segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

#olhapramim


Ontem quis postar uma foto. A única hashtag que me soou verdadeira foi #precisodeelogio. Poderia incluir outras, mas nenhuma seria tão animada quanto as que costumam frequentar minha timeline. Depois de umas 15 poses, achei meu sorriso duro. Como poderia ficar mesmo natural, se não tinha nenhuma graça?

Talvez pra quem visse tinha. Estava eu toda esticada tentando acertar o enquadramento com a câmera de trás. Prendendo a respiração, torcendo o braço, focada na expressão leventente sensual. Ao ver o resultado, a distância entre o que eu tinha imaginado e o que eu via era tanta que eu me senti numa aula de zumba. Foi como quando penso que estou rebolando e aí olho no espelho. Nem o Valência salvou. Decidi usar o meu filtro: pensei que qualquer um que quisesse se martirizar podia ligar a TV no Zorra Total e resolvi não postar. 

Não havia nada memorável e, pensando bem, tinha até uma parte triste. Por trás de cada selfie, alguém ri para um visor de telefone. Não para um cachorro na rua, uma piada ou um escorregão. Parece que o mundo anda meio invertido. Antes o motivo vinha primeiro. Não tinha isso de rir sem se alegrar. Agora a gente conhece antes de ver e posta antes de provar. Do jeito que as coisas vão, não me surpreenderia se inventassem um restaurante especializado em comida fotogênica.

Desde que a vida mudou pra internet, a nossa fome é de atenção.

3 comentários:

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