terça-feira, 7 de junho de 2016

Corredor Xing Ling – Sobre redes sociais e desconexões


A utilidade das redes sociais depende da maturidade de quem as usa. No meu caso, zero. Fiquei três dias sem Facebook. Não foi autocontrole. Escrevi uma senha de olho fechado, copiei num e-mail que quase não uso e importunei meus amigos com um papo de alcoólatras anônimos. A parte chocante: não me fez falta. Quando vi que conseguia ficar longe voltei, como todo bom viciado.

Tenho tido algumas dúvidas incômodas ultimamente. Será que algum namorado agressivo repensou sua conduta com nossos posts sobre estupro? Será quem protestou pelo impeachment entendeu a gravidade da palavra pacto? É importante que todo mundo tenha a sua voz. É importante dar volume a assuntos que merecem a nossa atenção, mas fico na dúvida se não estamos todos falando para quem já concorda, se estamos mesmo debatendo alguma coisa ou só gritando sem escutar.

Não sei avaliar o quanto a nossa energia está sendo bem usada. Apesar de tanto contato, eu vejo desconexões. Criamos um tempo paralelo, de novidades sem pausa, e alcançamos a capacidade de concentração de um peixe. Diluímos a informação em notícia, manchete, tweet e sabemos nada sobre muita coisa. Desbloqueamos o celular 150 vezes por dia e falamos o tempo todo sobre nós mesmos.

Imaginei um Facebook físico e a cena me deixou desconfortável. Num corredor Xing Ling, estamos cada um na própria barraquinha, com nossas fotos penduradas, opiniões na moldura, chamando todo mundo para dar uma olhada. O preço é sempre o tempo. Há tendas que juntam mais gente, assuntos que viram tema, mas, como todo comércio, a gente só compra o que quer.

Nem sempre. Tem dias que eu volto cheia de pacotinhos de dor. Com raiva de opiniões absurdas, com vontade de ter o que eu não tenho, com muitos julgamentos apressados que me fazem gostar menos de alguns amigos. Como é tudo muito rápido e as coisas boas se misturam, normalmente eu não percebo quando incluo um peso que ainda não sei absorver.

Sinto que preciso ficar mais atenta: separar melhor o que é desejo do que é frustração, o que é expectativa do que me gera ansiedade, entender se mostrando meu ponto de vista ou só cultivando a minha intolerância. O risco do conteúdo customizado é esse rompimento. Se perdermos a capacidade de ouvir, perderemos a capacidade de nos comunicar.

Ficaremos muito sozinhos.



2 comentários:

  1. Alguns cartuns do Andre Dahmer falam um pouco sobre essa cultura das redes sociais.

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