segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Pega, que o dia é teu.


É a sua vez, e ninguém vai vir avisar. Temos que partir dessa perspectiva. Não haverá uma chamada em voz alta, uma batidinha no ombro no meio da multidão. Só não digo que existe uma vida linda esperando lá fora porque a vida não espera. Ela flui.

Por mais que nos aconselhem, ninguém pode decidir por nós e é bastante provável que os que mais nos amem tentem desestimular. Toda mudança é incerta e gente tem mesmo essa mania estranha de querer poupar o que mais gosta. Vale para os nossos sapatos, vale para os nossos amigos.

Eu era bem pequena quando descobri que brilho tinha a ver com liberdade. Numa noite de verão, me pus a caçar vagalumes. Guardei-os dentro de uma bolsinha. No meu raciocínio de criança, o efeito seria lindo. Na manhã seguinte, acordei ansiosa pelas luzes, mas todos haviam morrido. Entendi que expectativas erradas agridem e até o que a gente vê como muito seguro pode ser uma ameaça.

Seguir o tal instinto parece ser uma boa opção e é uma pena que gastemos tanto tempo desaprendendo a confiar nele. Nossos exercícios no colégio previam cálculos até para atravessar a rua. Devíamos considerar a velocidade do carro, a distância da calçada, a aceleração. Enchíamos os papéis de contas, tentando explicar para a cabeça o que ela não precisava. Descobrir se dá para atravessar é simples: você para, olha e sabe.

Por algum motivo, a resposta mais óbvia nunca é suficiente. E, como numa prova dissertativa, a gente vem justificando tudo, racionalizando tudo, tentando desenhar para os outros porque um holerite já não nos completa. Na correria do dia a dia, esquecemos que todo pensamento é um segredo e que paraíso é uma noção particular.

Foi promovido? A empresa cresceu? Noivou? Casou? E o apartamento? As pessoas nos cobram velocidade, mas ninguém pergunta se o caminho em que estamos leva para onde a gente quer. Nessa ânsia por movimento, há que se tomar cuidado pra não pegar o metrô pro lado inverso. A cada minuto que passa, a volta fica mais difícil.

Quando as dúvidas aparecem, a gente implora por um sinal. Negligenciamos o nosso descontentamento como se esse embrulho interior não significasse nada. Terceirizamos as decisões importantes ignorando o privilégio de elas serem nossas. Por um falso conforto, abdicamos do nosso poder de simplificar as coisas.

Não é mais isso? Ok. Assume, aceita, faz a volta. Tenta até conseguir e se já não aguenta para. Há quem veja como loucura, mas entendo como bom senso: já que terminaremos todos do mesmo jeito, que ao menos a nossa vida seja mais original.







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