domingo, 12 de janeiro de 2014

200 noites iguais

Fui a um show semana passada. Era numa balada antiga, que só não parece mais velha porque de vez em quando muda de nome. A noite foi um flashback atrás do outro. Reparei que, na minha cabeça, as centenas de festas que fui agora parecem uma só. Pode ser que seja o efeito do passar do tempo, mas é provável que o excesso de cubas com coca light tenha ajudado um pouquinho.

***

Me vejo no carro, com mais três amigas, levo um copo grande que será esquecido em algum lugar. O caminho sempre tem fila, mas isso quase nunca é problema. A gente se distrai com a música, com as conversas da noite de ontem, dividimos chicletes e expectativas. Me vejo chegando animada, retoco um gloss bem brilhante, afundo meus saltos enormes no estacionamento. Na porta tem fila de novo: a gente espera, se empurra e entra. Vejo os bonitinhos do colégio, os disponíveis que se aglomeram na saída do banheiro. Comprar qualquer coisa é sempre uma guerra. Contida pelo balcão, ataco o garçom com a ficha de vodka e reparto o refri no copo de alguém. Os pés ficam pretos, o liso se arma, o lápis vira borrão em volta do olho. Ricocheteio feliz pela night, amiga de quem eu nem conheço, concluo coisas importantes falando comigo no espelho. Hoje, olhando de fora, eu vejo uma saia curta e uma solidão disfarçada, eu vejo uma alegria sincera e um desejo constante de companhia, eu vejo a invencibilidade dos meus quase vinte, eu vejo uma leveza que eu não tenho mais.

Enquanto eu me distraio com as minhas lembranças, percebo que um casalzinho se beija atrás de mim. É daqueles beijos bem lambidos, que hoje a gente não daria em público. A empolgação é tão urgente que é possível que se conheçam há uns 20 minutos. Considerando todo o contexto, decido que é hora de ir. Saio antes do fim da festa, o que antes era uma afronta, sem muita vontade de voltar no tempo. Boa parte das coisas que eu gostava tanto hoje me dá uma preguiça...


6 comentários:

  1. Sensibilidade à flor da pele. Texto que sacode o espírito, que faz acender a chama da mudança, que nos convida a experimentar o novo sob nova perspectiva. Belo texto, como sempre... Parabéns, Sarah

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  2. Era muito legal sair na balada loucamente, era muito bom e fica melhor se deixar no "era" pq agora me da uma preguiça.... hahaha sempre bom, querida!

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    1. Se eu tivesse falado contigo, acho que este seria o fim do texto. Bem melhor deixar no "Era", Regi...

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  3. Já sei onde fostes! (rs) Esse negócio dos disponíveis na saída do banheiro é inacreditável... Todo mundo vai no banheiro alguma hora, por isso é um ótimo ponto de encontro fedorento! alou??

    Fora isto ... já tentou imaginar a balada ideal para alguém de 30?

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    1. kkk, sempre tem um corredor dos desesperados perto da porta. Você chega apertada e eles querendo puxar assunto...ninguém merece. Putz, pergunta difícil Gabi. Não sei... Aqui em SP tem uns barzinhos mais alternativos que são legais, mas quase não tenho saído por aqui...

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