quinta-feira, 18 de abril de 2013

Muita atenção com as baratas


Minha autoestima depende tanto dos outros que deveria ter outro nome.

Os elogios que eu recebo, os comentários que eu erro, 

tudo isso me coloca tão pra cima ou tão pra baixo que eu chego

a questionar até que ponto o amor próprio depende de mim. 


Admiro muito as pessoas autênticas, que conseguem pedir um favor 

com tranquilidade e se mantêm à vontade nos territórios inóspitos, 

mas esse nunca foi muito o meu caso. 


Me irrito um pouquinho comigo mesma sempre que passo por 

essas lindas que passeiam no shopping no fim da tarde, 

com cabelos perfeitos e vestidinhos esvoaçantes que, 

mesmo se eu tivesse, jamais usaria num shopping. 

Me irrito um pouquinho mais quando reparo que estou 

com as unhas por fazer e que a it-peça do meu guarda-roupa 

são cinco blusinhas da Zara, que eu comprei em diversas cores 

só porque eram muito práticas. 


Apaixonada, então, o negócio complica. 

Preciso fazer um esforço incrível para continuar confiante 

assim que começo a gostar de alguém. 

Admiro no outro as qualidades que eu não tenho 

e logo passo a agir como se não me sobrasse nenhuma. 

A história é sempre a mesma: começo interessante e 

termino me sentindo um biscoito de polvilho. 


Guardadas as devidas proporções, vejo que desenvolvi 

uma relação semelhante a que tenho com baratas

e outros insetos voadores, que exercem sobre mim um poder absurdo. 

Basta que eu os veja para que eles captem toda a minha atenção 

e eu já não consiga fazer mais nada. Apesar da evidente vantagem, 

me sinto incapaz de qualquer atitude e em vez de enfrentar, 

como seria sensato, sou do tipo que abandona o apartamento 

com a roupa do corpo. 


Não deveria ser tão vulnerável. Preciso perder o medo e reverter 

esse tipo de raciocínio que sempre me deixa pra baixo. 

Preciso me lembrar que eu sou mais forte e preciso fazer isso logo,

antes que as baratas descubram e passem a pisar em mim.


10 comentários:

  1. Então, para uma belo fim de semana, eu digo, sinceramente, para ti:

    - Você escreve tão bem que nem precisava ser bonita.

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  2. É, as baratas e outros insetos esvoaçantes estão por toda a parte e, caso não sapateamos sobre elas, ou, pelo menos, consigamos conviver e ignorar, elas nos dominarão.

    E, bom, vc é demais! Por favor, fique se sentindo, você merece! kkkkk...

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    1. É isso aí, Jesyka, a gente tem que se posicionar, né? Senão não teremos a menor chance contra qualquer bicho que voa...
      Muito obrigada pelo elogio : ) Fiquei com medo de que tanta sinceridade me fizesse parecer frágil demais, mas acho que eu só sou humana, como todo mundo : )
      Um beijo e até mais,
      Sarah

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  3. Lembrei do comercial da Dove que esta fazendo tanto sucesso e que me irritou um pouco por demonstrar a fragilidade da autoestima de suas consumidoras e tb por associá-la (a autoestima) com aparência, apenas 1 dos milhares de fatores fundamentais para determiná-la. Pra entender como isso funciona e como precisamos de fato nos manter longe dessa "viagem", dá uma olhadinha nesse post: http://goo.gl/c3Bta

    (...)"objectification theory" is the process by which a societal focus on the female body as object impacts women’s understanding of their own bodies as defined through external characteristics rather than internal cues. Women come to understanding their bodies through the perspective of an outsider rather than through a process of introspective thought. Because of this mind-set, women tend to be more critical of themselves because they are taught to police their bodies." (...)

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    1. Amanda,
      Li o post e agora entendo a tua irritação. O comercial (que achei muito bonito, por sinal) termina com a "lição": "olha como elas estavam erradas..." e eu nem parei para pensar "por que elas se sentem assim?"

      Inteligente, você, amiga. Te amo.

      Beijões : )

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  4. "- Você escreve tão bem que nem precisava ser bonita."

    Bah, esse anônimo disse tudo, Saritcha! =]
    Tenho acompanhado (e admirado) cada vez mais teus escritos.
    Mais uma vez desejo muito sucesso pra ti, sempre, sempre, sempre!

    beijo ;}

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    1. Camila queridíssima, valeu!
      Fiquei super contente de receber um recadinho teu e saiba que eu também te admiro muito.
      Espero que esteja tudo lindo por aí :))
      Um beijão e saudade!

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  5. Ótimo texto.
    Joguemos nossas vulnerabilidades desnecessárias ao vento!

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    1. Isso, Magda... Quando a gente para pra pensar não faz nenhum sentido, né? A vida pode ser tão mais leve....

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