quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Vou contar um segredo


Me rendi à auto-ajuda. 

Acho que foi culpa da meia-calça. Estava na fila do caixa 

quando a moça da minha frente demorou para decidir se 

queria ¾ ou 7/8. Enquanto ela resolvia esse intrigante conflito

eu me distraí olhando a estante. Tive uma noção real 

do meu nível de vulnerabilidade quando resolvi gastar R$ 19,80

com o livro “O que toda mulher inteligente deve saber”. 

 
Estranhei estar envolvido com plástico, mas entendi logo 

nas primeiras páginas. Meninas inteligentes não compram 

esse livro. É um preconceito atrás do outro.

O resumo era mais ou menos assim: se você quer

estabilidade, procure alguém com emprego estável, 

família sólida, sem muitos sonhos ou ambições.

Que não tenha vícios, que não tenha histórico de traição,

e, essa parte me deixou profundamente chocada,

que não torça pelos bandidos no seriado e jamais

pergunte o valor do couvert.

 
Nenhum desses critérios me pareceu razoável. Nunca escolhi

meus amigos por nada disso. Definitivamente, me imaginar

casada no sofá da sala com um cara que eu jamais amaria

está longe de ser um ideal de sucesso.

Os conselhos são sempre os mesmos: não tente agradar, 

não acredite no que dizem, não se envolva rápido demais, 

não, não, não, não. 


Admito que sou muito ruim nisso tudo e,

lendo todas aquelas recomendações, parei para pensar se não 

estamos apenas sendo mulheres e os caras sendo homens 

como aprendemos a ser. Eles mentindo, a gente chorando,

eles fugindo, a gente esperando, eles pensando neles e

a gente pensando neles também.

 
Porque, ponto de vista masculino, mulheres são mesmo 

muito assustadoras: elas podem querer cozinhar pra você,

ser legais com você e até chegar ao cúmulo de esperar que 

você cumpra o que disse. E essa é a hora de fugir.

Nada mais ameaçador que uma mulher com expectativas. 

Elas ficam furiosas quando descobrem mentiras.

Elas choram e infernizam por puro divertimento.

 
Muito doidas essas mulheres. 

Desequilibradas e carentes. Neuróticas, pegajosas, chatas.

Deviam ser presas todas essas que se preocupam com unhas 

e lingeries antes de uma data especial, que fazem surpresas

no aniversário. Bronzeamento e beijo de boa noite estão na lista

dos crimes inafiançáveis. 


Melhor não dar confiança.  Logo logo, quando você menos espera

elas já descobriram a sua senha e vasculharam todo o seu

passado amoroso. Começam a implicar com os furos das camisetas 

preferidas e, maliciosamente, darão outras novas de presente. 

Insensíveis, jamais entenderão a relevância do Campeonato 

Brasileiro e do sagrado futebol de quinta à noite. 

Em pouco tempo, vão exigir sua presença nos casamentos 

de todas aquelas primas sob a falsa alegação de que 

não querem ir sozinhas, mesmo quando todo mundo sabe que

a família inteira vai. 
 

E como são subversivas. 

Logo ficam amigas das outras namoradas 

da turma e passam a trabalhar pela conspiração,

procurando pistas e conferindo versões.

Perigosíssimas elas com aquele vocabulário ambíguo

 e tantas perguntas tendenciosas.
 

E ainda querem ser compreendidas. 

E ainda querem ser amadas. 

E ainda se acham no direito de reclamar quando 

o cara nunca mais aparece. E quando isso acontece ficam 

tão desesperadas a ponto de comprar um livro sabidamente 

horrível só pra procurar algum consolo, como se universo 

masculino fosse um grande enigma a ser desvendado. 


Dissimuladas demais para encarar toda a verdade,

preferem colocar a culpa numa inocente meia-calça.


9 comentários:

  1. O que posso dizer? Seus textos sao incriveis!

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    1. Muito obrigada, Giovana! Acho que o jeito é parar com o mimimi e começar a achar engraçado... porque se for parar pra pensar ninguém se salva : ))
      Um beijão,
      Sarah

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  2. kkkkkkkkkk muito bom seu ponto de vista masculino, me diverti.

    Parabéns, é minha primeira visita ao seu blog (e tive a mesma ideia que você, comecei pelos 9 +) e já adorei o jeito que escreve :)

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    Respostas
    1. Oi Laísa! Que ótimo que você gostou. Eu sempre brinco que a vida inspira... é bem melhor a gente levar na brincadeira!
      Um beijão,
      Sarah

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  3. Excelente! Também já comprei esse livro, kkkkk

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  4. Oi Sarah! Sou escritor também e um dos teus primeiros fãs (antes até do que o LF Veríssimo. rsrs). Você tem razão. Tenho vários casos engraçados como este, só que pelo nosso ponto de vista.
    Mais sucesso!

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  5. Poxa Sarah! precisa vestir a pele dos homens e dar tanto tapa na cara de nós mulheres...bem desse jeito mesmo! que possamos deixar de mimimi e viver, ser feliz, não julgar ou subjulgar...pois a guerra do sexo, sempre existiu, existe e não deixará de existir

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