sábado, 6 de março de 2010

Sobre a beleza que se esquece


Hoje eu entrei em um castelo do qual eu jamais vou conseguir lembrar. Mesmo que eu veja as fotos, minha cabeça não tem a calma daqueles campos secos, o brilho dos tetos folheados a ouro, a nostalgia das janelas úmidas. Teria que voltar para saber. Vou guardá-lo em mim como uma construção perfeita e uma felicidade inespecífica. Será, na minha memória, um lindo castelo, mas nunca tão lindo quanto ele realmente é. Não tão lindo quanto foi hoje.


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Eu vejo a beleza como uma experiência. A beleza do novo é a surpresa do deslumbramento, o prazer de tocar o impossível até senti-lo concreto e coerente. É deparar-se com o que nunca foi vivido e sentir o inédito se transformar em lembrança. Mais que na impressão visual, a beleza está na revelação.


E é por isso que as crianças conseguem se admirar com mariposas comuns e os primeiros beijos são bonitos. Não se trata de uma questão de simetria, mas de ponto de vista. Enquanto os adultos veem asas marrons, as crianças se maravilham com a possibilidade de voar. No beijo, conta a emoção de ver a insegurança dando lugar à descoberta e frio na barriga.


* A foto é o teto do castelo Alcázar de Segóvia.



Um comentário:

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