terça-feira, 29 de maio de 2018

Sarah Westphal não tem sanduíche skills.



“Tentar se encontrar.” Procuro no Google. Como é em inglês? A tradução vem errado. Vamos tentar se encontrar? Assim errado não. Não era isso que eu queria. Penso numa caixa de achados e perdidos. Não existem dois tipos de coisa. Todos os achados são perdidos. Todos os perdidos são achados. Eu devo estar nessa caixa.

Peguei um avião e voltei 8 anos. Parei no lugar mais bonito que eu já vi, dentro de uma rotina que já foi minha. Voltei a dividir casa, a procurar emprego, voltei para a aula de inglês. Da primeira vez que estive fora, acabei ficando só dois meses. Não queria atrasar a faculdade, como se fosse fazer diferença. So agora vejo que eu era nova demais para entender que eu não era velha.

Dessa vez, quero ficar mais tempo. Espero que eu consiga interagir como uma pessoa adulta em uma reunião. Espero não ficar ligeiramente assustada quando alguém me apresenta um amigo estrangeiro. Espero conseguir ser eu mesma sem o português. E olha que o Português é tanto.

Ontem tive minha primeira experiencia de trabalho aqui. Era pra ajudar num restaurante de café da manhã. Não havia nenhum romance. Guardar os pães. Dobrar as caixas. Espalhar molho, ajeitar cebolas caramelizadas, certificar que toda extensão da Ciabbata estava plenamente revestida por duas camadas de peito de frango pálido. Mexer-se rápida e cuidadosamente em corredor frenético. Estava confiante até que sujei o sal de maionese. Dai fui limpar e sujei a luva. Foi então que reparei um fio loiríssimo, dançando sensualmente na minha blusa preta.

Precisei sair. Tirei a luva. Enquanto me espremia para passar pelo balcão do caixa, dei de cara com um cliente. O bar tinha aberto e eu nem sabia. Era só o começo. Na volta, esbarrei na prateleira. Quase chutei o baldinho das facas. Olga, a garçonete russa, notou minha saída sorrateira. O sotaque é carregado, mas eu entendo. “Essa metade é desse pão?” Uma baguete desquitada me incrimina. Troquei os pares de lugar para conseguir alcançá-los melhor. Digo que sim. Ela responde: “Porque eles são diferentes. Voce sabe.”

Não, Olga, eu não sei.

A dona me pergunta me apresenta uma folha bem fina e pergunta se eu já enrolei um sanduíche. Nunca. Penso na minha vida profissional. Muita experiencia com folhas, mas com cozinha nada. Duas horas depois, eu estou dispensada. O gerente fala comigo fluentemente, foi enganado pelo meu nome. Digo que sou brasileira, enquanto ele anota meu telephone no papel. Lembro que eu havia levado um currículo, mas acho mais prudente deixar assim. O essencial ele sabe: Sarah Westphal não tem sanduíche skills.

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