quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Para nós que estamos no meio do caminho

Minha ideia de Austrália era uma capa de caderno dos anos noventa. Pessoas loiras de pele bronzeada, olhos aquáticos em algum cenário de praia. Imaginei a Austrália pelas conversas que ouvi: na minha cabeça isso era um verão sem fim. 
Fazia um calor abafado em são Paulo quando decidi que eu vinha. Eu tinha pedido demissão e agora passava os dias enfornada no meu apartamento de um quarto trabalhando de freelancer.Aprender inglês foi motivo que me trouxe, ou pelo menos o mais fácil de explicar. Dentro de mim, acordava e dormia comigo uma sensação de agora ou nunca. Eu queria uma emoção, uma estreia, uma aventura. Viver qualquer coisa que valesse a pena ser contada ou que pelo menos não pudesse ser tão facilmente esquecida.
Ninguém jamais vai escrever isso numa carta para a imigração, mas um intercâmbio é uma maneira elegante de dizer: licença, preciso ir. E foi assim, sem muita explicação, que eu me retirei. Vendi toda mobilia cuidadosamente escolhida sem nenhum apego. Distribuí as almofadas entre as amigas do prédio. Deixei uns sapatos num brechó perto de casa. Despachei um computador pra Belo Horizonte e quatro malas pra Florianópolis. Só não cancelei a Net porque não consegui.
Na tentativa de minimizar a despedida, disse“‘até breve“. Contei nos dedos pros meus sobrinhos os meses que eu demoraria pra voltar, abracei meus irmãos, deixei minha mãe incubida de doar as roupas que eu sempre me esqueço.
Cheguei em Sydney, e era só até aí que eu tinha programado. O que veio depois foi surpresa.
Agora já faz mais de um ano e eu acredito que passei tanto tempo quieta porque ainda não sei o que concluir. Queria um final definitivo e vibrante, mas na vida real os capítulos não são assim tão claros. Se eu postasse as fotos dos lugares bonitos que visitei, talvez vocês tivessem a impressão de que está tudo resolvido. Não está. Nesse mundo de comidas fotogênicas, eu queria dividir o provisório, queria dizer eu entendo, eu queria dar um abraço nos que perderam a confiança em si mesmo e repetir, sem nenhuma ciência, que persitir é tão importante quanto deixar. Estamos todos juntos no meio do caminho. O que eu tenho percebido, depois de tanto conflito, é que a vida não entrega o que a gente pede. Mas pode ser que o futuro venha muito mais feliz por causa disso.

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