse bla bla bla insosso como se não tivesse corpo. Só palavra, emoticon, hahaha, hehehe porque senão ofende. Um monte de foto, intriga, ostentação e todo mundo sozinho. A gente leva o telefone para o banheiro, cara. Não diga que estamos bem.

Talvez não tenha sido um bom exemplo, mas o que eu pensei é o seguinte: Se não tem frustração, se não tem fome, se não tem erro, se não tem medo, como pode ser eu?

Você pode decorar essa timeline de trás pra frente e não vai me conhecer. Share, like, hashtag são só ingredientes pra gente se inventar. San Junipero já existe. É mais um tabuleiro para toda essa fantasia que a gente vem vivendo por aqui.

Bom, eu só queria te dizer quê. Humm, tudo bem, entendo. Pode ser outro dia, claro, pode sim. Faz assim, então: me add no Face. A gente vai se falando : )

sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Ilusões de supermercado


Almocei em um restaurante ótimo. Diferente do costume, esse era bem natural. Enquanto experimentava saladas coloridas com sabores refrescantes, recebi a visita de uma velha ilusão. Imaginei a mim mesma abrindo a geladeira. Depois de poucos segundos de claridade, vejo pilhas de potinhos de frutas e vegetais lavados e picados em tapperwares com tampa. Como sempre, a fantasia foi longe: aboliria o glúten, faria pratos elaborados, teria porções diversas esperando no congelador. 

Todo plano, enquanto plano, parece fácil. Na prática, sei que a realização nunca passa da geladeira. É lá, na escuridão da última gaveta, que as folhas de alface murcham na esperança de preparo imediato e onde as inocentes abobrinhas são substituídas por pipoca, Doritos ou iogurte natural. Sofrem com o mesmo descaso a beringela e a batata doce, que amargam minha indiferença até o dia do "se não comer, vai estragar".

Hortaliças só aumentam o meu remorso. Ao jogar na lixeira aqueles maços para dez pessoas, sou eu quem preciso assumir meus podres: tenho preguiça de lavar, de descascar, sou incapaz de picar qualquer coisa em pedaços grandes ou pequenos, pois trabalho apenas com tamanhos variados: grandes, médios, pequenos, bem pequenos, muito grandes.

Nas minhas raras investidas culinárias, assim que a louça começa a se acumular, os pensamentos se encadeiam de forma automática: Meu Deus, como dá trabalho. Quanta coisa. Vou deixar as panelas para amanhã. E então eu organizo a pia e deixo tudo para amanhã.

Se toda ilusão tem um fim, a minha tem três. Durante a semana termina em tapioca. Nos fins de semana, hambúrguer ou pizza. Apesar da lista de compras com indícios de boa vontade, meu forno continua novo e os potinhos vazios. 

Mesmo com esse desempenho triste, de vez em quando a esperança de blogueira fitness ainda vem me visitar. Não quero decepcioná-la. Trocarei o jantar por cerveja, mas já baixei um aplicativo de dieta só pra poder puxar assunto.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...