quinta-feira, 11 de abril de 2013

A foto do perfil é mais bonita do que eu


O Whatsapp não tem nada de inocente. 

Descobriu que a falta de atenção me vicia com facilidade e 

agora alimenta minha neurose com o last seen. 

Não quero desmerecê-lo: acho fantástico poder falar com meus amigos

e o fato de ser gratuito torna-o especialmente cativante.

Entretanto, percebi que o que me prende ao aplicativo,

o que faz com que eu o acesse muito mais do que seria saudável,

não são mensagens: são as pausas.

O tempo que separa as conversas que eu tive das que eu gostaria de ter.

A mensagem que é recebida e ecoa sem resposta.

O recado que não chega e me faz pensar: onde é que ele anda?

A falsa sensação de controle sobre a vida alheia, 

que permite adivinhar itinerários, e a angústia de estar sendo ignorada,

às vezes sucessivamente.


Mensagens ilimitadas com custo zero. 

O contexto é tão despretensioso que instiga a dizer coisas

que normalmente não seriam escancaradas.

No universo de quatro polegadas, as relações funcionam diferente,

com intenções mais soltas e fáceis de dissimular.

Por mais pensado que seja, qualquer convite ganha um ar natural

e toda coragem pode ser remediada com um simples hahaha.


Antes as coisas eram mais simples. 

Você escrevia, a pessoa respondia ou não. 

Se não respondesse, sempre haveria o consolo de pensar que

a mensagem não tinha chegado, ou que não tinha sido vista. 

Agora a verdade vem bem mais cruel e você pode surtar

utilizando opções variadas, tais como bloquear, desbloquear e,

por que não, enviar as conversas por e-mail.


Já testei todas essas e algumas outras: deletei os contatos da agenda 

e apaguei o aplicativo para nunca mais voltar. 

Hoje não prometo nada.

Já até desisti de desabilitar o last seen. 

Vi que aceito ser vigiada desde que eu também vigie e 

suporto toda a exposição desde que me considerem. 

Percebi as vantagens da superficialidade e 

e coloquei no meu perfil a minha foto mais bonita.


Como disse no começo,

o Whatsapp não tem nada de inocente.

Que bom, porque eu também não tenho.


13 comentários:

  1. Adoro o Whatsapp. Creio que tenho usado de forma equilibrada. Vale dizer que o custo é (quase) zero. Eles cobram 1 dólar por ano. Texto bacana, parabéns!

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  2. Ahh, eu não sabia desse um dólar. Eu também adoro o Whatsapp, mas, como você pode imaginar, de vez em quando eu surto um pouquinho... Um beijão!

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  3. Tolstói dizia que o desejo é inversamente proporcional a posse.

    Nietzsche dizia que o nosso amor pelo próximo é um desejo imperioso de uma nova propriedade. E que é na fraqueza do outro que nos apoderamos dele.

    Schoppenhauer dizia que o homem jamais se sentirá privado daquilo que jamais desejou, ao passo que irá se sentir profundamente infeliz ao ver negado o seu menor desejo.

    E, pra confundir, Bernard Shaw dizia que enquanto tivermos desejos, teremos motivos para viver.

    Ahhh, sobre o whatsapp ninguém falou nada não...

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    1. hahahahahha... Alguém tinha que tomar uma iniciativa : ))
      Um beijão!

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  4. E eu procurando um jeito de desabilitar o "last seen"... hehe não achei ainda! =/

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    1. Deixa que eu te ajudo:
      Vai nas configurações do Whatsapp, clica em configurações da conversa, depois clica em configurações avançadas e desabilita o last seen. É bem fácil. Difícil é aguentar a curiosidade depois : )
      Um beijão e bom dia!

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  5. Sarah! Meus parabéns seus textos são MUITO bons! Adorei!!!

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    1. Oi Marina,
      A gente enlouquece e mal se dá conta, né? Fico superfeliz de saber que você gostou do texto. MUITO obrigada mesmo. Um beijão e volte sempre ;))

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  6. Cheguei agora no seu blog e estou revirando tudo!!!!! Adorei esse texto sobre o whatsapp, é TUDO VERDADE.

    Mil beijos,

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    1. Valeu, Thaís : ))
      Prazer te conhecer. Fica à vontade pra remexer no que quiser: )
      Um beijão,
      Sarah

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  7. "Já até desisti de desabilitar o last seen. Vi que aceito ser vigiada desde que eu também vigie e
    suporto toda a exposição desde que me considerem. "
    Muito bom! Vc é fantástica!

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  8. Sensacional! como consegue colocar em palavras o que todas nós sentimos? mesmo sem aceitar ou confessar muitas vezes...

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    1. Oi Eliane,

      Que bom que gostou : ) Eu acho que eu sinto parecido com muita gente, mas só paro para escrever... Sempre me ajuda a organizar o que eu estou sentindo ; )

      Um beijo,
      Sarah

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