quinta-feira, 18 de abril de 2002

Quase


Ainda pior que a convicção do não ou a incerteza

do talvez é a desilusão de um quase. É o quase que

 me incomoda, que me entristece, que me mata

trazendo tudo que poderia ter sido e não foi.

Quem quase ganhou ainda joga,

quem quase passou estuda,

quem quase morreu está vivo,

quem quase amou não amou.

Basta pensar nas oportunidades que escaparam

pelos dedos, nas chances que se perdem por medo,

nas ideias que nunca sairão do papel

por essa maldita mania de viver no outono.



Pergunto-me, às vezes, o que nos leva a escolher

uma vida morna; ou melhor não pergunto, contesto.

A resposta eu sei de cór. Está estampada na distância

dos sorrisos, na frouxidão dos abraços, na indiferença

dos "Bom dia", meio que sussurrados.

Sobra covardia e falta coragem até para ser feliz.


A paixão queima, o amor enlouquece, o desejo trai.

Talvez esses fossem bons motivos para decidir,

entre a alegria e a dor, sentir nada, mas não são.

Se a virtude estivesse mesmo no meio termo,

o mar não teria ondas, os dias seriam nublados

e o arco-íris em tons de cinza.

O nada não ilumina, não inspira,

não aflige nem acalma,

apenas amplia o vazio que cada um traz dentro de si.



Não é que fé mova montanhas, nem que todas as estrelas

estejam ao alcance. Para as coisas que não podem ser mudadas

resta-nos contentamento e paciência, porém

preferir a derrota prévia à dúvida da vitória é

desperdiçar a oportunidade de merecer.

Pros erros há perdão; pros fracassos, chance;

pros amores impossíveis, tempo.


De nada adianta cercar um coração vazio ou economizar alma.

Um romance cujo fim é instantâneo e indolor não é romance.

Não deixe que a saudade sufoque, que a rotina acomode,

que o medo impeça de tentar.

Desconfie do destino e acredite em você.

Gaste mais horas realizando que sonhando, fazendo que planejando,

vivendo que esperando porque,

embora quem quase morre esteja vivo,

quem quase vive já morreu.



*** Este texto foi postado em janeiro de 2013. Até este dia, o Quase
nunca tinha sido publicado por mim. Preferi colocar a data real em que
 eu escrevi porque, na verdade, tudo começou por causa dele.

11 comentários:

  1. O texto que mudou a minha vida há anos, mas que mesmo assim não me impediu de entrar pra área das exatas. Mas de qualquer forma,me tornei um escritor, de vida ou de preenchimento de espaço, é o que pretendo após ser o que preciso. Esse foi o texto que mudou minha vida.

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    1. Oi Felipe,
      Que legal saber disso. Sempre digo que ele mudou a minha também. Hoje trabalho como redatora e posso garantir a você que ninguém precisa de autorização ou diploma para escrever por prazer. Acho que o mais importante é não perder o hábito. Digo isso por um motivo muito óbvio: quanto mais você escreve, mais você escreve.

      Um beijão e até mais,
      Sarah

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  2. Curioso é como este texto é capaz de entrelaçar diversas histórias e pessoas. Tanto o conteúdo do mesmo, quanto a "trama" que ele percorreu até ser reconhecido como de sua autoria.

    Desde a primeira vez que o li (não lembro exatamente, mas chutaria meados de 2005) eu já questionava os powerpoints dos emails e a suposta autoria dos textos. Na epoca eu não investiguei o "Quase", mas obviamente fiquei impressionado com a qualidade e não "duvidei" do fato dele ser do Verissimo.

    Muitos anos depois fui descobrir por acaso que a minha "vizinha" de sala no trabalho era a verdadeira autora deste excelente texto.

    Os "acasos" da vida são sensacionais...

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    1. Oi Vinícius,
      Muito obrigada : ) Até hoje não entendo o que inspirou alguém a achar que o texto poderia ser do Luis Fernando Verissimo, mas, no fim das contas, toda a repercussão foi muito boa para mim. Fico muito feliz que o texto tenha feito sentido para tanta gente e que tenha me ajudado a mudar de curso também.
      Concordo com você. Os acasos são mesmo sensacionais...
      Um beijão,
      Sarah

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  3. Gente, o texto é maravilhoso! Mas como alguem pode um dia achar que este estilo teria alguma chance de ser do Verissimo??? Isso é o que sempre mais me intrigou! Mas de qualquer forma o acaso mostrou ao mundo quem é Sarah...que bom!

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    1. Olha, Giovana, isso até hoje é um mistério para mim também...De qualquer forma, a história teve um final feliz. Acho que o texto deu a volta no Brasil inteiro pra voltar pra mim e me mostrar que eu deveria continuar acreditando. Sou muito agradecida a todas as pessoas que gostaram ou encaminharam esse texto : ) Mudaram a minha vida, com certeza...
      Um beijão!

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  4. Hoje me falaram sobre você e me falaram do QUASE. Embora eu houvera lido em algum lugar, pude perceber só agora a grandeza disso tudo. Também escrevo e também tenho um blog pelo blogspot, mas não a conhecia. Parabéns. Parabéns mesmo.

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    1. Oi, Paulo,
      Muito prazer e muito obrigada pelo comentário.
      Podemos trocar figurinhas : )
      Um beijo,
      Sarah

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  5. Oi Sarah, Vi esse texto a alguns anos na internet e só agora descobri que ele era seu. Isso só confirma o que te disse ontem, não poupe o mundo do seu talento. Estaremos aqui aguardando mais um pouquinho de você.
    um beijo

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  6. Olá Sarah!
    De fato, em acordo com o post a cima, você não deve poupar o mundo do seu talento!
    Presencio há uns 5 anos a leitura do texto “O quase” por pacientes e alunos. Já testemunhei choro, tomadas de decisão, insights , “redecisões” importantes.
    Estes versos tem a força de “sacolejar” quem está em cima do muro, e convidar o leitor a tomar as rédeas da vida. Este é o poder destas palavras, significativa para muitos e devo-lhe confessar... um divisor de águas para mim também!
    Obrigada por sua generosidade em compartilhar o seu talento e parabéns!

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  7. Este texto é tão bom e fico feliz que tenha um significado tão especial a ti que o escreveu, assim como para todos nós que apreciamos esta leitura tão agradável!! Este texto tem sim mudado a vida de muita gente desde 2002 até agora e certamente não será esquecido com o passar dos anos e ainda vai mudar a vida de muita gente - pra melhor! :)

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