quinta-feira, 14 de abril de 2016

Eu poderia ligar, mas preferi mandar mensagem.


Não foi o preço. Não foi o barulho. Não foi a falta de tempo. Depois de tantos anos de comunicação planejada, a verdade é que eu desaprendi a falar no telefone. Hoje se alguém me liga eu me assusto. É hospital? É dinheiro? Se tudo bem, por que ligou? Parece que toda ligação requer justificativa. Tirando a minha mãe e os funcionários de operadora que atendo frequentemente, é como se existisse um pacto: ou a gente se encontra ou você me deixa pensar.

Prefiro não correr o risco de ser surpreendida. Tenho substituído o nervosismo das ligações de aniversário por cômodas mensagens de voz. Não é falta de amor. Pra mim, a espontaneidade virou um esforço. Quero ter a liberdade de descartar o áudio no primeiro silêncio de dúvida. Quero poder reescrever a palavra para me mostrar mais sensata. Quero ter o conforto de não ser interrompida. Uma sequência de exclamações não exprime o meu espanto. Uma fila de emoticons não expressa nenhuma dor. É nessas meias mensagens que eu me sinto mais segura.

Quando paro para pensar nos conselhos que já recebi, “não fale com estranhos” foi, de longe, o mais ignorado. Sou de uma geração que adora estranhos. Eu curto estranhos, compartilho estranhos, guardo, na minha timeline, uma quantidade significativa de gente que eu nunca vi, mas considero meu amigo.

Problema são os conhecidos. Tenho falado pouco com gente que eu gosto muito e percebi que abaixo meu rosto quando alguém entra no elevador. Se tiver celular, olho para tela. Se não tiver, olho pro chão. O silêncio me dá agonia, mas não é tão terrível quanto puxar um assunto. Como não sei ir muito além do boa noite, melhor fingir que estou bem ocupada.

Se, para alguns, a internet é uma janela, para mim é um esconderijo.
É nesse esconderijo que eu encontro todo mundo.



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão.

Ontem eu achei um emprego. Hoje eu pedi demissão. Vou explicar o motivo para que vocês se saiam melhor do que eu. Desemprego mata a aut...