quinta-feira, 6 de setembro de 2012

O pijama ela não esperava.


Bateu na porta do banheiro e ofereceu um pijama.

Ela riu da ingenuidade.

Eram mais de cinco da manhã e, pelo valor da comanda,

era provável que ela já não fizesse muito sentido.

Estava consciente, entretanto, a ponto de perceber

que perderia boa parte do encanto assim que

trocasse seu adorável vestidinho preto

pelo tão pouco charmoso pijama bege, 

apesar de todo o conforto.


Fazia menos de 15 minutos que tinham chegado na

casa dele, com risos bem largos e passos menos firmes.

Vieram empurrados por aquela onda invisível que 

carrega os que se descobriram feitos um pro outro 

depois da terceira dose de vodka.


Durante a festa, a ordem dos fatores foi violentamente ignorada. 

A dança veio antes do nome, que veio depois do beijo, 

que veio sem avisar. Nenhum dos dois reclamou. 

Ficaram nessa até a última música, foram de mão para

a fila do caixa e pegaram o mesmo taxi.


Ela deveria ter saltado antes, mas ele a convidou para ficar.

“Só para dormir” foi a condição.


A origem do aviso não era pudor. 

Apenas sabia-se bem o suficiente para evitar angústias

já conhecidas. Dispensava a aflição de esperar pelo 

telefone que não toca e sentir pesar, com o passar 

dos dias, a certeza de ter sido precipitada, 

porém compreensivelmente, taxada de vulgar.


Decidiu que estaria satisfeita com um boa noite 

falado bem baixinho e aceitou a proposta. 

Mesmo antes de saltar do taxi, 

já presumia o que estava por vir.

Esperava que ele simulasse estar apaixonado, 

esperava que ele tentasse sexo, esperava que ele insistisse. 


Só não esperava o pijama.


Agradeceu a oferta, voltou pra cama e, pelo menos 

naquela madrugada, cumpriu o que foi combinado.


Passaria as próximas 52 noites sem nenhum pijama com ele.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...