Falava o nome dele com certo cuidado para não acordar os mortos. Nunca soava muito natural. Falava e logo olhava para si ligeiramente preocupada como quem tivesse mexido onde não devia. Ainda assim, de vez em quando o nome escapava, muito mais por saudade que por distração.
Na frente dos amigos era pior. Viu que com o passar do tempo o assunto tinha virado tabu. No momento em que se pronunciava, logo a mesa virava uma comissão julgadora com olhares de desaprovação. Fazia tempo que a banca tinha chegado ao veredicto de aquele amor não servia.
Ela simplesmente concordava, sem outras considerações. Não era uma forma de encerrar o assunto. Concordava sincera e convictamente, enquanto os amigos reforçavam o alerta. O que ninguém suspeitava é que ela já sabia disso desde o primeiro encontro. Desde o primeiro beijo, desde a primeira vez que se olharam na cama, a paixão veio honesta e sem nenhum senso de utilidade. Aquele amor nunca foi sobre ela e suas necessidades. O amor era sobre ele. Ele e seus interesses inusitados, seus segredos intrigantes, ele e todo o tumulto que o cercava.
Àquela história não se aplicava nenhum critério mais prático. Não era a metade, não era a luva e definitivamente a vida não ficaria mais fácil. Os amigos tinham razão: não servia. Só agora entendia as consequências e talvez fosse por isso que falava o nome dele com o receio de quem ajeita a prateleira mais alta na ponta do pé.
Um movimento em falso e poderia amá-lo novamente.