sexta-feira, 19 de julho de 2013

Nada demais

Um amigo me mostrou uma foto. 

Ele pequenininho e o avô em cima de uma pedra. 

Era uma dessas fotos antigas absurdamente expressivas. 

Comentei que eles não estavam virados para a câmera 

e ele me explicou que deviam estar olhando para a vista.

Achei coerente. Pensei em todas as minhas fotos 

e me dei conta do quanto são artificiais. 

Geralmente a paisagem ou qualquer coisa que devesse ser admirada 

ocupa o plano de fundo, enquanto eu sorrio 

com a minha cara de foto, igual desde os treze anos.

A pose é treinada: inclino o rosto, 

cuido para não fechar demais o olho, 

e abro a boca um pouquinho para não ficar tão redonda. 

Esse tem sido o meu check in antes de inventarem o check in. 

Um documento pré-formatado para mostrar que eu realmente estive ali. 

Quero parecer feliz e acabo parecendo 

alguém que mistura ansiolíticos e remédios de emagrecer. 

Não dou nenhuma chance para me fotografarem mais naturalmente. 

Quero me ver assim, bonita e dura, 

enquanto guardo a ilusão de que ninguém nunca me viu mastigando.


6 comentários:

  1. Sabe, Sarah, há uns dias tiraram uma foto minha com os gêmeos se divertindo em cima de uma pedra. Quando olhei na câmera, me culpei por ter estragado a foto. hahaha
    Falei para os presentes num tom de brincadeira - mas com um pouco de amargura - "pow, não tenho nenhuma foto decente com meus filhos".
    E agora lendo teu post fico até triste por pensar desse jeito. Quantas vezes perdi a chance de registrar um momento único por me julgar pouco fotogênica (ou bem feia mesmo auiehauiehu).
    Quer saber? Daqui pra frente vou me fotografar duas vezes antes de posar. ;p

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    1. Camila querida,
      Tenho certeza que, quando o Álvaro e o Gregório olharem essas fotos daqui a uns anos, eles vão te achar linda. Primeiro porque te conheço e sei que é verdade. Segundo porque quando o momento é bonito, a foto é bonita. E também tem outra: daqui a uns anos a gente vai se achar tão cafona e tão jovem que é um desperdício descriminar uma foto só porque um olho abriu mais que o outro. Se tudo der certo, ainda riremos muito com elas. Eu espero , )
      Um beijão!
      Sarah

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  2. Nossa, Sarah. Você fala dentro da minha mente. Sempre percebi essa nossa obsessão em estar sempre olhando e sorrindo para as fotos. Gosto mesmo é das coisas naturais, sair com cara d bêbado ou com a boca torta por estar falando, é quase que um prêmio por mostrar que estamos sendo quem somos.

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    1. Isso mesmo, Felipe... tenho milhões de fotos iguais e sei que daqui a um tempo vou sentir falta por não ter registros de quem eu era. Que bom que você já valoriza as coisas mais naturais. São bem melhores mesmo, mais engraçadas e bem mais verdadeiras.
      Um beijão,
      Sarah

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  3. Sarah, querida...
    Nesta época em que se tira foto do reflexo no espelho, parando para analisar, realmente, as fotos em que aparecemos sem querer são as melhores.
    Que diferença entre as fotos antigas e atuais!

    Beijo.

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    1. É, Paulo, outro dia eu estava pensando sobre as minhas "autofotos" e, mesmo nos momentos em que estou me sentindo bem feliz, acho que a mensagem que transparece é da falta de companhia. Vi que as minhas autofotos são momentos em que eu estou tão sozinha que preciso dividir com alguém.

      Um beijão,
      Sarah

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